Diversão e Arte

Em entrevista, André Miranda fala sobre como é fazer cinema em Brasília

"O Fundo de Apoio à Cultura (FAC) é uma ferramenta fundamental, mas é uma demanda dos artistas durante muitos anos, e não de um governo específico", explica o diretor

Igor Silveira
postado em 14/07/2013 08:07


Quando o cineasta André Miranda, 29 anos, se prepara para falar, a impressão é de que a conversa será caleidoscópica. O olhar inquieto sinaliza que o despojamento não está somente nos cabelos desgrenhados e nos óculos de modelo retrô. Os assuntos surgem desconexos e a conversa parece que ficará sem sentido, mas acaba ganhando liga. Muitas reflexões: o medo da morte, a relação com Deus e a experiência de ser diretor de cinema em uma cidade tão peculiar quanto Brasília. Como um dos diretores do clipe da banda Sexy Fi, Pequeno dicionário das ruas, André Miranda mostra uma cidade crua e cheia de memórias afetivas. É essa a levada que ele imprime em todos os filmes, incluindo os premiados curtas Deus e El cine no muerto.

Você sofre muito antes de filmar?
Um dia antes de filmar, eu sempre tenho insônia. É horrível. Ansiedade e depressão, tudo junto. Você acorda às 4h para pegar o nascer do Sol, mas, antes, já vai dormir com a aquilo na cabeça, de não perder a hora.

Qual dos seus filmes tirou mais o seu sono?
Ódio puro concentrado. Porque eu era a pessoa menos experiente do set. Até meu assistente tinha mais experiência que eu. A gente começava a filmar com atraso, não tinha grana para contratar van, tinha que buscar um e depois o outro para levar para o set. O filme se passava em uma cadeia e a gente não tinha uma cadeia para filmar. Então, pegamos uma loja que meus pais tinham, lá no Guará. Eu dormi duas horas por noite nesse filme, quando dormi.

Como é o processo de montar filme em Brasília? Como é depender do financiamento do governo?

Acho difícil só falar mal e acabar parecendo ingrato. Mas o nosso papel é criticar também. O Fundo de Apoio à Cultura (FAC) é uma ferramenta fundamental, mas é uma demanda dos artistas durante muitos anos, e não de um governo específico. Se um longa metragem custa muito mais de R$ 1 milhão, esse 1 milhão que ele consegue pelo FAC é o marco inicial. O problema disso é que você fica dependente desse meio, que acaba se tornando o único para filmar. Você fica refém de posicionamentos políticos.

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