Diversão e Arte

René Sampaio usou capas do Correio Braziliense para contextualizar filme

O diretor de "Faroeste Caboclo" utilizou as manchetes do jornal para contextualizar as notícias reais com o tempo de prisão de João de Santo Cristo

postado em 17/07/2013 08:20

O diretor de

Sucesso de bilheteria em todo o país, com um público de 1,5 milhão de pessoas, e ainda em cartaz, o filme Faroeste caboclo, do cineasta brasiliense René Sampaio, baseado na música homônima de Renato Russo, conta, em determinado momento, o tempo do protagonista João de Santo Cristo na cadeia e o dia a dia do Brasil à época por intermédio de capas do Correio Braziliense. O atentado do Riocentro; a morte de Glauber Rocha, com Norma Bengell consternada ao lado do caixão; o vice-presidente Aureliano Chaves no comando; o ministro do Superior Tribunal Militar general Dilermano Gomes Monteiro dizendo que democracia dependia de paciência; assaltos a mansões do Lago Norte, que naquele 1981 soavam como distantes e isoladas.

Sampaio conta que recorreu à capas do Correio justamente para marcar o tempo de sua obra. ;Além da tortura e de outros abusos policiais, as manchetes são as únicas referências do período político brasileiro quando Renato Russo escreveu a letra da música;, observa. Ele explica que as capas exibidas na telona são reais. "A gente recorreu ao Centro de Documentação do jorrnal e reimprimiu as páginas."

Na época de Faroeste caboclo, a canção, o país fervia no campo político diante a pressão pela reabertura rumo à democracia. Em 1979, logo ao tomar posse, o então presidente João Baptista Figueiredo sanciona a Lei da Anistia, que permitiu o retorno de muitos exilados ao Brasil - Miguel Arraes, Leonel Brizola, José Dirceu, Fernando Gabeira, Vladimir Palmeira, entre muitos.

O diretor de
A ala mais radical da ditadura reagia, contrária à distensão "lenta e gradual" do regime prometida pelo presidente anterior, Ernesto Geisel. Em 2 de maio de 1981, o jornal que João de Santo Cristo segura entre as grades da prisão estampa em sua primeira página o inquérito aberto pelo Comando do 1; Exército para investigar a explosão das bombas no Riocentro dois dias antes. Os artefatos, conforme descoberto mais tarde, foram obra da linha-dura dos militares - matou o sargento Guilherme Pereira do Rosário e feriram gravemente o capitão Wilson Luiz Chaves Machado.



O artefato seria colocado dentro do edifício, onde um show marcava as comemorações do Dia do Trabalho, mas acabou explodindo por volta das 21h, dentro do carro, no estacionamento do Riocentro. O capitão sobreviveu, chegou a coronel e foi professor no Colégio Militar em Brasília. O objetivo do atentado era culpar setores de esquerda, de forma a tentar levar a ala moderada do governo a recuar no processo de abertura deflagrado dois anos antes.
O diretor de
A iniciativa deu errado e, na música de Renato Russo que inspirou o filme, há uma discreta referência ao episódio "o tempo passa e um dia vem na porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão/ e ele faz uma proposta indecorosa e diz que espera uma resposta/uma resposta de João/ - Não boto bomba em banca de jornal e nem em colégio de criança/ isso eu não faço não/ e não protejo general de 10 estrelas que fica atrás da mesa (;);.

Em 23 de agosto daquele ano, com Santo Cristo ainda preso de jornal na mão, o ministro-general Dilermano Gomes Monteiro, do STM, é destaque ao dizer que ;democracia depende de paciência;, lembrando que o Exército brasileiro é o guardião da lei e da ordem e não uma instituição político-partidária. Na capa, ao centro, uma foto do velório do cineasta Galuber Rocha, falecido aos 42 anos.

Assista ao trailer

[VIDEO1]

O diretor de

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação