Caipira não tem estresse nem depressão. Pelo menos a dupla Zé Mulato & Cassiano nunca viu um caso. O contato diário com a natureza seria o santo remédio para esses e outros males diversos, como ensinam na música Ciência matuta, faixa que dá nome ao novo disco deles. ;No sertão, só é doutor quem aprende e executa;, orientam. Problemas no estômago, por exemplo, podem ser tratados com ;;porvilho; de araruta, o amargo do pau-pereira, boldo e raiz de buda;, segundo a canção. ;Eu faço minha mesinha com que o mato me faculta/Raiz que tiro do chão e casca de algumas frutas/ O Cerrado é um celeiro dos remédios que resulta, a medicina moderna de charlatão me insulta;, cantam, em seguida. Para outros tipos de sofrimento, o ;benzimento; proveniente de ;ciência oculta; seria a melhor saída.
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A grande lição de Zé Mulato & Cassiano no 17; disco da carreira, no entanto, é a perseverança. Nascidos em Passabém (MG) e radicados no DF desde fins dos anos 1960, os irmãos são a principal referência da música caipira na região, e um dos últimos remanescentes da espécie no país. Na estrada desde 1974, a dupla observou de soslaio as mutações pelas quais o gênero sertanejo passou nas últimas décadas, chegando praticamente irreconhecível ao século 21. Mas Zé Mulato & Cassiano não se intimidaram: fizeram questão de manter os pés fincados nas raízes. Em Ciência matuta, cururus, toadas, modas de violas e rasqueados, distribuídos em 15 faixas, reafirmam as origens do estilo interiorano.
;Nossa cultura foi bombardeada de tudo quanto é lado, mas a gente continua lutando. Para a raiz continuar de pé, são necessários alguns sonhadores;, diz Zé Mulato, 64 anos, morador de uma fazenda na zona rural de Alexânia (GO). ;A gente acredita e gosta, faz parte da alma, não dá para abandonar. Quando você abandona o que gosta, morre;, emenda Cassiano, 58, residente em Taguatinga Sul. O show de lançamento de Ciência matuta ocorre no dia 11 de novembro, no Incra 9, mas o álbum já pode ser adquirido.
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