Igor Silveira
postado em 26/10/2013 08:00
São Paulo ; O salão social de um clube paulistano localizado em Pinheiros está completamente lotado. É sábado à noite e o público silencia toda vez que o rapper Criolo, entre uma música e outra, fala. Os fãs parecem seguidores de uma seita ouvindo a pregação de seu líder máximo. Em determinado momento, o artista respira fundo e, emocionado, vira-se para o baixista da banda no canto do palco e pede: ;Cabral, por favor, dê um passo a frente;. O instrumentista atende ao pedido e entra na mira do canhão de luz. Criolo completa: ;Muito obrigado por tudo.;
Mais do que baixista da banda de Criolo, Marcelo Cabral, 39 anos, é produtor musical do artista e essa parceria promoveu mudanças substanciais na vida do cantor. Daí a enorme gratidão e a homenagem de Criolo. Foi ele quem apostou e insistiu, em 2010, para que o projeto de registrar algumas canções do rapper acontecesse. Naquela época, o artista estava inclinado a parar de gravar rap. Achava que já tinha dado a sua contribuição à cena e não tinha muito mais a acrescentar. O baixista não desistiu. Convidou Daniel Ganjaman para ajudá-lo e contou com o apoio da Matilha Cultural, importante reduto artístico da capital paulista. O resultado foi o disco Nó na orelha, um dos melhores e mais premiados de 2011.
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;Antes, eu só tinha produzido o álbum de estreia da Lurdez da Luz. Mas resolvi comprar a briga. Não só eu. Todos os que participaram do processo não estavam ali por dinheiro. Até porque o dinheiro era contado, tudo no limite. Abraçamos a causa e, apesar de ser um registro despretensioso, fizemos com muita seriedade;, lembra Cabral.
Foram 10 meses até que Nó na orelha ficasse pronto. Durante esse tempo, a amizade entre Marcelo Cabral e Criolo foi consolidada. Em diversas oportunidades, o rapper dormia no sofá da casa do produtor. O dinheiro era pouco para as idas e vindas entre o estúdio e o Grajaú, distrito da Zona Sul paulistana, onde morava o cantor. ;Foi uma época muito importante, de uma intensa troca de experiências. Criolo é um artista muito generoso e talentoso. Apesar de não tocar instrumento algum, ele tem a percepção da importância de cada som e dá contribuições fundamentais. Aprendo muito com ele;, destaca o produtor.
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