Diversão e Arte

Morre o artista plástico pernambucano Gilvan Samico

Xilogravurista tinha 85 anos e é um dos maiores nomes da arte brasileira

Diário de Pernambuco
postado em 25/11/2013 14:06
Samico era um dos maiores gravuristas do Brasil
Morreu nesta segunda-feira (25/11) o artista plástico pernambucano Gilvan Samico, aos 85 anos de idade. Nos últimos anos, ele lutava contra um câncer e foi internado diversas vezes no Recife e em São Paulo para fazer tratamentos. O velório será realizado no cemitério Morada da Paz, a partir das 15h, e a cremação está marcada para as 21h.

Samico era um dos maiores gravuristas do Brasil. Sua técnica principal era a xilogravura, que ele desenvolvia com maestria e precisão. Sua obra já foi tema de retrospectivas em alguns dos maiores museus do Brasil. O Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, no Recife, é a instituição que tem o maior número de obras suas.

Veja entrevista concedida por Gilvan Samico - com participação de sua esposa, Célida - à repórter Pollyanna Diniz, em dezembro de 2011

Ariano já disse que você o procurou na década de 1960 e pediu uma orientação e ele teria dito para você mergulhar no universo do romanceiro.
Samico - O que ele contou ali está dito como uma verdade.
Célida - Você está se elogiando!
Samico - (Risos) Não, sobre essa história que eu o procurei, morava no Rio, disse que não estava satisfeito, precisava descobrir um rumo para a minha gravura.
Célida - Que achava que a gravura não era muito brasileira.
Samico - Estava muito noturna. Mais para a Europa do que o Brasil. E ali ele deu o caminho. E foi uma tarefa difícil como o diabo. Mas parece que deu certo.
Célida - Nem parece que ele era seu amigo! (Risos)
Samico - O bicho me massacrou. Ele pensava que era fácil.

Mas você é Armorial?

Segundo ele mesmo, não é a escola que faz o artista. Não adianta só você estar pendurado num movimento, se você não acrescenta nada. É feito a história do crítico que foi ver um quadro e tinha um cachorro muito bem pintado. Aí ele olhou e disse: ;o senhor acaba de colocar mais um cachorro no mundo;. (Risos). O artista não tem que reproduzir fielmente aquele negócio, tem que dar a contribuição dele. Quando você faz uma obra que parece muito com a realidade, você está apenas acrescentando uma coisa que já existe, não criou nada. Você concorda?

Bom, mas nesse sentido o abstrato seria muito melhor do que o figurativo?
Não vamos entrar nesse campo! Vai ser o resto do dia e a madrugada! Não é melhor. Agora eu faço como o velho Goeldi: "ser abstrato é esquecer o homem".

Um dos méritos do livro é revelar as suas pinturas.
Minha pintura ficou num canto, quase esquecida por conta da gravura. É como se a gravura tivesse engolido a pintura. Não pude me dedicar inteiramente à pintura e acabei ficando como pintor no ostracismo, numa posição inferior.

A pintura é um processo mais leve, mais fácil?
É mais direta. Quando você pinta, é você, a tela, a tinta. Uma gravura tem outras implicações. Eu sou um gravador que preciso pensar. No livro tem uma gravura de que eu fiz 40 estudos. Há gravadores que desenham na madeira e começam a cortar. Esse camarada tem uma coisa que eu não tenho. Tem gente que diz ;você é preguiçoso, só faz uma gravura por ano;. Gravura não é pintura.

Toda gravura tem uma história por trás?

Nem sempre. Eu pego uma lenda e tomo conta e me sinto liberto para fazer a gravura sem o servilismo do que está dito ou então vem tudo da minha cabeça.

Você está satisfeito?

Nós conhecemos artistas que têm talento, mas não têm sorte, de ter chegado ao mercado de arte e ter sobrevivido. Eu tenho sorte, não sei se tenho talento. Desculpe a modéstia! Não é falsa!

Confira vídeo com o artista
[VIDEO1]

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação