Ricardo Daehn
postado em 22/10/2013 06:00
Em cartaz tanto com o filme O tempo e o vento, quanto projetado com a participação na novela Joia rara, o ator Thiago Lacerda, aos 35 anos, deixa clara a autonomia de processo, na hora de atuar. "Não sigo modelos: meu processo é subjetivo. Foi o caso de O tempo e o vento, quando o capitão Rodrigo botou o dedo na minha cara, dias antes de começar a filmar, disse: ;tá bom, meu amigo: e aí, como é que você vai fazer?; Eu precisei ficar em silêncio para achar caminhos e consegui andar por lugares próximos aos que pretendia com o personagem", explica.
Sem rigorosa formação de ator, o intérprete conta que construiu a carreira com referências técnicas aprendidas na prática. "Tive figuras que passaram pelo set comigo, e que me deixaram referências. Trabalhei com Paulo Autran, com Tarcísio Meira, com o Tony Ramos, com a Fernanda Montenegro, com o Mário Lago! Meu processo é muito intuitivo: na hora em que abre o pano, eu dou o meu jeito", observa. Para além da dimensão literária do texto de Erico Verissimo adaptado para as telas, Thiago vê na fita de Jayme Monjardim "o retrato um panorama social, quase antropológico, tanto do estado do Rio Grande do Sul quanto das pessoas".
Quando a conjuntura é macro - caso das espiadelas dadas pelos Estados Unidos na política interna brasileira -, o ator não se mostra surpreso. "Essas relações políticas globalizadas passam muito por viés nada legítimo. Seria muito honrado as pessoas esclarecerem isso em público: culpar quem tiver que se culpar, explicar alguma coisa ou se manifestar de alguma forma. Ficam é fazendo muita pirotecnia em torno desse assunto como se fosse uma novidade", defende.
Voltando ao campo profissional, Thiago Lacerda conta da fase de intimidade com cinema. "Comecei a consumir cinema infantil de uns anos para cá por conta dos meus filhos. Já no outro lado, vejo o nosso cinema num momento maravilhoso. O que acontece é precisa ser mais sólida a indústria, ter maior estrutura. Falamos num momento em que as comédias estão, cada vez mais, populares, numa liderança de mercado. Mas não acho que a vocação do mercado seja restritiva", analisa. O drama épico de O tempo e o vento, no qual atua ao lado de Fernanda Montenegro traz evidente injeção de orgulho. "Eu não tenho memória de um filme com essa proporção épica no Brasil. O Jayme Monjardim praticamente inaugura um gênero. É muita coragem e mérito encarar essa jornada. O filme, em si, já é uma empreitada vitoriosa", diz.
Quanto a telinha, há certa reserva do ator, quando o tema são as lacunas de conteúdo. "Acho que falta mais responsabilidade e falta ;desencaretar; um pouquinho. O conteúdo está cada vez mais frouxo, com certa falta de coerência. Mas tem gente querendo transformar a qualidade. A outra coisa é uma certa caretice progressiva. Gostaria de ver a televisão como um veículo mais livre, do ponto de vista de poder contar tramas sem muita amarra convencional", conclui.