Ao lado da cama, bem na cabeceira, Dorival Caymmi mantinha quatro livros: a Bíblia; Dom Quixote, de Miguel de Cervantes; Cândido, ou o otimismo, de Voltaire; e Conservai a mocidade, de Victor Pauchet. Quem conta é a neta do compositor baiano, a jornalista e pesquisadora Stella Caymmi, autora da biografia O mar e o tempo, lançada em 2001. Ela fez entrevistas com o avô, morto em 2008, ao longo de 25 anos, o que resultou em 85 horas de gravações. Parte desse material vem, agora, a público no livro O que é que a baiana tem? - Dorival Caymmi na era do rádio, em que Stella narra, sob a ótica dele, a chegada do artista ao Rio de Janeiro, em 1938, assumindo grande importância na vida cultural do país.
A publicação faz parte de uma contagem regressiva para o centenário de Caymmi, a ser comemorado em 30 de abril de 2014, e que traz à tona outra homenagem familiar: o disco Caymmi, gravado pelos herdeiros Nana, Dori e Danilo. Filha de Nana, primeira neta e confidente de Dorival, a falante Stella conta e cantarola, orgulhosa, que o avô fez uma música para ela, Canção da primeira netinha. Nascida em Caracas e moradora de Copacabana, a doutora em literatura brasileira pela PUC-Rio é autora também de Caymmi e a Bossa Nova, de 2008.
O que é que a baiana tem?, classificado como um ensaio crítico, nasceu como tese de doutorado. A história começa quando Caymmi, sem conseguir emprego em Salvador, muda-se para o Rio com o objetivo de cursar direito. Aproxima-se de jornalistas e pintores, e, só depois, de músicos, como Mário Lago e Braguinha. Logo estreia profissionalmente na Rádio Tupi. O estouro acontece quando Carmem Miranda aparece no filme Banana da terra, de 1938, cantando O que é que a baiana tem?. "Quando ele fica famoso, passa a ser uma pessoa influente como artista e é cortejado por todo mundo: imprensa, governo, esquerda, fãs, compositores;".
Ouça canção do disco Caymmi
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