Perguntar a um poeta qual seu poema preferido sempre gera uma careta, seguida de testa franzida e, por fim, um leve sorriso. Quando o rosto se ilumina, é que a zanga com o pedido (;só um? É difícil;;) se encerra a finalmente os versos aparecem. Cada poeta tem o seu e não dá para falar que será o mesmo a vida inteira. Para cada momento, há um poema adequado. O Diversão pediu a nove poetas brasileiros, jovens e veteranos, que elegessem suas preferências. Carlos Drummond de Andrade é quase uma unanimidade. O mineiro de Itabira foi o escolhido de Francisco Alvim, Armando Fritas Filho, Paulo Henriques Brito e Adélia Prado. A geração mais nova tem referências mais contemporâneas. Leia nesta página os versos cujo conteúdo fazem refletir, chorar e sofrer a poesia brasileira.
Alice Sant;anna
Autora de três livros de poesia e colaboradora da revista Serrote, Alice faz parte da nova leva da poesia brasileira. Tem 25 anos e foi uma das convidadas para a Festa Literária Internacional de Paraty este ano (2013). Como poema preferido, ela escolheu os versos de um contemporâneo: História, de Fabrício Corsaletti. ;Me lembra a música No dia em que eu vim-me embora, do Caetano. Gosto principalmente desse final, da rima chorasse/ praxe;; diz Alice.
História (Fabrício Corsaleti)
Na cidade em que nasci
havia um bicho morto em cada sala
mas nunca se falou a respeito
os meninos cavávamos buracos nos quintais
as meninas penteavam bonecas
como em qualquer lugar do mundo
nas salas o bicho morto apodrecia
as tripas cobertas de moscas
(os anos cobertos de culpas)
e ninguém dizia nada (;)