Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Anseio por um trabalho estável é o tema de filme italiano exibido em Veneza

Interpretado pelo humorista Antonio Albanese, o filme dividiu a crítica, com direito a aplausos e vaias na primeira exibição

Veneza - O desejo de um trabalho estável é o tema chave do segundo filme italiano na disputa oficial do Festival de Veneza, "L;intrepido", do veterano cineasta Gianni Amelio, último vencedor italiano do Leão de Ouro, em 1998.

Interpretado pelo humorista Antonio Albanese, em uma mistura de Chaplin e Forrest Gump italiano, pela maneira como une ingenuidade, bondade e otimismo, o filme dividiu a crítica, com direito a aplausos e vaias na primeira exibição.

Ambientado em Milão, uma cidade cinzenta e, em alguns momentos, bela e moderna, com a crise econômica como pano de fundo, o filme narra a vida de um homem de quase 50 anos, disponível para substituir a qualquer momento um funcionário ausente, passando de operário da construção civil a condutor de bonde, de camareiro a vendedor de flores, de bibliotecário a vendedor de sapatos.

Dividido entre o desespero e a esperança, o filme de Amelio pretende ser uma metáfora dos tempos modernos, do peso do trabalho precário, mas com uma mensagem de esperança: os desejos podem ser concretizados.

Como boa parte dos filmes apresentados na 70; edição do festival, que termina sábado, ;L;intrepido; mostra a incerteza a respeito do futuro, no qual o otimismo é uma fantasia e a vida parece ter sempre um sabor amargo.

"Um filme que respira o ar de nosso tempo e que com frequência para com o objetivo de suspirar", definiu Amelio, que participa pela sexta vez no Festival de Veneza, depois de ter exibido, entre outros, "Ladrão de Criança" (1992) e o premiado "Assim Eles Riam" (1998).



Separado da mulher, que tem uma vida cômoda com o novo companheiro, Albanese, no papel de Antonio Pane, é um pai solitário que vive sem meta precisa, nutre esperanças pelo filho saxofonista, uma relação que descreve as profundas mudanças na família italiana tradicional, a distância cultural e social entre paie e filho, fio condutor de quase todos os filmes de Amelio.

Um belo solo de sax no final alivia a tristeza e permite imaginar um "final feliz". "Meu filme é um hino ao homem digno", resume Amelio sem temer críticas.

A realidade sobre a nova guerra dos EUA em documentário de Errol Morris

Enquanto o governo dos Estados Unidos debate uma intervenção na Síria, o documentário "The unknown known" (O desconhecido conhecido), do mestre do gênero Errol Morris, baseado em 33 horas de entrevista com o influente Donald Rumsfeld, que foi secretário de Defensa durante a presidência de George W. Bush e um dos idealizadores da guerra ao terrorismo após os atentados de 11 de setembro de 2001, oferece um retrato cínico e de grande atualidade de como e quem decide a política externa da maior potência mundial.

"A falta de provas não é uma prova de que não existe", afirma Rumsfeld sobre as armas de destruição em massa, argumento usado para justificar a guerra do Iraque.

Durante as longas conversas com um dos personagens mais poderosos dos Estados Unidos, que passou quase 40 anos nos salões do poder, Morris, vencedor do Oscar por "Sob a Névoa da Guerra", faz perguntas, destaca contradições e, apesar de não apresentar revelações, oferece um documento histórico.

"Não se trata de ficção. O princípio que aplico, correto ou não, é oferecer a complexidade do personagem que entrevisto", explicou Morris, que tentou "entrar na mente" do homem que aprovou a guerra no Afeganistão e autorizou formas de interrogatórios consideradas torturas nos centros de detenção americanos de Abu Ghraib (Iraque) e Guantánamo (Cuba).

Rumsfeld apresenta sua visão sobre alguns dos momentos mais importantes de sua longa carreira, como o trabalho ao lado do ex-presidente Gerald Ford para enfrentar o caso Watergate e a saída do Vietnã.

Ao traçar o perfil de Rumsfeld, hábil em suas opiniões, ams "que se contradiz", como destaca Morris, saia do documentário como um personagem "misterioso".