Diversão e Arte

Livro reúne quatro biografias escritas por Paulo Leminski

Personagens são Jesus, Matruo Bashô, Leon Trótski e Cruz e Sousa, figuras que marcaram a arte do poeta curitibano

postado em 22/09/2013 07:02 / atualizado em 19/10/2020 11:21



Em que partes do mundo e com quais personagens estariam guardadas as histórias que tocaram Paulo Leminski — ou que, de certa maneira, serviram de referência para o escritor, poeta e autor das biografias nada convencionais de Jesus, Matsuo Bashô, Cruz e Souza e León Trótski? —. Se Jesus era um poeta/profeta, que falava por meio de jogos parabólicos e trocadilhos, Trótski era considerado por Leminksi um grande escritor, autor da maior obra de literatura escrita por um político. Bashô e Cruz e Souza seriam, então, referências na poesia e no estilo underground do simbolismo que o influenciaria.

As quatro biografias — publicadas originalmente na coleção Encanto Radical, na década de 1980 — ganharam edição em único volume, pela primeira vez, em 1990 e, agora, a Companhia das Letras reúne novamente os textos no livro Vida. O lançamento, em 24 de setembro, é um alento para os que buscavam os títulos esgotados nas livrarias. Toda poesia, volume com a trajetória poética completa de Leminski, foi lançado em fevereiro deste ano e reapresentou o poeta ao público, com 55 mil exemplares vendidos.

Leia entrevista com Estrela Ruiz e Áurea Leminski, filhas do escritor Paulo Leminski


- O que consideram o aspecto mais inquietante na obra de Leminski?

Estrela Ruiz - O equilíbrio de polaridades, a contundência de ideias e a paixão pela linguagem.

Áurea Leminski - A obra do Leminski transita livremente entre a linguagem popular e a cultura erudita. Um artista múltiplo e consistente em todas as áreas que se propôs a produzir. Um escritor de surpreendente bagagem cultural, poliglota, músico, pensador... como uma incrível capacidade de dialogar com os mais diferentes públicos.

- De que maneira esses personagens biografados de Vida influenciaram esse Leminski que consegue se mostrar tantos em um só?

ER - Acho que ajudaram a ele entender esses aspectos dele e se aprofundar nas culturas. Ele era fascinado pela cultura eslava, negra, japonesa e foi seminarista. A paixão que ele tinha pela história (ele foi professor de cursinho de história) está impregnada em toda a sua obra mas essencialmente em Vida.

AL - Leminski tinha um profunda admiração por todas os biografados: Bashô, o maior haikaistas da segunda metade do século XVII e um dos mais importantes de todos os tempos. O poeta e escritor negro Cruz e Sousa, pai do Simbolismo no Brasil. Leminski foi simpatizante do socialismo e acreditava na corrente política e ideológica do intelectual Leon Trotski e ainda Jesus que Leminski buscou destacar as características humanas do pensador e separá-las da imagem propagada pela igreja católica. Ao mesmo tempo que estes personagens da história foram fonte de inspiração, Leminski tinha um censo crítico muito forte e a partir destas referências era capaz de criar algo totalmente novo e muito próprio.

- A experimentação artística e política de Leminski respingava de que modo no dia a dia dele com a família, que é toda voltada à arte?

ER - O tempo todo. Ele escrevia todos os dias e as conversas em casa entre ele e a minha mãe era sempre em torno de assuntos interessantes que envolviam cultura.

AL - A conversa dentro de casa era quase sempre permeada de arte e cultura de forma geral, mas como a as necessidades da rotina sempre acabam se impondo era natural que houvesse um equilíbrio para que a vida seguisse seu rumo.

- De que maneira ele influenciou vocês?


ER - Não sei mensurar todos os aspectos. Acho que tem um modo de priorizar a criação, o modo caótico de ser, um jeito crítico de olhar o mundo, a paixão pela linguagem. E fora isso tem a influência que é de toda a minha geração que é a da poesia em si. Não sei diferenciar muito onde que começa a influência do meu pai e onde que começa a da minha mãe. Como ambos são escritores é evidente que eles também se influenciaram mutuamente.

AL - Acho que a inquietação e a ânsia por enxergar a vida sobre outro ângulo, que não o convencional, seria dois pontos a destacar.

- A que você atribui o sucesso de vendas de Toda Poesia?


ER - A uma série de fatores: A atualidade da obra, a falta de exemplares de alguns de seus livros de poesia anteriores nas prateleiras, a internet, a edição compilada e caprichada em si, a diretidade de sua poesia.

AL - O livro Toda Poesia veio suprir um lacuna editoral colocando a obra poética de Leminski, há muito esgotada, novamente em circulação, o que permitiu a antigos e novos leitores terem acesso a esta produção. Além disso o livro foi lançado por um editora que tem poder de fogo tanto em termos de divulgação quanto distribuição facilitando mais um vez que a obra chegasse ao número significativo de pessoas. Sem entrar no mérito da própria qualidade e relevância da obra de Paulo Leminski

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