Em 2012, os frequentadores do Beirute, tradicional bar da cidade, se surpreenderam com a presença de uma turma que lia, animadamente, em meio a todo o barulho, um capítulo de Ulisses, romance experimental de James Joyce. Era o grupo de estudo do professor de literatura da UnB Piero Eyben, que resolveu transferir a sede da leitura para o bar, pois o tema do capítulo era a embriaguez. Em plena era da facilidade proporcionada pela internet, Piero, de 32 anos e feição de menino, consegue a façanha de arregimentar os jovens para ler (e tratar como objeto de prazer) os livros considerados mais difíceis.
De onde vem esse nome de gringo? Você é italiano?
Na verdade, minha família, da parte da mãe e do pai, é bem brasileira. Mas meu bisavô, por parte de mãe é italiano, e o bisavô por parte de pai é belga. Minha mãe é mineira, da divisa do Rio de Janeiro, e eles se conheceram lá no Rio. Nasci e fiz toda a minha formação em Brasília.
Como conseguiu estabelecer uma carreira acadêmica tão jovem?
Quando chego na sala para me apresentar, os alunos perguntam se eu sou monitor. Na realidade, eu me tornei professor universitário porque sempre quis ser escritor desde os 12 anos de idade. Então, tudo decorre dessa decisão. Quis juntar os meus interesses em uma profissão.
Como se deu o contato com a literatura?
Meus avós liam muito para mim e, desde que me conheço, leio. O encanto ia da descoberta das placas até os livros.
Que tipo de livros você lia?
Ah, lia coisas que não valiam a mínima pena, mas são caminhos formativos. O que me atrai hoje, em termos de poesia, tem a ver com as experiências radicais com o texto. Mas, na adolescência, eu lia, compulsivamente, Álvares de Azevedo, Goethe ou os sonetos de Shakespeare, sem saber quem eram na história da literatura. Um outro lado importante é a relação com certa linhagem mais livre: a poesia beat. Falava mais fácil e rápido ao jovem que eu era. Era um caminho meio romântico. Hoje, estou mais próximo da poesia radical de Augusto de Campos.
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