Diversão e Arte

Roqueiros comentam onda de protestos que dominam as ruas do Brasil

Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Club, e Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, opinam sobre as passeatas

postado em 06/07/2013 08:00
Nas últimas semanas, o Brasil foi palco de diversas manifestações que pediam melhorias na qualidade de vida. Os roqueitos Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Club, e Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, escreveram músicas sobre as manifestações. Os dois conversaram com o Correio e opinaram sobre os protestos.

Confira as entrevistas:

Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Club, e Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, opinam sobre as passeatasDinho Ouro Preto
Como você viu as manifestações?
Participei do acústico que o CPM 22 tava gravando. Tava saindo da gravação e, voltando pra casa, vi a manifestação. Era um rio de gente, em plena uma segunda-feira (17/6). Eu lembro de ter parado o carro em frente àquela garotada toda que estava passando. Eu pedi para passar porque queria ir para a manifestação, queria pegar minhas filhas. Queria que minha família visse aquilo. Aí os caras foram gente boa e abriram o caminho para eu passar. Fui até em casa, peguei as meninas, deixei o mais novo pois acho que ele ainda não tinha idade, e fomos para a paulista.

Como foi lá?
Ficamos perto do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e vimos uma concentração muito densa de pessoas. Foi muito incrível. As palavras de ordem, os gritos de guerra eram muito engraçados. Por exemplo, "o povo unido é gente pra caramba". Tinha um helicoptero sobrevoado com um feixe de luz, e o pessoal achando que era a polícia e começaram a xingar. Na hora que os caras dos partidos tentaram entrar foram vetados pelas pessoas. Tava um clima super pacífico, tava rolando uma euforia geral. Era impossível ficar indiferente a tudo aquilo. Ficamos lá por cerca de duas horas. Fui pra casa e na terça (18/6) escrevi a música.

E a gravação?
Foi tudo muito rápido. No sábado (22/6) mostrei para a banda e no domingo, depois de um show, nos reuninmos no camarim e registramos tudo. Aquilo ali é o camarim do Capital, tinha acabado de passar os acordes para a banda. A gente pegou um iPad e gravou.

Qual foi sua sensação ao ir à passeata?
A sensação que tive estando lá é que tudo aquilo que eu falo há muito tempo é o que o pessoal está falando agora. Eu tenho um discurso que beira a anarquia. Comecei a anular o meu voto depois do mensalão.i na boca da garotada muita coisa que eu sinto.Foi uma identificação muito profunda. Tenho a impressão de que a galera tava se sentindo como eu. Isso criou uma empatia entre a gente. Essa musica (Viva a revolução) é isso.

Qual o maior ganho do país com as manifestações?
O hábito de ir à rua. Na França, coisas mais prosaicas fazem com que todo mundo vá às ruas. Eu espero que o Brasil passe a ter esse hábito. Antes o povo tinha uma atitude passiva. Você via o governo celebrando o Brasil cmo se vivêssemos na Suécia, e as favelas continuam aí, assim como o salario minimo.

Qual sua análise dos protestos?
A democracia brasileira é jovem e precisa aprender algumas coisa. Esses movimentos apontam para a alternância do poder. Os brasileiros estavam caminhando para a reelieção como algo inevitavel. Mas a essência da democracia é a alternância do poder. Os brasileiros vão aprender a buscar sangue novo.

Qual a reforma mais urgente?
Reforma política é algo importante. Tenho dificuldades em saber como isso pode ser feito em tão pouco tempo.



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Tico Santa Cruz
Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Club, e Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, opinam sobre as passeatasTico, você é um dos cantores mais contestadores da rock brasileiro, na sua opinião, qual a importância dos protestos?
Trabalho dentro de escolas e presidios há varios anos. Tentantamos fazer varias moblizações, mas é muito difícil tirar o povo de casa para cobrar os direitos que eles têm assegurados na Constituição. Foi uma supresa para o ativista mais otimista de todos essa mobilização enorme. Claro que nem todo mundo que estava lá conhecia profundamente as questões políticas. O positivo dessa manifestação é trazer o tema da política para o dia a dia dos brasileiros, nos bares e nas famílias.

Como surgiu a ideia de gravar o clipe junto às manifestações?
Dois dias antes de começarem as manifestações, eu publiquei um video no YouTube só para registrar a letra de Quem é Você?. Esse vídeo repercurtiu de forma muito interessante, com mais de 20 mil likes (no Facebook). É um vídeo simples. Percebi que tinha uma identificação das pessoas com o trabalho. A canção cabe perfeitamente no momento que o país está vivendo agora. Fizemos o trabalho em Brasília. É para as pessoas e os artistas abrirem o leque de assuntos que eles tratam nas músicas. Há quantos anos não vemos uma música de protesto na rádio? Desde a época da Legião, Plebe Rude a gente não vê isso.

Por que Brasília?
A produtora que fez o clipe é de Brasilia e toda a estrutura estava aqui. Quando vimos que estávamos na cidade, decidimos marcar o fato de que o clipe foi gravado na cidade. As bandas de Brasília, não só as de rock, mas o Natiruts também, abordam a política com muita competência. Existe uma identificação (da música) muito grande com as bandas de Brasília.

Na sua opinião, qual são as principais reformas necessárias para o país?
A reforma política que está engavetada nos corredores do Congresso. Na minha opinião, a questão mais emergencial é acabar com o sistema de financiamento privado de campanhas. Isso faz o político trabalhar em prol de interesses de empresários e não do povo. Outra questão são as regalias de foro privelegiado e voto secreto. Essas questões eram importantes na época da ditadura, mas hoje vivemos em uma democracia mais clara. Manter o Estado laico é fundamental. Vemos o crescimento dos evangélicos, que têm todo o direito de representar o povo evangélico, mas não podem interferir na laicidade do Estado. Voto obrigatorio faz os currais eletoriais ficarem mais forte, tem algumas coisas que são muito importantees. O financimanete vc tira uma gatilho que há muito tempo atrapalha o país.

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