Simples e direto. De graça, novo disco do cantor e compositor Marcelo Jeneci, não podia ter um nome mais apropriado. Disponível no site do artista (marcelojeneci.com.br), o álbum gratuito pode ser ouvido quantas vezes quiser e tem uma característica interessante: não possui faixas individuais. A ideia de escutá-lo numa sequência única faz todo sentido para entender o trabalho de Jeneci ; que, à primeira vista, parece bem diferente do CD de estreia, Feito para acabar, lançado em 2010.
;A diferença essencial entre os dois discos é a estrada. Três anos se passaram e trouxeram a experiência na vida pessoal, no palco e no amadurecimento de caminhos novos para fazer novas canções;, explica o músico paulista.
E a maturidade se revela justamente aí. Jeneci não perde sua temática mesmo ao arriscar composições em sonoridades mais experimentais. A faixa-título (;Livre-se do laço/Solte-se no espaço/Abra os braços e o coração;) é uma das letras que melhor expressa o ;amor à vida; e a fase atual que o artista vive. ;O álbum fala sobre o parar de se preservar e se jogar mais na vida. Se sujar um pouquinho para depois limpar. Como tirar o cinza de um momento e transformar aquilo numa experiência lisérgica supercolorida;, descreve o artista.
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Cinco perguntas // Marcelo Jeneci
Alguns artistas temem o segundo disco, principalmente quando o primeiro tem um sucesso expressivo. Você teve medo ou receio ao lançar De graça?
Medo e receio talvez não seja a melhor maneira de expressar o que eu senti. Senti um grande desafio. Por causa das questões conhecidas e das desconhecidas. Nas desconhecidas entram as próprias incertezas: o que a gente de fato é capaz e o que não é. Aí vem uma pressão de si mesmo com si mesmo para conseguir materializar um negócio sem muita forma. Hoje, ouvindo o disco no site, eu me convenço que tudo o que pude fazer está ali. Isso me traz um encontro comigo mesmo e me faz feliz. Fico satisfeito com o me enxergar e o me encontrar no trabalho. Foi difícil foi um desafio mas superado. Estou feliz.
Você já teve três músicas em trilhas sonoras de novelas. Como é sua relação com esse produto? Certa vez, você afirmou que adora assisti-las;
Acho que para todos artista é muito bom ter músicas em novelas. Desconheço alguém que faça música e não queria que ela seja reconhecida. Na verdade, em São Paulo, percebo que existe um acordo tácito que é legal não fazer sucesso. Vejo na história de muitos compositores paulistanos o auto-boicote para impedir o sucesso por uma ótica exclusivista paulistana. Acho desnecessário. Penso o oposto disso. Toda música que eu faço é para mim e para os outros. Então, quanto mais veículos, mídias e plataformas eu puder ocupar melhor vai será. Adoro novela. Algumas são boas, outras péssimas.
Com a turnê do CD anterior, Feito pra acabar, você tocou na Colômbia, nos Estados Unidos e em Portugal. Como foi a recepção do público nesses países?
Foi super legal. Gosto do relato das pessoas de outros países que ouvem o disco. Tanto o Feito pra acabar como o De graça. Elas não entendem nada do texto mas, de algum modo, se ligam na sedução musical dos álbuns. Adoro músicas que não entendo a letra. Isso dá uma liberdade infinita para interpretar o que aquela sensação musical me causa. É bom saber que lá fora público ; 20% brasileiro e 80% estrangeiro ; escuta meu trabalho do mesmo jeito.
Você toca sanfona e mostra que ele não precisa ficar preso ao gênero do forró. Dominguinhos foi genial tocando esse instrumento. Você o conheceu? Como era o relacionamento com ele?
Conheci Dominguinhos pelo pai, que desenvolveu um captador de sanfona, assim como há para guitarra. Meu pai fez isso para sanfoneiros do Brasil inteiro. Tive pouco contato, mas quando comecei a tocar sanfona ele me deu um exemplar e algumas aulas na casa dele. Nos encontramos outras vezes durante o lançamento do Feito pra acabar e ele sempre muito carinhoso. Quando ele morreu, eu me dei conta que sanfona tem som de saudade e aperta como um abraço de Dominguinhos, um amigo sem fim.
Nas últimas semanas, discutiu-se muito sobre a questão da autorização prévia para a publicação de biografias. O que você pensa sobre o assunto?
Fiquei recluso fazendo o De graça então, sinceramente, não tenho informações suficientes para ter uma opinião muito clara mas, no fundo esse episódio está tratando de outras questões que muito mais sinuosas. As pessoas têm que ter liberdade para escreverem sobre o que quiserem e não tem como cobrar de alguém autorização por ser musa inspirada. Sei que ser musa é uma coisa e escrever uma biografia sobre a vida de alguém é outra, mas em algum momento esse assunto se encontra. Ao mesmo tempo, não vejo nenhuma condição de ficar do lado que não seja do Caetano (Veloso) e do Chico (Buarque). Os caras abriram tantas portas e agora são taxados como censuradores? Pelo amor de Deus! Isso aí tem muito mais a ver com o foco de um pedaço do jornalismo atual que tá mais preocupado com a celebridade, com o photoshop e com as polêmicas do que com as coisas de verdade.
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