Nahima Maciel
postado em 29/09/2013 07:58
O escritor Bernardo Carvalho confessa ser dependente da internet, mas não encara a rede mundial de computadores como um espaço democrático propício à liberdade de expressão. Ao contrário, e, recentemente, o planeta parece surpreso em descobrir, há controle (e muito) na rede. Também há espaço para uma condição que Carvalho considera infame: o comentador que se esconde atrás do anonimato para dar vazão a uma verborragia conservadora, radical e, muitas vezes, racista. Mas o escritor admite enxergar alguns pontos positivos na internet. Afinal, graças a ela foi possível organizar as manifestações de julho no Brasil. E as do ano passado no mundo árabe. A ambiguidade da rede é também a do protagonista de Reprodução, o décimo romance do escritor carioca de 53 anos, hoje radicado em São Paulo e autor de obras importantes da literatura contemporânea brasileira.
O personagem de Reprodução é identificado apenas como ;o estudante de chinês;. Em um monólogo de pouco mais e 50 páginas, o protagonista desfila um discurso compulsivo difícil de apreender. Ora pontuado por colocações fascistas, ora carregado de uma humanidade duvidosa, ele representa o comentador de internet que hoje assusta o autor do livro. Preso pela polícia enquanto esperava para embarcar em um voo para Xangai e após reencontrar a professora de chinês na fila de embarque, o rapaz é interrogado em uma sala isolada. No monólogo, ele responde a perguntas e dialoga com um agente cuja voz nunca é ouvida. O estudante é um típico fissurado em internet e redes sociais. ;Esse cara (o agente) representaria o não dito, o não visível num mundo de visibilidade;, explica Carvalho.
Não só a internet preocupa o autor. A religião e, sobretudo, a presença evangélica na política brasileira assustam e entristecem Carvalho, que decidiu fazer um livro capaz de refletir sobre essas questões. A professora de chinês reencontrada pelo estudante na fila de embarque é evangélica, assim como uma das agentes responsáveis por investigar um caso de desvio de dinheiro dentro da própria igreja. Essa agente é responsável pelo segundo monólogo do livro. A opção por esse tipo de estrutura narrativa densa e em bloco ; não há parágrafos e poucas vezes Carvalho permite uma pausa ao leitor ; é também uma forma de o autor encarar a literatura.
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