A mãe de Riachão costumava contar que, quando o garoto veio ao mundo ; e aí já se vai quase um século ;, a avó soltou: ;Maria, esse menino é diferente!”. Foi a dona da exclamação, uma ;aparadeira;, na linguagem regional, quem fez o parto. A criança tinha todos os membros no lugar, mas havia certa bossa incomum em seus trejeitos. Clementino Rodrigues, mais tarde Riachão, cresceu ouvindo e divertindo-se com a história. Sentia mesmo que era mesmo diferente. Mais tarde, sacou o que era: ;Minha vida é cantar. Nasci assim;. Aos 92 anos, ele relembra o causo ao Correio do mesmo local onde o fato ocorreu, no bairro do Garcia, em Salvador. Riachão passou a vida no terreno que era de seus pais, e hoje vive cercado pelos netos.
O cantor e compositor de sambas de roda que teve a arte revelada ao Brasil em 1972, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso, voltando do exílio londrino, gravaram Cada macaco no seu galho, só demonstra a idade avançada por conta da fragilizada audição. A conversa por telefone não ajuda muito. Mas a voz é firme, sempre a postos para entoar alguma canção e complementar a resposta. A saúde, ele diz, vai muito bem. ;Minha vida é cuidar de meus bichinhos, minhas galinhas. E das plantações: araçá, coco, banana. É minha distração. São 92 anos de felicidade;, diz.
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Riachão, filho das tradições musicais do Recôncavo Baiano, acredita ter composto mais de 500 canções ao longo da vida. ;Tinha vezes que nascia uma por segundo, só você vendo. Coisa linda que Deus fez comigo. Músicas macias como água;, conta. A maior parte das criações, contudo, foi ficando pelo caminho. ;Já me esqueci de quase todas. No nosso tempo, não se gravava;, lamenta. Ano passado, o baiano enfurnou-se em um estúdio em São Paulo e tratou de apertar a memória. Conseguiu recapitular 71 canções inéditas, todas devidamente registradas.
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