Caroline Maria
postado em 15/06/2013 12:06
Luciana Paes é atriz, formada em um dos centros mais prestigiosos do país, a Escola de Arte Dramática de São Paulo. Indicada a vários prêmios de atuação, integra a Cia. Hiato, talvez o grupo mais comentado do teatro na atualidade. Apesar disso, foi pela internet que se tornou massivamente conhecida, desde que postou um vídeo caseiro chamado Plimplimplomplom. Em pouco mais de 2 minutos, troça de um combo de artistas: Mallu Magalhães, Clarice Falcão e A Banda Mais Bonita da Cidade, tendo atingido, rapidamente, 211 mil visualizações. Disfarçada de fofinha, aos moldes das jovens cantoras, não soa ofensiva, mas extremamente ácida. Diretamente na ferida dos novos destaques da MPB.
Em nenhum momento, a intenção era produzir um viral. ;Era um teste para um programa de humor, como são muitas das coisas do canal. Eu não sei acionar essas ferramentas de privacidade. Para você ter uma ideia, meu e-mail é hotmail;, caçoa. No vídeo, improvisa uma canção em três acordes, com frases simples intercaladas pela onomatopeia plimplimplomplom. ;Eu canto baixinho, mas me visto bem / tenho dificuldade com as notas longa (sic) / e quando não consigo eu boto mais ar / plimplimplomplom;, diz, no que chama de comentário musicado.
Despretensão
O impacto do visual caseiro apaga os vídeos pretensiosos e inflama os de criação genuína. Para o bem ou para o mal, a repercussão não passa despercebida, deflagrando o limite frágil que separa verdade e ficção. ;No teatro, tem ali um compartilhar de presenças e até uma certa hegemonia do ator sobre a plateia. Na internet, é o contrário, você vira objeto do que as pessoas acham, há uma volta à Idade Média, idolatria ou tomates;, observa Luciana.
Em cartaz com o espetáculo Ficção, da Cia. Hiato, fala das fronteiras entre fantasia, realidade, originalidade e cópia. De interpretação precisa, seu monólogo é um dos destaques, e ela desponta com carisma e força em cena. No entanto, foi Plimplimplomplom que deu o estalo: para atingir um público de 211 mil pessoas, teria que apresentar Ficção cerca de 2.635 vezes. Intimista, a peça recebe uma média de 80 espectadores por sessão.
;Amigos próximos começaram a compartilhar, até que entrou no Não Salvo, site de humor do (Maurício) Cid, acessado por milhões de internautas.; Foi ele quem alavancou outras dezenas de vídeos considerados toscos, mas potencialmente engraçados, muito pelo caráter espontâneo do conteúdo: Para nossa alegria, Nissim Ourfali, Ah Lelek Lek Lek Lek Lek e Avassaladores são apenas alguns. Esse último, do jovem carioca conhecido como Vitinho Sou Foda, marca 12 milhões de visualizações e, em 2012, foi a quarta música mais executada em shows do Brasil. Apenas com direitos autorais, informa o Ecad, ganha 8 mil por mês.
Aqueles que viralizam sem precedentes costumam contar com o empurrão de um grande blog ou de uma personalidade, e têm nas redes sociais o principal agente. Foi o caso de Redemoinho (SWIRL), analisado publicamente por Caetano Veloso: ;Nunca recebi tantos comentários de leitores desta coluna (pelo visto são mais do que 17) como quando saiu o artigo em que falei do Redemoinho, o vídeo doméstico que me pareceu maravilhoso no YouTube;, constatou.
"Na internet, você vira objeto do que as pessoas acham, há uma volta à Idade Média, idolatria ou tomates;
Luciana Paes, atriz
Outros catapultados
Ah Lelek Lek Lek Lek Lek
Visualizações: 36.399.523
Como índice de popularidade, além do número assombroso de visualizações, o funk do MC Federado & Os Leleks ; Passinho do Volante teve a coreografia imitada por Neymar em campo e foi escolhida
para a campanha da Mercedez Classe A.
As vergonhas do Facebook! KKKKKKKKKKK
Visualizações: 3.127.514
Luane Dias postou dois vídeos que estouraram, contendo comentários desbocados sobre comportamentos no Facebook e dicas de maquiagem. Com o plano fechado no rosto e os gigantes óculos espelhados, foi convidada por Regina Casé para ser comentarista do programa Esquenta!
Para nossa alegria
Visualizações: 28.040.223
O vídeo foi enviado para Maurício Cid, do blog Não Salvo, pelos vizinhos de Jefferson, Suellen e Mara, protagonistas do Para nossa alegria. Depois de postado, explodiu. Com um violão e um sorriso congelado no rosto, eles desafinam a canção evangélica Galhos secos, da banda Êxodos.
Vitinho (Os Avassaladores)
Visualizações: 12.895.211
Com clipe gravado no melhor estilo fundo verde (Chroma Key), a música Sou foda, do jovem funkeiro Vitinho, aproveitou a onda de sucesso e hoje recebe pelo menos 8 mil por mês por direitos autorais. O hit foi o quarto mais tocado em shows do Brasil.
Em nenhum momento, a intenção era produzir um viral. ;Era um teste para um programa de humor, como são muitas das coisas do canal. Eu não sei acionar essas ferramentas de privacidade. Para você ter uma ideia, meu e-mail é hotmail;, caçoa. No vídeo, improvisa uma canção em três acordes, com frases simples intercaladas pela onomatopeia plimplimplomplom. ;Eu canto baixinho, mas me visto bem / tenho dificuldade com as notas longa (sic) / e quando não consigo eu boto mais ar / plimplimplomplom;, diz, no que chama de comentário musicado.
Despretensão
O impacto do visual caseiro apaga os vídeos pretensiosos e inflama os de criação genuína. Para o bem ou para o mal, a repercussão não passa despercebida, deflagrando o limite frágil que separa verdade e ficção. ;No teatro, tem ali um compartilhar de presenças e até uma certa hegemonia do ator sobre a plateia. Na internet, é o contrário, você vira objeto do que as pessoas acham, há uma volta à Idade Média, idolatria ou tomates;, observa Luciana.
Em cartaz com o espetáculo Ficção, da Cia. Hiato, fala das fronteiras entre fantasia, realidade, originalidade e cópia. De interpretação precisa, seu monólogo é um dos destaques, e ela desponta com carisma e força em cena. No entanto, foi Plimplimplomplom que deu o estalo: para atingir um público de 211 mil pessoas, teria que apresentar Ficção cerca de 2.635 vezes. Intimista, a peça recebe uma média de 80 espectadores por sessão.
;Amigos próximos começaram a compartilhar, até que entrou no Não Salvo, site de humor do (Maurício) Cid, acessado por milhões de internautas.; Foi ele quem alavancou outras dezenas de vídeos considerados toscos, mas potencialmente engraçados, muito pelo caráter espontâneo do conteúdo: Para nossa alegria, Nissim Ourfali, Ah Lelek Lek Lek Lek Lek e Avassaladores são apenas alguns. Esse último, do jovem carioca conhecido como Vitinho Sou Foda, marca 12 milhões de visualizações e, em 2012, foi a quarta música mais executada em shows do Brasil. Apenas com direitos autorais, informa o Ecad, ganha 8 mil por mês.
Aqueles que viralizam sem precedentes costumam contar com o empurrão de um grande blog ou de uma personalidade, e têm nas redes sociais o principal agente. Foi o caso de Redemoinho (SWIRL), analisado publicamente por Caetano Veloso: ;Nunca recebi tantos comentários de leitores desta coluna (pelo visto são mais do que 17) como quando saiu o artigo em que falei do Redemoinho, o vídeo doméstico que me pareceu maravilhoso no YouTube;, constatou.
"Na internet, você vira objeto do que as pessoas acham, há uma volta à Idade Média, idolatria ou tomates;
Luciana Paes, atriz
Outros catapultados
Ah Lelek Lek Lek Lek Lek
Visualizações: 36.399.523
Como índice de popularidade, além do número assombroso de visualizações, o funk do MC Federado & Os Leleks ; Passinho do Volante teve a coreografia imitada por Neymar em campo e foi escolhida
para a campanha da Mercedez Classe A.
As vergonhas do Facebook! KKKKKKKKKKK
Visualizações: 3.127.514
Luane Dias postou dois vídeos que estouraram, contendo comentários desbocados sobre comportamentos no Facebook e dicas de maquiagem. Com o plano fechado no rosto e os gigantes óculos espelhados, foi convidada por Regina Casé para ser comentarista do programa Esquenta!
Para nossa alegria
Visualizações: 28.040.223
O vídeo foi enviado para Maurício Cid, do blog Não Salvo, pelos vizinhos de Jefferson, Suellen e Mara, protagonistas do Para nossa alegria. Depois de postado, explodiu. Com um violão e um sorriso congelado no rosto, eles desafinam a canção evangélica Galhos secos, da banda Êxodos.
Vitinho (Os Avassaladores)
Visualizações: 12.895.211
Com clipe gravado no melhor estilo fundo verde (Chroma Key), a música Sou foda, do jovem funkeiro Vitinho, aproveitou a onda de sucesso e hoje recebe pelo menos 8 mil por mês por direitos autorais. O hit foi o quarto mais tocado em shows do Brasil.
Assista ao vídeo Plimplimplomplom
[VIDEO1]
- Confira entrevista com a atriz Luciana Paes, da Cia. Hiato, autora do vídeo Plimplimplomplom
Correio Braziliense ; O visual do vídeo é bem caseiro e despretensioso. Muita gente confundiu a Luciana com a personagem? Luciana Paes ; Muitas! Eu tive que explicar às pessoas, muitas não entendem que sou atriz. Uma loucura. No começo, falo sobre Prêmio Multishow de Música e as pessoas acham mesmo que é um prêmio, não prestam atenção na ironia. Por um lado, achei legal, né, o maior elogio para um ator é achar que ele não está atuando. Por outro, é engraçado, porque a internet dá sempre a sensação de que tudo é íntimo e pessoal. O teatro é uma proteção e a gente fica até tentando quebrar isso, que é o que a gente faz em Ficção (peça da Cia. Hiato), ficar tentando confundir o público, se o que estão vendo é um personagem ou o ator mesmo. Esse choro é real ou construído? É uma ação espontânea ou marcada, e ela faz isso toda noite?
CB ; E como você percebeu que havia se tornado um viral?
LP ; Foi muito louco isso, não sei quem dos meus amigos achou e foi compartilhando com os mais próximos. Não sei se você deu uma olhada no canal, mas fico brincando com aquelas máscaras virtuais, para me divertir mesmo, e postar testes. Agora existe isso. Teste para uma série, você está longe? Posta no YouTube. Às vezes, você vai melhor assim do que com um monte de gente assistindo. Enfim, um dia acordo e está lá, ;Luciana Paes gênia; e eu sem entender. Até que entrou no Não Salvo, site do (Maurício) Cid. Postei muitos testes abertos e não sabia acionar essas ferramentas de privacidade. Para você ter uma ideia, o meu email é hotmail (risos).
CB ; A postagem no blog Não Salvo alavancou o número de visualizações. Se você pudesse mandar um recado para o Cid, qual seria?
LP ; Valeu, Cid! Agora milhares de pessoas acham que eu sou um travesti! (Risos) Tem esses comentários, né? Bom, se eu ganhar algum dinheiro, te chamo pra jantar!
CB ; Você cogita seguir o caminho da música?
LP ; Já cogitei, sim! Pensei nesse estilo. As minhas revoltas se manifestam muito em forma de música. Uma vez, fiz uma música para um cara que ficou me devendo 500 reais. Tem várias assim, sempre que fico puta, eu canto (risos). Dessa vez, não. Eu estava me divertindo.
CB ; Você tem trabalhos variados como atriz, mas a comédia é seu carro-chefe?
LP ; Sempre fui cõmica, tenho uma cara engraçada, mas fugi disso, fiz Escola de Arte Dramática (EAD/USP) e tive que ser dramática, fazer Medeia (risos). Mas eu sei que, se quero ganhar dinheiro, é com comédia. Tenho dúvidas se consigo ser humorista. Não gosto dessa coisa de ter que falar mal dos outros. Engraçado, porque minha letra é acida pra caralho. Mas em um lugar que é ácido e genérico. Eu acho o ser humano tosco. Eu me acho tosca. Quem escreve todos os comentários são uma tosquice. A vida é um projeto que, no melhor dos casos, você termina cagado. A nossa condição é patética.
CB ; O que você tem achado da repercussão?
LP ; Divertido, acho que é um teste interessante, porque tem essa relação do feedback das pessoas na internet. No teatro, tem ali um compartilhar de presenças, e até uma certa hegemonia do ator sobre a plateia. Na internet, é o contrário, você vira objeto do que as pessoas acham, volta à Idade Média, idolatria ou tomates. Comentários do tipo: ;Eu quero que essa vaca morra!”, ;Essa puta não dá nem para A Praça É Nossa!” (risos).
CB ; E você reagiu bem?
LP ; No começo, dei uma passada mal com esses negativos, mas acho que isso está dentro das pessoas, a gente só não tem acesso a essas pessoas que são corajosas atrás de um nome. E se eu sou atriz, faz parte também ser uma pessoa pública, é um bom treinamento. Agora, isso só vai virar alguma coisa pra mim se eu quiser continuar com esse canal. Aí tem que dar uma melhorada, tem que pensar melhor sobre o que fazer;
CB ; Pode ser que venham novos vídeos?
LP ; Sim, sim. Mas, se tem uma coisa que esse me revelou, é que sou mais ácida do que imaginava. Sou libriana e quero que as pessoas que me amem. Isso não combina com ser humorista (risos). Seja o que Deus quiser. Mas não quero só ficar tomando xoxada na internet, vamos ver no que isso se converte.
CB ; Você previa que muitas pessoas se identificariam com o conteúdo do vídeo?
LP ; Eu não sabia que essa música era tão política, mas de alguma maneira isso fez um eco. É um comentário musicado, fez um eco louco. Eu não pensei na Mallu Magalhães, por exemplo. Estava num intervalo de uma filmagem, e o filme é um musical (Ópera do Cemitério, de Juliana Rojas). Aí, nesse filme, canto muito agudinho. E eu nunca me reconheço quando canto agudo. Eu também não me considero uma cantora, me considero uma atriz que canta. Para ser cantor, você precisa ter identidade musical. Acho que a Clarice Falcão e a Mallu Magalhães criaram uma identidade musical. Só que isso gera um eco em outras pessoas que não são conhecidas e vão na onda. De alguma maneira, eu legitimo isso. Muitas pessoas me apoiavam, ;é isso mesmo, foda-se a Clarice;.
CB ; E isso não bate com sua opinião.
LP ; De jeito nenhum. Quero que sejam ricas, vendam CD;s, pra mim está ótimo elas vivas, com coração batendo e felizes. Não me usem como escudo desse odio. Essa é a relacao que acontece quando você vira objeto. Eu não disse isso. Eu fiz três acordes lá no piano e pensei ;nossa, parece muitos essas músicas;. Aí comecou a sair uma letra, foi improvisado. Até o plimplimplomplom foi um dos atores do filme, um senhor que estava lá e eu disse, ;faz um barulhinho aí;. E ele fez plimplimplomplom. É isso, não fiz pensando em ninguém. Acho bastante válido o trabalho delas.
CB ; Mas Mallu e Clarice são ou não são plimplimplomplom, afinal?
LP ; (risos) Acho que são, mas com mais conteúdo. Conheço a Mallu Magalhães, tenho amigos na música. Não tinha o interesse de xoxar a Mallu (risos). Admiro a Clarice Falcão, que também é roteirista. Não conheço tanto do trabalho delas, para ser sincera. Isso é um genérico, são coisas que você pesca. Sempre tem uma mina cantando meio em francês, sempre tem um coro, mais ou menos assim. Esse bolsão. Mas o meu lugar está mais nesse do Para nossa alegria, claro, em menores proporções. É um mini-viral. Tenho consciência das coisas idiotas que faço, também sou um Para nossa alegria, as pessoas tem essa falsa intenção de que eu sei o que estou fazendo. Não tenho tanta compreensão.
CB ; Você comentou que queria revelar um pouco a estrutura da própria música em Plimplimplomplom;
LP ; No Ficção, a gente usa muito essa relação de revelar a estrutura do teatro. Tem uma hora assim: falo mal do meu pai, o que seria uma coisa muito dura de ele ouvir. Logo em seguida, eu falo: ;meu pai veio hoje;. Rola um suspense. ;Vocês sabem que meu pai não veio hoje, mas se ele tivesse vindo, eu teria que falar, porque isso está no texto;. Porque a gente constrange publicamente as pessoas que a gente ama. Essas revelações que os atores estão dispostos a fazer para entreter as pessoas, para conseguir que as pessoas olhem pra gente. O vídeo também tem esse lugar de revelar. Toda música tem uma parte a, uma parte b. E plimplimplomplom tem duas coisas: uma é a música, outra é a personagem precária apresentando essa música.
CB ; O que mais você estava criticando ali?
LP ; Eu estava pensando nisso. Eu estou criticando a gente, eu acho. Eu, paulista, desgraçada, correndo de um lugar pro outro, sem qualidade nenhuma de vida, comprando esses CD;s que a vida parece ótima, andando nos Jardins, solos de ukelelês, com muitos amigos. Eu até tenho muitos amigos, mas não consigo falar com nenhum, toda atolada, tentando marcar um café com um amigo pra conversar. Essa distância que existe entre a nossa vida real e esse lugar romantizado que essas músicas propõem. A publicidade usa muito esse formato do plimplimplomplom. Sou formada em publicidade na ESPM, além da EAD Uso um pouco dessa noção.
CB ; Você escolheu antes a publicidade ou as artês cênicas?
LP ; Publicidade, a faculdade que as pessoas que querem mexer com arte fazem quando não tem coragem. Tem muitos artistas que vão pra publicidade porque ficam com medo de tentar artes. Mas eu sou uma workaholic absurda. Quando saí da EAD, eu falei: ;vou viver disso, caralho!”. Sempre fiz 1 milhão de coisas, tipo cinco infantis ao mesmo tempo, fora as peças adultas.
CB ; E os planos da companhia por agora?
LP ; A Cia. Hiato está começando a fazer o novo projeto, talvez até estreie fora do Brasil primeiro. O Ficção faz parte desse projeto, não era pra ser uma peça solta. É um estudo para essas duas ficções, um projeto bem maior, mais pessoas. Esse novo projeto volta para um formato mais grandioso, na linha de O jardim. Talvez saia este ano ainda. A gente está meio sem saber da grana ainda. Este ano ou ano que vem.
Correio Braziliense ; O visual do vídeo é bem caseiro e despretensioso. Muita gente confundiu a Luciana com a personagem? Luciana Paes ; Muitas! Eu tive que explicar às pessoas, muitas não entendem que sou atriz. Uma loucura. No começo, falo sobre Prêmio Multishow de Música e as pessoas acham mesmo que é um prêmio, não prestam atenção na ironia. Por um lado, achei legal, né, o maior elogio para um ator é achar que ele não está atuando. Por outro, é engraçado, porque a internet dá sempre a sensação de que tudo é íntimo e pessoal. O teatro é uma proteção e a gente fica até tentando quebrar isso, que é o que a gente faz em Ficção (peça da Cia. Hiato), ficar tentando confundir o público, se o que estão vendo é um personagem ou o ator mesmo. Esse choro é real ou construído? É uma ação espontânea ou marcada, e ela faz isso toda noite?
CB ; E como você percebeu que havia se tornado um viral?
LP ; Foi muito louco isso, não sei quem dos meus amigos achou e foi compartilhando com os mais próximos. Não sei se você deu uma olhada no canal, mas fico brincando com aquelas máscaras virtuais, para me divertir mesmo, e postar testes. Agora existe isso. Teste para uma série, você está longe? Posta no YouTube. Às vezes, você vai melhor assim do que com um monte de gente assistindo. Enfim, um dia acordo e está lá, ;Luciana Paes gênia; e eu sem entender. Até que entrou no Não Salvo, site do (Maurício) Cid. Postei muitos testes abertos e não sabia acionar essas ferramentas de privacidade. Para você ter uma ideia, o meu email é hotmail (risos).
CB ; A postagem no blog Não Salvo alavancou o número de visualizações. Se você pudesse mandar um recado para o Cid, qual seria?
LP ; Valeu, Cid! Agora milhares de pessoas acham que eu sou um travesti! (Risos) Tem esses comentários, né? Bom, se eu ganhar algum dinheiro, te chamo pra jantar!
CB ; Você cogita seguir o caminho da música?
LP ; Já cogitei, sim! Pensei nesse estilo. As minhas revoltas se manifestam muito em forma de música. Uma vez, fiz uma música para um cara que ficou me devendo 500 reais. Tem várias assim, sempre que fico puta, eu canto (risos). Dessa vez, não. Eu estava me divertindo.
CB ; Você tem trabalhos variados como atriz, mas a comédia é seu carro-chefe?
LP ; Sempre fui cõmica, tenho uma cara engraçada, mas fugi disso, fiz Escola de Arte Dramática (EAD/USP) e tive que ser dramática, fazer Medeia (risos). Mas eu sei que, se quero ganhar dinheiro, é com comédia. Tenho dúvidas se consigo ser humorista. Não gosto dessa coisa de ter que falar mal dos outros. Engraçado, porque minha letra é acida pra caralho. Mas em um lugar que é ácido e genérico. Eu acho o ser humano tosco. Eu me acho tosca. Quem escreve todos os comentários são uma tosquice. A vida é um projeto que, no melhor dos casos, você termina cagado. A nossa condição é patética.
CB ; O que você tem achado da repercussão?
LP ; Divertido, acho que é um teste interessante, porque tem essa relação do feedback das pessoas na internet. No teatro, tem ali um compartilhar de presenças, e até uma certa hegemonia do ator sobre a plateia. Na internet, é o contrário, você vira objeto do que as pessoas acham, volta à Idade Média, idolatria ou tomates. Comentários do tipo: ;Eu quero que essa vaca morra!”, ;Essa puta não dá nem para A Praça É Nossa!” (risos).
CB ; E você reagiu bem?
LP ; No começo, dei uma passada mal com esses negativos, mas acho que isso está dentro das pessoas, a gente só não tem acesso a essas pessoas que são corajosas atrás de um nome. E se eu sou atriz, faz parte também ser uma pessoa pública, é um bom treinamento. Agora, isso só vai virar alguma coisa pra mim se eu quiser continuar com esse canal. Aí tem que dar uma melhorada, tem que pensar melhor sobre o que fazer;
CB ; Pode ser que venham novos vídeos?
LP ; Sim, sim. Mas, se tem uma coisa que esse me revelou, é que sou mais ácida do que imaginava. Sou libriana e quero que as pessoas que me amem. Isso não combina com ser humorista (risos). Seja o que Deus quiser. Mas não quero só ficar tomando xoxada na internet, vamos ver no que isso se converte.
CB ; Você previa que muitas pessoas se identificariam com o conteúdo do vídeo?
LP ; Eu não sabia que essa música era tão política, mas de alguma maneira isso fez um eco. É um comentário musicado, fez um eco louco. Eu não pensei na Mallu Magalhães, por exemplo. Estava num intervalo de uma filmagem, e o filme é um musical (Ópera do Cemitério, de Juliana Rojas). Aí, nesse filme, canto muito agudinho. E eu nunca me reconheço quando canto agudo. Eu também não me considero uma cantora, me considero uma atriz que canta. Para ser cantor, você precisa ter identidade musical. Acho que a Clarice Falcão e a Mallu Magalhães criaram uma identidade musical. Só que isso gera um eco em outras pessoas que não são conhecidas e vão na onda. De alguma maneira, eu legitimo isso. Muitas pessoas me apoiavam, ;é isso mesmo, foda-se a Clarice;.
CB ; E isso não bate com sua opinião.
LP ; De jeito nenhum. Quero que sejam ricas, vendam CD;s, pra mim está ótimo elas vivas, com coração batendo e felizes. Não me usem como escudo desse odio. Essa é a relacao que acontece quando você vira objeto. Eu não disse isso. Eu fiz três acordes lá no piano e pensei ;nossa, parece muitos essas músicas;. Aí comecou a sair uma letra, foi improvisado. Até o plimplimplomplom foi um dos atores do filme, um senhor que estava lá e eu disse, ;faz um barulhinho aí;. E ele fez plimplimplomplom. É isso, não fiz pensando em ninguém. Acho bastante válido o trabalho delas.
CB ; Mas Mallu e Clarice são ou não são plimplimplomplom, afinal?
LP ; (risos) Acho que são, mas com mais conteúdo. Conheço a Mallu Magalhães, tenho amigos na música. Não tinha o interesse de xoxar a Mallu (risos). Admiro a Clarice Falcão, que também é roteirista. Não conheço tanto do trabalho delas, para ser sincera. Isso é um genérico, são coisas que você pesca. Sempre tem uma mina cantando meio em francês, sempre tem um coro, mais ou menos assim. Esse bolsão. Mas o meu lugar está mais nesse do Para nossa alegria, claro, em menores proporções. É um mini-viral. Tenho consciência das coisas idiotas que faço, também sou um Para nossa alegria, as pessoas tem essa falsa intenção de que eu sei o que estou fazendo. Não tenho tanta compreensão.
CB ; Você comentou que queria revelar um pouco a estrutura da própria música em Plimplimplomplom;
LP ; No Ficção, a gente usa muito essa relação de revelar a estrutura do teatro. Tem uma hora assim: falo mal do meu pai, o que seria uma coisa muito dura de ele ouvir. Logo em seguida, eu falo: ;meu pai veio hoje;. Rola um suspense. ;Vocês sabem que meu pai não veio hoje, mas se ele tivesse vindo, eu teria que falar, porque isso está no texto;. Porque a gente constrange publicamente as pessoas que a gente ama. Essas revelações que os atores estão dispostos a fazer para entreter as pessoas, para conseguir que as pessoas olhem pra gente. O vídeo também tem esse lugar de revelar. Toda música tem uma parte a, uma parte b. E plimplimplomplom tem duas coisas: uma é a música, outra é a personagem precária apresentando essa música.
CB ; O que mais você estava criticando ali?
LP ; Eu estava pensando nisso. Eu estou criticando a gente, eu acho. Eu, paulista, desgraçada, correndo de um lugar pro outro, sem qualidade nenhuma de vida, comprando esses CD;s que a vida parece ótima, andando nos Jardins, solos de ukelelês, com muitos amigos. Eu até tenho muitos amigos, mas não consigo falar com nenhum, toda atolada, tentando marcar um café com um amigo pra conversar. Essa distância que existe entre a nossa vida real e esse lugar romantizado que essas músicas propõem. A publicidade usa muito esse formato do plimplimplomplom. Sou formada em publicidade na ESPM, além da EAD Uso um pouco dessa noção.
CB ; Você escolheu antes a publicidade ou as artês cênicas?
LP ; Publicidade, a faculdade que as pessoas que querem mexer com arte fazem quando não tem coragem. Tem muitos artistas que vão pra publicidade porque ficam com medo de tentar artes. Mas eu sou uma workaholic absurda. Quando saí da EAD, eu falei: ;vou viver disso, caralho!”. Sempre fiz 1 milhão de coisas, tipo cinco infantis ao mesmo tempo, fora as peças adultas.
CB ; E os planos da companhia por agora?
LP ; A Cia. Hiato está começando a fazer o novo projeto, talvez até estreie fora do Brasil primeiro. O Ficção faz parte desse projeto, não era pra ser uma peça solta. É um estudo para essas duas ficções, um projeto bem maior, mais pessoas. Esse novo projeto volta para um formato mais grandioso, na linha de O jardim. Talvez saia este ano ainda. A gente está meio sem saber da grana ainda. Este ano ou ano que vem.