Diversão e Arte

Festival Locarno impressiona o público com exibição do filme Regiões úmidas

O filme dividiu a opinião de alguns espectadores com a história de uma jovem que tem o orgasmo ligado à defecação

Rui Martins - Especial para o Correio
postado em 12/08/2013 10:13
A apresentadora e escritora do livro <i>Regiões úmidas</i>, Charlotte Roche
Locarno (Suíça)
- O livro Regiões úmidas, da apresentadora de televisão Charlotte Roche, foi o sucesso "literário" do ano 2008, na Alemanha e na Suíça alemã, com milhões de exemplares vendidos. Sua autobiografia real ou imaginária é um autêntico mergulho em tudo quanto é líquido secretado pelo corpo. A vendagem do livro logo sugeriu a idéia de se fazer um filme, dirigido por David Wnendt. O problema era o de achar uma atriz capaz de reviver diante das câmeras a fixação anal da personagem do filme (Helen) e autora do livro, dignas de atenção de um médico especialista proctologista. Ora, a atriz perfeita foi encontrada na Suíça italiana, Carla Iuri, e o filme adaptado do livro satisfaz plenamente a autora da obra original, como declarou no encontro com a crítica.

O filme não pode ser qualificado como pornográfico, embora existam pessoas cuja libido e orgasmo estão ligados à defecação, mas como disse uma jornalista, no encontro do diretor e atores do filme com a imprensa, "é asqueroso e nojento" ou como escreveu um crítico menos severo "um alegre ou engraçado nojo, mais próximo da ironia que da vulgaridade ou baixaria".

Evidentemente, o Festival de Locarno não aceita censura e o fato de vivermos numa sociedade livre autoriza qualquer pessoa ou diretor de cinema a expressar publicamente suas preferências e prazeres pessoais. A coletiva com a imprensa só "esquentou" quando o ator alemão Axel Milberg (pai da jovem Helen) respondendo à jornalista holandesa, que usara a palavra inglesa "disgusting", argumentou ser o filme uma quebra de tabus.

Ao que outro jornalista respondeu dizendo que a atração pelo cocô não é uma questão de tabu mas de retrocesso ou fixação de algumas crianças e adolescentes, ainda numa fase anal. Não se deve confundir todos os tipos de libertação sexual com fixações que se mantêm em certas pessoas, em decorrência de mãe exigente em matéria de higiene corporal, como parece ser o caso relatado no filme.

O telão de Locarno para o grande público
Oito mil cadeiras de plástico, alinhadas diante do telão de quase 300 m2, recebem todas as noites o grande público. Embora também haja filmes que possam ser considerados como "de autor", a grande maioria é o que os americanos chamam de "entertainement".

Alguns desses filmes, destinados a serem sucessos de bilheteria já forma exibidos. É o caso de Wrong Cops, de Quentin Dupieux, uma coprodução francoamericana, sobre policiais corruptos, cúmplices de traficantes, prepotentes e capazes de qualquer roubo ou ato desonesto. Não se trata de um documentário sobre a polícia americana ou brasileira, mas de uma agradável comédia sulfurosa e sem piedade sobre os policiais, acompanhada pela música eletrônica do próprio diretor do filme, extraída do seu novo album Mr. Oizo.

Realmente a luta dos policiais e governo americano contra os traficantes não parece entusiasmar e nem convencer Hollywood. Depois da CIA e o DEA terem sido ridicularizados pelo filme Dose Dupla, na abertura de Locano, e por Wrong Cops, o terceiro filme exibido na Piazza Grande, We;re the Millers é outra gozação desrespeitosa da luta contra o cartel da droga chefiado por traficantes mexicanos.

Essa sequência deve ter alguma razão e talvez esteja ligada à uma desconfiança geral sobre a seriedade da política anti-drogas, provavelmente misturada com corrupção.

O filme acaba de estrear nos EUA e, de acordo com o diretor presente em Locarno, Rawson Thurber, é sucesso de bilheteria principalmente entre os adolescentes. A estreia na Europa deverá ocorrer nas próximas semanas. Thurber não discute a questão da maneira desmoralizadora com que os filmes tratam da política contra os traficantes e explica ter recebido o roteiro do filme pronto de Bob Fisher e outros roteiristas.

"A intenção era de lançar uma comédia envolvendo a ideia de uma falsa família envolvida com a droga, porém de maneira superficial; nada sério. Ao final, existe uma mensagem indireta em favor da família, pois os falsos familiares acabam superando suas divergências e acabam se transformando numa verdadeira família", diz Thurber.

Quanto ao aspecto road film, Thurber explica não terem sido mais fáceis ou mais difíceis as filmagens, pois muitas delas foram feitas também em estúdio. "O objetivo era permitir ao público acompanhar a evolução do filme. Foram utilizadas três caravanas e helicópteros para vistas aéreas".

Sobre a picada de aranha nos testículos do jovem "virgem" Kenny, postada por alguém no Facebook, já houve alguns milhões de cliques. Um dos aspectos mais difíceis da filmagem foi o de reunir os jovens atores em interesses comuns e criar com eles um clima de ajuda e cooperação. Isso foi alcançado e permitiu cerca de 15% de cenas improvisadas, conta o diretor Thurber.

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