Diversão e Arte

Perry Farrell e carnaval futurista revigoram o rock alternativo

Mentor do festival de música Lollapalooza, cineasta e também escultor liderou a volátil Jane's Addiction

Estado de Minas
postado em 03/01/2014 10:37

Na segunda metade dos anos 1980, Farrell e a banda Jane%u2019s Addiction uniram transe e escândalo para derrubar o muro simbólico que teimava em manter o rock alternativo

Quem trafega pela concorrida cena musical alternativa transcontinental já cruzou, obrigatoriamente, com Perry Bernstein. Vale esclarecer: esse judeu nascido no suburbano bairro nova-iorquino de Queens também atende pela alcunha de Perry Farrell.

Sim, no curto-circuito indie, Farrell é mesmo o cara. Dono de múltiplas personalidades, o camarada já foi ladrão (e fez questão de retratar isso com sarcasmo no hit Been caught stealing), gigolô (o nome de sua banda homenageia uma de suas antigas ;protegidas;, morta por overdose), escultor, cineasta e mentor do primeiro festival itinerante da história do rock: o misto de circo, ritual pagão e happening multimídia batizado como Lollapalooza. Porém, o ápice de tal inusitado currículo ainda é o posto de vocalista, compositor e líder à frente da sempre volátil Jane;s Addiction.

Na segunda metade dos anos 1980, Farrell e a banda Jane;s Addiction uniram transe e escândalo para derrubar o muro simbólico que teimava em manter o rock alternativo longe do chamado mainstream. Antes mesmo do fenômeno Nirvana, os integrantes originais do JA devastaram a caretice dos Estados Unidos ao protagonizar espetáculos trespassados por fúria ácida, em que strippers transexuais, engolidores de fogo, encantadores de serpentes e outras figuras bizarras se engalfinhavam no palco sob o embalo do som hedonista e voluptuoso das canções Whores, Mountain song, Jane says, Three days e Ocean size.



Sepultado pela primeira vez em 1991 e renascido tão subitamente quanto se viu abortado no mesmo ano de 1997; reclamado do mundo dos mortos em 2001 só para ser despachado de volta para o além em 2004; ensaiando frustradas reencarnações em 2008 e 2009 até sua monumental ressurreição em 2010, desde então nosso ;zumbizado; Jane;s Addiction parece realmente disposto a não nos deixar mais em paz. Prova disso é Live in NYC ; disponibilizado simultaneamente em CD, DVD, blu-ray, download e LP/vinil ; registro da íntegra do show do grupo apresentado no pantagruélico espaço Terminal 5, em Nova York.

FESTIM

Como forma de retribuir a fragorosa recepção que recebeu dos fãs na ;nova Babilônia;, Jane;s Addiction produziu uma extravagância multissensorial à altura de sua lenda. Enquanto dançarinas burlescas, trapezistas, vagabundos profissionais e outros inclassificáveis outsiders rodopiam acima, ao lado e abaixo do palco, o quarteto ; fustigado por um espetáculo de laser capaz de humilhar Pink Floyd, Pretty Lights e Muse juntos ; despeja sobre o público seu mix de carnaval futurista, titânica orgia e hecatombe sônica sem precedentes.

Como não poderia deixar de ser, Perry Farrell, em estado de êxtase, conduz o festim, no qual descargas de psicodelia, art-rock, funk, punk, hard e heavy metal culminam na experiência singular que poderia ser resumida em um único adjetivo: transcendente.

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