O cineasta pernambucano Claudio Assis é conhecido pelas opiniões fortes. Invariavelmente, Assis é visto esbravejando contra o governo, o mercado audiovisual, a crítica cinematográfica e alguns colegas cineastas. Nessas situações, diz palavrões como se estivesse na intimidade com amigos, aumenta o tom de voz e exibe o dedo em riste. O lado low profile do cineasta apreciador de mulheres e de poesia é pouco visto ou lembrado. Na verdade, é convenientemente pouco explorado pelos jornais. Portanto, foi de muita surpresa o lirismo apresentado pelo cineasta em Febre do rato, um libelo desenhado em fotografia preto e branco sobre poesia marginal, ganhador do prêmio principal em ficção no extinto Paulínia Festival de Cinema.
O último filme do polemista de Pernambuco foi lançado nos cinemas, no ano passado, e nunca entrou no circuito exibidor de Brasília por razões que a própria razão desconhece (a relação de Assis com o público de Brasília é longeva, com registro de picos de histeria em sessões do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro). Lançado durante o Cine PE ; Festival do Audiovisual, o DVD de Febre do rato, alcançou as lojas de todo o Brasil este mês. Irandhir Santos é o poeta marginal, Zizo. Trabalhando em oficina rudimentar, publica sozinhho o tablóide Febre do rato, com o qual enfrenta a polícia, os poderosos e encontra sua Eneida (Nanda Costa), igualmente excluída e segregada, a mulher-musa do poeta. No elenco, participam ainda os brasilienses Mariana Nunes e Juliano Cazarré, como um grupo de invasores de prédios abandonados. O ;ator fetiche; de Claudio, Matheus Nachtergaele, renova a parceria com o diretor desde o polêmico e ultraviolento Baixio das bestas (2006).