Diversão e Arte

Em entrevista exclusiva, Fernanda Montenegro fala dos 60 anos de carreira

A "carioca do subúrbio" ainda encara desafios inéditos, sem esboçar cansaços: "No ano que vem, estreio na direção, com uma obra de Nelson Rodrigues. Estou muito animada"

postado em 01/09/2013 08:00
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Antes de a conversa começar, uma mesa de chá a aguarda. Quitutes, petit fours e doces com a missão de seduzir Fernanda Montenegro. Conseguem. ;Meu filho, vamos tomar um chá antes? Tudo parece ótimo;, convidou. Logo degustava a bebida (escolheu camomila) e saboreava um pequeno croissant. ;Não resisto;, admitiu. Gestos mundanos de uma atriz considerada entidade nacional. Satisfeita, convocou: ;Vamos dar a partida?;

No decorrer da hora seguinte, a artista falou sobre a carreira e se lembrou das seis décadas em cima dos palcos que a tornam a ;dama do teatro brasileiro;. Diverte-se com os títulos que lhe são constantemente atribuídos: ;Me dá uma condição de tombamento. Uma ilusão;, disse, aos risos.

A ;carioca do subúrbio; ainda encara desafios inéditos, sem esboçar cansaços: ;No ano que vem, estreio na direção, com uma obra de Nelson Rodrigues. Estou muito animada;. Na frente do público, as peças talvez ultrapassem 100. Começou em 1950. Na televisão, eternizou personagens desde a estreia, em 1964. No cinema, reina absoluta: a única brasileira indicada ao Oscar.

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Fernanda chega aos 83 anos com sede de trabalho. ;E preciso. Não posso parar;. O reconhecimento público, porém, parece não repercutir no meio profissional: ;O meu salário é o mesmo de uma principiante;. Revelação inusitada de uma artista, cuja consagração transmite uma ideia de conforto. Na intimidade, o tratamento especial prevalece. Enquanto conversava com o Correio no Rio de Janeiro, foi interrompida para receber presentes que chegavam. ;Como vou agradecer a essas pessoas?; perguntava. Um dos cartões, deixado aberto sobre a mesa, dizia: ;Um privilégio tê-la por perto;. De fato.

As pessoas parecem ter criado uma fantasia em torno de você...
Criaram uma fantasia em relação aos artistas em geral. Talvez nem tanto quanto àqueles do teatro, mas principalmente da televisão. A gente aparece na tela e se cria uma ilusão. Mas somos apenas trabalhadores como todos os outros, que, por um acaso, estão ali dando conta de um ofício artístico. O ideal seria que todos recebessem esse tratamento de artista na sua profissão. Os gregos falaram disso.

Esse status de sumidade que lhe é atribuído atrapalha de alguma forma?
Tenho a impressão de que me dá uma condição de ;tombamento; em vida. Uma espécie de lápide: ;Aqui jaz...;. Não é isso. Sabemos que não é isso. Mas querem ver isso. Não vou lutar contra. Não tem como. A não ser que eu parasse de trabalhar. E isso não farei. Enquanto eu puder, vou cuidar dos projetos que me chegam e que passam a ser fundamentais para minha vida.

Falando nisso, devem ser muitos convites para trabalho...

São muitos. E vão muito além do teatro, da televisão e do cinema. São livros que chegam. Editoras que pedem leitura. Palestras, participação em movimentos, paraninfa de turmas, peças de teatro para assistir, lançamentos... É muita ilusão em cima da gente. Em cima dessa persona projetada. Uma demanda de solicitações meio ;malucada;. Como se tivéssemos algum poder...

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