Diversão e Arte

Diretor brasiliense Matheus Souza retrata realidade da juventude em filme

Em "Eu não faço a menor ideia do eu tô fazendo com a minha vida"o cineasta estimula uma linha diametralmente oposta para encarar um forte instrumento de trabalho

Ricardo Daehn
postado em 24/12/2013 08:52

Matheus: Tenho só 25 anos e, com Eu não faço(..) fiz o melhor filme possível: tentei ser o mais sincero e falar do meu universo, das pessoas ao meu redor

;Eu odeio o Facebook: não estou interessada no que aquele bando de pessoas pensa;, protesta a personagem Clara ; contrariando, por instantes, a serena feição da atriz Clarice Falcão, numa das cenas do longa Eu não faço a menor ideia do eu tô fazendo com a minha vida. Do lado de cá da tela, entretanto, o jovem Matheus Souza, diretor brasiliense no comando do filme, estimula uma linha diametralmente oposta para encarar um forte instrumento de trabalho. ;Não podemos lutar contra o nosso tempo. Tecnologia é uma ferramenta de estudo e passatempo. Claro que há a armadilha do excesso. Teria o triplo da produção, em termos de roteiro, caso o Facebook não existisse. A gente tá meio hipnotizado. É preciso ter cuidado, já que, antes, tínhamos mais tempo ocioso e éramos obrigados a pensar;, avalia o cineasta, ainda em evidência por causa do roteiro assinado em Confissões de adolescente, estreia simultânea à de Eu não faço(;), ambas já em cartaz.

Inspiração feminina

Os dois longas, por sinal, são movidos pelo fascínio de Matheus pelas mulheres, fonte de identificação com o ;principal ídolo;, Woody Allen, além, claro, do equivalente brasileiro, Domingos Oliveira. Uma certa esquizofrenia cerca a semelhança: ;Quando os personagens são mais pessoais, em termos da minha vida real, coloco atores fazendo, como foi o caso do Gregório Duvivier, em Apenas o fim (filme de estreia). Nas telas, ele me faz melhor até do que eu mesmo. No próximo projeto, Tamos juntos, vou substituí-lo, e me dar uma chance;, entrega Matheus, antes visto na peça Paixão e acaso.



Um papel desbravador também reflete no jovem, um dos roteiristas do programa Amor & sexo, posto assumido em seguida ao episódio com direito a nu frontal masculino. ;O programa teve beijo gay, sem ter alarde. Dar passos à frente foi das coisas que mais me atraíram nele;, explica. Renovação, aliás, é palavra de ordem para Matheus Souza. Nessa ;tara de conhecer coisas novas;, ele delineou momentos de Eu não faço(;) com músicas de Silva e da Banda Hidrocor. Muito, claro, migrou do seu onipresente iPod. Tentado pela admiração de atores como Nelson Freitas, Leandro Hassum e Kiko Mascarenhas, Matheus aproveitou para ;vê-los em papéis diferentes;, em eficiente artimanha.

Excessivamente honesto, o diretor brasiliense Matheus Souza detecta em si uma "grande limitação", na ótica de muitos, que, na verdade, chega revertida em vantagem: "Tenho só 25 anos e, com Eu não faço a menor ideia do eu tô fazendo com a minha vida fiz o melhor filme possível: tentei ser o mais sincero e falar do meu universo, das pessoas ao meu redor". Quatro anos depois do sucesso do longa Apenas o fim, questões juvenis estão novamente expostas na tela e vêm em duas frentes: tanto no longa Eu não faço(;) quanto no roteiro que ele assinou para Confissões de adolescente, às vias da estreia, sob direção de Daniel Filho e Cris D;Amato.

Ao corroborar a expressão em voga "tendência", o diretor aproveita para separar joio do trigo, ao cercar o fenômeno das comédias. "Não tô me preocupando em aproveitar a onda. Me atenho a sentimentos que estejam me tocando nas filmagens. Se a comédia virou um negócio de milhões, há tendência de se evitar riscos. Vantajosa foi a questão de estar sem dinheiro, para Eu não faço(;). Deu pra me arriscar bastante. Fiz algo ;meio suicida; no cinema nacional. Não aposto em coisa cabeça o suficiente para ganhar festival e ter sucesso de crítica", delimita Matheus Souza.

Ao custo de R$ 20 mil (para toda a produção de Eu não faço(;)), ele pôde contar em cena com Clarice Falcão, "uma das pessoas mais importantes da minha geração, junto com o Gregório Duvivier". Pessoa "mais inteligente e culta" conhecida pelo jovem, a atriz o encanta não apenas pelo "tom e pela doçura", mas igualmente pelo "sarcasmo e ironia".

"Clarice tem uma ponte com quem ouve Justin Bieber e, por meio disso, influencia os jovens até com o gosto que tem pelo Radiohead", detecta Matheus. Em tempos de pessoas implicantes e agressivas, "que podem manifestar qualquer barbaridade (via internet)", o diretor é atento à falta de unanimidade ligada à atriz do Porta dos Fundos, mas reitera: "O papel dela é fundamental".

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