Diversão e Arte

Em Random access memories, Daft Punk propõe crítica ao cenário musical

Tendo como referência elementos dos anos 1970 e 1980, duo francês propõe "humanização" da música eletrônica

Correio Braziliense
postado em 23/05/2013 06:05 / atualizado em 30/09/2021 09:06

O novo álbum do Daft Punk, Random access memories (Ram), é uma crítica ao cenário eletrônico contemporâneo, feita de maneira elegante e inovadora. Sem ataques gratuitos ou entrevistas polêmicas, Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter clamam pela humanização da música. O duo francês em 13 faixas propõem uma revisão, inspirada nos anos 1970 e 1980, da era robotizada, focada produções carregadas de barulhos. E a intenção dos “robôs” fica clara logo na primeira faixa do álbum: Get life back to the music. A sonoridade orgânica, que é a tônica de todo o álbum, aqui se faz presente, a guitarra marcante de Nile Rodgers é o principal elemento. Essa provocação, no entanto, não significa que o eletrônico não está presente. Ele está, mas de uma forma em que caminha junto do talento de músicos e cantores. Passe o mouse sobre a imagem e veja informações sobre o Daft Punk:

Desde a pré-produção do disco, essa preocupação com uma sonoridade mais humana se fez presente. O duo gravou nos melhores estúdios e se preocupou com os detalhes de tudo, como a escolha dos microfones de captação. Isso tudo para apontar a seguinte falha no cenário: a falta de singularidade. Na era das produções pasteurizadas e homogêneas, o Daft Punk propõe uma volta à época em que as faixas tinha assinatura, em que os produtores tinham marcas próprias. Tendo como referência elementos dos anos 1970 e 1980, duo francês propõe O DJ e produtor Diplo, que trabalha com estrelas como Britney Spears, foi um dos que sentiu a crítica. Apesar de afirmar que Ram é bom, o americano defendeu, via Facebook, o estilo atacado pelos franceses. "Esse álbum é pra quem gosta de curtir a brisa passeando com seu cachorrinho enquanto fuma um cigarro em Malibu. Eu não curto. Não preciso do Daft Punk pra lembrar da minha idade e de que ainda gosto de fazer muito barulho”, afirmou. Lose yourself to dance e Get Lucky, as duas faixas com vocais de Pharrell Williams, mantêm essa pegada. Eletrônicas, porém centradas no elemento humano. Em outras palavras, são faixas que usam a lingagem das “batidas por minuto” de forma complementar com instrumentos, e não como algo que surgiu de cliques em um computador. O ápice dessa pegada pode ser vista Giorgio by Moroder, uma homenagem ao produtor Giorgio Moroder. É verdade que a música é longa e que não é uma das melhores de Ram, mas a faixa é construída sobre batidas leves, uma extensa introdução, solos de guitarra e os sons de orquestra, dando a tônica do que o CD traz. “Uma vez que você liberta sua mente dos conceitos de harmonia e da ‘música ser correta’ você pode fazer o que bem entende”, diz o produtor durante a música. Outras faixas que merecem destaque são Fragments of time, com Todd Edwards, e Doin’ it right, com Panda Bear. A última é um eletropop marcado pelo experimentalismo de Noah Lennox, membro do Animal Collective. Beyond e Motherboard têm como característica principal os arranjos, que impressionam pela qualidade. Se a cultura pop cada vez mais se baseia em lançamentos efêmeros, explosões de sucesso que somem em minutos. Ram tenta fazer o caminho contrário e construir um álbum que aposta na qualidade, no trabalho árduo, na identidade de uma dupla que desde os anos 1990 é uma tendência para a música. Porém, sem “hits de pistas”, corre um risco: ser sucesso de crítica e fracasso de público. Mas, isso parece um risco calculado, pois os robôs já estão em primeiro lugar na lista de vendas da iTunes.

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