Diversão e Arte

Em entrevista, viúva de Saramago fala da relação dele com os livros

"Ele lia muito, porque ler é a melhor forma de alimentar nossa sensibilidade. Respeitava igualmente os leitores e os escritores"

postado em 12/01/2014 08:05
Antes de se tornar figura pública notável, José Saramago já havia chamado a atenção de Pilar del Río, jornalista espanhola, 28 anos mais nova e leitora compulsiva do escritor português. Somente aos 60 anos, Saramago obteve reconhecimento mundial, por meio do lançamento do quarto livro, Memorial do convento (1982). A partir dali, um público cada vez mais amplo passou a entrar em contato com o autor, conhecido pelo ferrenho ateísmo, pelas críticas ao capitalismo e pela genialidade que gerou clássicos, como Ensaio sobre a cegueira (1995), adaptado para o cinema pelo brasileiro Fernando Meirelles, e A caverna (2000).

[SAIBAMAIS]Pilar sempre o adorou. Antes mesmo de Memorial do convento e, certamente, depois. Arrebatada pela escrita do português, acabou por traduzir os principais títulos de Saramago para o espanhol. ;Desde que nos conhecemos, sabíamos que tudo seria diferente;, revelou em entrevista exclusiva ao Correio. Em 1986, a pedido dela, trocaram as primeiras palavras. Casaram-se dois anos depois. Viveram juntos até a morte do escritor, em 2010. Desde então, Pilar passou a militar pelos ideais defendidos e abordados nos livros do falecido marido, Nobel de Literatura em 1998.

Vazio preenchido
Presidente da Fundação José Saramago, em Lisboa, Pilar se aproximou de tal forma da cultura portuguesa que requereu a cidadania do país. O pedido foi atendido. ;Não queria que Portugal perdesse um habitante. Pelo menos, em termos numéricos, eu substituí o eco deixado por Saramago;, poetizou a jornalista.

Pilar e Saramago: uma relação de amor e respeito até a morte do escritor, em 2010

Em entrevista ao Correio, Pilar del Río se lembra dos leitores preferidos do José Saramago, como Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges e Carlos Drummond de Andrade. ;Ele lia muito, porque ler é a melhor forma de alimentar nossa sensibilidade. Respeitava igualmente os leitores e os escritores.; Apaixonada, destaca: ;José Saramago tira nossos pés do chão;.

Os países latinos parecem digerir Saramago mais facilmente;

Perdão, mas, nos Estados Unidos, por exemplo, José Saramago é muito lido, os livros se reeditam continuamente. São utilizados como roteiros, levados ao cinema. Saramago recebeu, por lá, o título de doutor honoris causa. Há estudos sobre sua obra, teses de doutorado; Creio que, entre os autores cultos, é um dos mais procurados. A caverna figurou na lista de mais vendidos, assim como O evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a cegueira;

[SAIBAMAIS]O Brasil está vivendo um momento de expansão das feiras literárias, que ganham contornos de negócio. Saramago era crítico à Feira do Livro de Frankfurt, por exemplo. Devemos ter cuidado?
As feiras literárias são uma realização, uma conquista que precisa ser potencializada. Saramago adorava ir à Feira de Guadalajara e outras, como a de Lisboa, que são feiras de leitores e escritores, de encontros, como a Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco) ou a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), no Rio de Janeiro. A diferença de Frankfurt é que se trata de uma feira de negócios, de editores, onde o autor se sente perdido frente à vórtice do mercado. Saramago não tinha problemas com a Feira do Livro de Frankfurt, mas digo que ele não voltaria por não ser o seu lugar, e sim do seu agente.

Surpreende saber que muitos desconhecem a obra de José Saramago?
Creio que muitos não conhecem Mozart; Lamento, pois conhecer as pessoas que engrandeceram nossos tempos é crescer em sabedoria e sensibilidade. Mas assim é a vida.

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