Eles não estavam exatamente em grande forma. Lou Reed, fora do Velvet Underground, questionava até mesmo se queria continuar fazendo música. Pensava sem pressa sobre o futuro na casa dos pais, em Long Island, trabalhando na empresa de contabilidade da família. Iggy Pop já tinha enfiado o pé na jaca vezes a perder de vista. E Os Stooges não tinham passado de uma promessa. A banda havia implodido há pouco e ele, sem muito o que fazer, afundava na heroína. E David Bowie, a despeito de planos de sucesso e uma veia prolífica para a composição, ainda não tinha conseguido sair do lugar.
Pois eis que na Nova York de 1971 os três se encontraram. Dangerous glitter ; Como David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop foram ao inferno e salvaram o rock;n;roll (Editora Veneta, 400 páginas, R$ 79,90), do jornalista britânico Dave Thompson, a partir do recorte explicitado no subtítulo da tradução brasileira, retrata esse período por meio de entrevistas e observações ácidas do autor. Thompson é um especialista em Bowie e assina uma centena de livros, muitos deles dedicados à música pop. Lançado originalmente em 2009, no Brasil virou um livrão de capa dura, repleto de fotografias e desenhos, mas não exatamente o formato ideal para a leitura de uma extensa reportagem.
Parcerias
Bowie produziu Transformer em 1972, primeiro álbum solo de Reed e aquele que determinou as bases de sua carreira. Também levou Iggy para a Inglaterra, se esforçou para que os Stooges voltassem a se reunir, resultando em seu terceiro álbum, ;Raw power;, mixado pelo próprio Bowie. O reconhecimento de público que ele tanto almejava também chegou no mesmo período, com o fundamental The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. O glitter rock tinha agora seu protagonista, e o punk rock os atores ideais para que pudesse florescer.
Tudo isso está retratado na obra de Thompson. Mas o que faz a narrativa crescer é o entorno, com personagens secundários que foram essenciais para os protagonistas. É clara uma certa preferência do autor pela figura de Lou Reed, que ganha a primeira parte da história. O nascimento do Velvet Underground e o cenário de excessos da Nova York da segunda metade da década de 1960 têm duas figuras de destaque. A começar pela modelo alemã Nico, que gravou com o Velvet Underground o clássico álbum ;da banana;, é uma espécie de Pattie Boyd da era glam. A exemplo da loura que se dividiu entre George Harrison e Eric Clapton, Nico namorou Reed (que nunca deu muita bola para ela) e Iggy, bem como Jim Morrison e Alain Delon.
Andy Warhol, catalisador de todas essas figuras, permeia boa parte da história. Com a Factory, que serviu como cenário para que o Velvet Underground florescesse, e toda cena alternativa nova-iorquina a seu dispor, o artista tem passagens impagáveis no livro. Uma das melhores é do primeiro encontro dele com Bowie. Nervoso, o britânico chegou sem saber o que dizer para o artista, que mais ouvia do que falava. Mostrou a ele a canção feita em sua homenagem, ;Andy Warhol; (gravada em 1971). Andy odiou, causando constrangimento a Bowie, que, no entanto, lhe chamou a atenção pelos sapatos amarelos, muito elogiados. Foi o único diálogo que os dois tiveram naquela ocasião.
[SAIBAMAIS]A narrativa continua explorando esse universo de androginia, sexo, purpurina, álcool, maquiagem, drogas. A maneira como o autor cruza as histórias faz um retrato irretocável da época, 40 anos depois. Com a cultura dos excessos, o rock nunca mais foi o mesmo.
Exposição do camaleão está chegando ao Brasil
Longe dos palcos desde 2006, quando participou de um evento beneficente em Nova York, rara aparição após uma angioplastia sofrida dois anos antes, mesmo assim David Bowie mantém proximidade com seu público. Com 67 anos recém-completados, ele lançou um dos álbuns mais incensados de 2013, ;The next day;; teve recentemente parte de sua discografia relançada, incluindo Ziggy Stardust (1972) e Aladdin Sane (1973); e ganhou uma exposição comemorativa dos 50 anos de carreira, a incensada David Bowie is.
Apresentada entre março e agosto do ano passado no Victoria & Albert Museum ( V), em Londres, a mostra depois foi para Toronto (Canadá) e chega a São Paulo no fim deste mês. Após a bem-sucedida experiência com Stanley Kubrick, exposição terminada ontem que fez o Museu da Imagem e do Som receber, pela primeira vez, extensas filas de visitantes, a mesma instituição abre dia 31 a mostra organizada pelo V, que criou a retrospectiva com os arquivos do próprio músico. O barulho na Inglaterra foi significativo: 40 mil ingressos foram vendidos antecipadamente, um recorde dos museus britânicos.
Por aqui os ingressos também estão à venda. A exposição, que no Brasil vai se chamar apenas David Bowie, terá cerca de 300 itens, incluindo manuscritos de letras e figurinos originais. Estarão na mostra, que ficará em cartaz em São Paulo até 20 de abril, o macacão em vinil e a bota plataforma que Bowie usou na turnê de ;Aladdin Sane;; o terno com que aparece no curta Life on Mars? e a calça e jaqueta feitas para ;Ziggy Stardust;. No material iconográfico está a foto feita para a banda The Kon-rads, quando Bowie tinha 16 anos, além de uma imagem dele com o escritor William Burroughs.
A Cosac Naify já colocou em pré-venda em seu site o livro da exposição, editado pelo MIS a partir da edição original inglesa. Além das imagens que serão vistas na exposição, a obra apresenta a trajetória de Bowie e ensaios sobre música, cinema e comportamento.
DAVID BOWIE
Abertura dia 31, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Os ingressos custam R$ 25 já podem ser adquiridos pelo site ingressorapido.com.br. O livro David Bowie (R$ 119,90) está em pré-venda no site editora.cosacnaify.com.br.