Um país rico, mas com péssima distribuição de renda e cidades muito pobres. Um lugar no qual é difícil e caro fazer cinema. Apesar das semelhanças com o Brasil, a China ainda tem mais problemas, pois o governo censura e vigia toda a produção artística. Na segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Brasília (Biff), o evento exibiu na mostra competitiva um tocante filme chinês que retrata um país quase medieval, marcado pela agricultura como principal fonte de renda e pelo retrocesso causado pela pobreza. Voando com a garça foi destaque por mostrar uma história comovente, sem clichês, que levou o público a se identificar com personagens distantes.
O Correio entrevistou o diretor Ruijun Li, que veio ao Brasil especialmente para o Biff. O cineasta, que ri com os olhos, calça tênis All star e veste bata de linho com jaqueta de tactel, dessas para se proteger da chuva, traz a tiracolo uma tradutora chinesa com notável dificuldade para falar português.
Ruijun Li tem 30 anos. Nasceu e cresceu em Gansu, a província de Voando com a garça. O filme é o terceiro trabalho do diretor, que busca retratar o lado mais pobre e ignorado da China. Em seu primeiro filme, ele mostrou a dificuldade de um jovem chinês morador de Pequim encontrar emprego na cidade. No segundo, o cineasta voltou-se para o interior agrário chinês, também cenário de Voando com a garça, e falou sobre o roubo de terras entre agricultores humildes.