Diversão e Arte

Escritor Antônio Torres comenta sobre eleição para Academia Brasileira

Antônio Torres se candidatou três vezes até conseguir a aprovação de todos os componentes da academia. Hoje, ocupa a cadeira 23, que já foi de Machado de Assis e José de Alencar

Nahima Maciel
postado em 30/12/2013 08:33

Antônio: Nesse mundo tão diluído onde o pensamento está tão fragmentado e multifacetado, tudo assim muito veloz, ali [na Academia] estava bom para parar e dar uma pensada na vida, no mundo, na literatura, na história, na filosofia

Foi um amigo que sugeriu a Antônio Torres, 73 anos, pleitear um lugar na Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele mesmo, baiano de Sátiro Dias, cidadizinha próxima a Salvador, nunca havia pensado na possibilidade de ocupar uma cadeira na instituição. Mas o amigo, o poeta e professor Aleílton Fonseca, insistiu: Zélia Gattai acabara de morrer e a cadeira 23, que ocupou até então, era tradicionalmente baiana. Nela já haviam sentado Jorge Amado e Otávio Mangabeira. Torres topou e se candidatou três vezes antes de conseguir a aprovação de quase todos os membros da academia. Com 34 dos 39 votos necessários para a eleição, ele passou a ocupar a cadeira 23, que já foi de Machado de Assis e José de Alencar. ;É perdendo que se aprende os caminhos para ganhar;, destaca.

Foi uma surpresa danada e uma alegria que vai muito além de poder sentar-se à mesa do chá. Há 10 anos a ABL não elegia um romancista como membro. Torres acredita que chegou ao palacete exatamente por isso. O que também significa, para o autor, rever as próprias expectativas em relação à literatura contemporânea brasileira. Bombardeado durante anos pela ideia de que autores brasileiros não são lidos nem conhecidos, ele agora trata de se convencer do contrário. ;Minha percepção é que os brasileiros se ligam muito mais nos seus escritores do que imagina nossa vã filosofia;, constata.



Nas três eleições anteriores à do baiano, a ABL elegeu dois jornalistas e um ex-presidente. A literatura voltou à casa com propriedade. A obra de Torres está em processo de revitalização. A Record, que publica o autor, começou a relançar os títulos esgotados ; e são muitos ;, além de edições de bolso. Essa terra, o romance sobre o retirante que se desilude com São Paulo, está na 26; edição e na terceira de bolso. Meu querido canibal, a leitura de Torres para a história do índio que se aliou aos franceses com o objetivo de combater os portugueses, vai para a 10; edição e o Meninos, eu conto, para a 10;. ;E assim vai. Eu fico em estado de graça, porque é tudo que um autor quer. Nada melhor para um escritor saber que está sendo lido. Se isso está acontecendo, é graças ao leitor;, comemora.

Uma pausa

Para agradecer ; e arrebatar ; o leitor, ele não hesita em colocar o pé na estrada. Em 2013, bateu o recorde e passou por Poços de Caldas (MG), Juazeiro (BA), Salvador, Ouro Preto (MG), Urupês (SP), Curitiba e Caixias do Sul (RS) para participar de feiras do livro e encontros com os leitores. Também foi um dos convidados da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. ;O escritor hoje tem que se expor, senão fica esquecido. Você tem que ir atrás do leitor. Vamos lá, seguir o leitor pra cima e pra baixo;, acredita. Por conta desse ;pra cima e pra baixo;, o baiano precisou, mais uma vez, fazer uma pausa na escrita do próximo romance. O último, ele lançou em 2006. Pelo fundo da agulha fecha a trilogia iniciada com Essa terra ao revisitar o personagem envelhecido e em busca de raízes que já não existem mais. A tragédia marca a saga de Totonhim. ;Por trás disso tem um ensaio sobre o envelhecer;, avisa o autor.

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