Diversão e Arte

Literatura da periferia começa a chamar a atenção do mercado, diz Snel

Sônia ressaltou, porém, a importância de se ter um padrão de qualidade no que se refere à literatura marginal, ou de periferia

postado em 09/09/2013 18:25
Rio de Janeiro - O Brasil está assistindo, nos últimos anos, a um movimento cultural vindo da periferia, englobando literatura, música, entre outras manifestações. ;Em todas as manifestações artísticas há uma efervescência cultural, novos interesses e talentos aparecendo;, disse nesta segunda-feira (9/9) à Agência Brasil a presidenta do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Sônia Jardim.

Sônia ressaltou, porém, a importância de se ter um padrão de qualidade no que se refere à literatura marginal, ou de periferia, ;como em toda manifestação cultural;, para que ela saia desse nicho e possa atingir o mercado como um todo. Segundo Sônia, as editoras estão atentas à voz da periferia. ;Se essa voz é restrita só aos seus vizinhos ou se ela pode atingir outro público;.

Não há previsão das editoras em relação à literatura marginal, afiançou. ;Ela está crescendo e a gente tem visto um ou outro talento despontando. Acho que pode vir a ser uma nova linha;. Sônia Jardim observou que estão surgindo também autores vindos do interior, saindo um pouco do eixo Rio de Janeiro/São Paulo, bem como de outras regiões do país, o que é muito positivo.

Um dos escritores que falam da periferia paulista, Sérgio Vaz, disse nesta segunda-feira (9/9) à Agência Brasil que esse é um movimento que tende a crescer. ;Porque não é um movimento de escritores. É um movimento para formar leitores, aquilo que as pessoas esqueceram de fazer: fomentar a literatura entre as pessoas. E essa literatura dialoga diretamente com as pessoas da periferia, nas praças, nos bares, nas escolas. Está trazendo mais gente, cada vez mais;.



A aceitação e a abrangência da literatura de periferia ocorre, segundo Sérgio Vaz, devido não só à identificação com o leitor, mas porque os escritores vivem o dia a dia da comunidade. ;É um cara que é possível você encontrar na feira, no campo batendo uma pelada;, disse. ;Ele é um cara da comunidade, que representa a comunidade. Assim como o Vinicius [de Moraes, poeta e diplomata] cantava ;dia de luz, festa de sol; [início da música O Barquinho, que é de autoria de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli e não de Vinicius de Moraes], porque era a realidade que ele vivia. A gente está escrevendo a nossa realidade;.

Com cinco livros editados de forma independente e vendidos de porta em porta, Sérgio Vaz integra agora o rol de escritores da Global Editora, onde já publicou dois livros e está prestes a lançar o terceiro, ainda este ano. ;Depois de 25 anos de carreira, que completo este ano, acho que demorou até demais;, brincou. Ele aconselha os jovens da periferia a perseguirem o sonho de se tornar escritores. Mas, acima de tudo, que estudem. ;Eu demorei tanto porque não estudei. Não sou exemplo para ninguém;.

Embora reitere que sempre se deve acreditar no sonho e lutar por ele, é a escola a prioridade dos autores da periferia. ;Eu acho hoje que o melhor lugar para se passar a infância e a adolescência ainda é a escola. Ainda que os governos não nos queiram educar, a educação é uma coisa a ser respeitada e ser seguida. Porque acho que eu escrevo a palavra da rua, mas eu adoraria conhecer a norma culta. A língua portuguesa é uma coisa maravilhosa. É mágica. Tem sabores e saberes. Todos nós temos o direito e o dever de aprender a norma culta e a dialetar do jeito que a gente quer;.

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