Biógrafos e biografados. De um lado, a liberdade de expressão e a memória do país. Do outro, questões ligadas a direitos autorais e a privacidade. A discussão se inflamou nos últimos dias, a partir da criação do bloco Procure Saber, formado por artistas do porte de Roberto Carlos, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Chico Buarque, que passou a pleitear, publicamente, a manutenção da autorização prévia do biografado para que as publicações cheguem às lojas. O debate chegou à Feira do Livro de Frankfurt, na semana passada. Por lá, escritores como Laurentino Gomes e Fernando Morais demonstraram repúdio ao grupo, presidido pela empresária Paula Lavigne. O imbróglio gerou a seguinte questão: estaria havendo uma tentativa de censura prévia?
Direitos autorais
Carlos Didier e João Máximo, autores de biografia sobre Noel Rosa, tiveram sua obra embargada. Lançada em 1990, viram a reedição vetada sete anos depois pela viúva do artista, Dona Lindaura, que, na época, não autorizou a publicação de imagens e letras de músicas. ;A verdade é que ela não gostou, por que a história que ela estava contando para os netos era outra;, observa Didier, sem dar detalhes. Para completar, em 2003, entraram em cena duas sobrinhas de Noel, que processaram os autores por questões ligadas a direitos autorais.
Cauby Peixoto, Claudette Soares e Dolores Duran. Os três cantores tiveram as trajetórias esmiuçadas em livros de Rodrigo Faour. Para o autor, submeter o texto previamente ao artista ou a familiares se assemelha à época da ditadura militar, quando letras de músicas dependiam de aprovação. Sobre o repasse de parte dos lucros para os artistas, que o Procure Saber também propõe, Faour é enfático: ;As pessoas não sabem quanto se vende de livro no Brasil. Se vissem, ficariam estarrecidas. É muito pouco.;
Ney Matogrosso já havia até se esquecido de alguns fatos passados em sua juventude quando leu uma obra sobre ele. Mesmo assim, optou por não fazer nenhuma objeção à publicação. ;Acredito que o temor das pessoas que se posicionam a favor da manutenção da lei tem a ver, por exemplo, com as loucuras que são publicadas na internet. Esse tipo de coisa é que assusta;, opina o artista. ;Não vejo o posicionamento do Procure Saber como algo ligado a dinheiro.; Já Raimundo Fagner se mostra contrário às ações do grupo. ;Acho que a liberdade de criação deve ser respeitada. Se aparecer algo calunioso, o biografado pode abrir processo;, sugere.