Diversão e Arte

Documentário italiano 'Sacro Gra' surpreende e leva Leão de Ouro em Veneza

O longa-metragem fala de personagens incomuns e poéticas da periferia de Roma

Agência France-Presse
postado em 07/09/2013 15:31
Veneza - O Júri da 70; edição do Festival de Cinema de Veneza surpreendeu neste sábado ao conceder o Leão de Ouro ao documentário do italiano Gianfranco Rosi "Sacro Gra", sobre personagens curiosas e poéticas da periferia de Roma.

O documentário, aplaudido pela crítica e pelo público, é, na realidade, uma ode às pessoas invisíveis que vivem num lugar sem identidade mas que conserva, com dignidade, suas raízes: um ator de fotonovelas, um pescador, um enfermeiro, um príncipe com um castelo cafona, um nobre culto e uma estudante brilhante.

Rosi entrevistou e conviveu com todas essas personagens que vivem na periferia da capital italiana, uma localidade conhecida como Grande Raccordo Anulare (GRA), antes de pegar a câmera e filmar suas histórias. "Dedico minha vitória às pessoas de meu filme que me deixaram entrar em suas vidas. Algumas são protagonistas involuntárias", declarou Rosi.

[SAIBAMAIS]Muito emocionado, ele agradeceu ao "mestre" Bernardo Bertolucci, presidente do Júri, por sua coragem de premiar um documentário pela primeira vez em Veneza. Esta também foi a primeira vitória de um filme italiano desde 1998, quando o laureado foi "Cosi ridevano", de Gianni Amelio. "Todo o júri sentiu a força poética do filme. Só um festival como Veneza para dar espaço para os documentários, que sempre ficaram meio de lado", declarou Bertolucci.

"A maneira como Rosi entra nesses mundos e nesses espaços tem algo de franciscano. Um toque de pureza, me recorda São Francisco", afirmou Bertolucci.

Sobre "The Unknown Known", outro documentário, dirigido por Errol Morris, sobre o ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos Donald Rumsfeld, o diretor de "O Último Imperador" brincou que "alguém do júri, com grande senso de humor, queria dar o prêmio de melhor ator para Rumsfeld".

O Grande Prêmio do Júri foi para o chinês Tsai Ming-Liang por "Jiaoyou" (Cães errantes), a história de um pai sem-teto e seus dois filhos, obrigados a vagar pelas ruas de Taipé.

"Miss Violence", do grego Alexandros Avranas, levou o Leão de Prata de melhor direção pela história de uma família modesta e, aparentemente, sem dramas, mas que enfrenta o suicídio de uma filha de 11 anos. Este filme também levou o prêmio de melhor ator para Themis Panou, que vive um pai abusivo.

O prêmio de melhor atriz foi para a italiana Elena Cotta, pelo filme "Via Castellana Bandiera", primeiro longa-metragem da diretora siciliana Emma Dante.

O festival também concedeu ao filme do alemão Philip Gr;ning "A mulher do policial" o Prêmio Especial do Júri. O prêmio de melhor roteiro ficou com Steve Coogan e Jeff Pope para o filme do diretor britânico Stephen Frears "Philomena", que estava no topo da lista de favoritos para o Leão de Ouro.

"Philomena", que havia conquistado o público e os críticos, inspirou-se na história real de uma mãe solteira irlandesa (Judi Dench) que procura o filho que lhe foi tirado ao nascer.

A crítica também destacou "Tom à la ferme", thriller psicológico do jovem prodígio canadense Xavier Dolan, sobre a relação de um publicitário com a família de seu namorado falecido.

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O prêmio de revelação foi para Tye Sheridan por seu papel de filho de um alcóolatra em "Joe". Sheridan é um jovem de 16 anos que já havia brilhado em "A árvore da vida", de Terrence Malick.

Desagregação familiar, incesto, mutilação, perda da esperança... esta 70; edição de Veneza foi marcada por filmes muito sombrios, de uma grande diversidade e originalidade.

As vinte produções em competição acabaram sendo uma lente de aumento dos males da sociedade moderna, algo muito em contraste com o glamour do tapete vermelho, que, este ano, contou com a presença de astros como George Clooney, Sandra Bullock, Scarlett Johansson e Nicolas Cage.

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