Nahima Maciel
postado em 21/01/2014 10:09
O maestro italiano Claudio Abbado acreditava que, cumprida a missão diante de uma orquestra, devia seguir adiante. Podia ficar duas décadas em um posto, mas nunca o encarava como uma missão vitalícia. Assim, acabou por se tornar o diretor artístico das orquestras mais importantes do século 20. No entanto, um câncer diagnosticado há 15 anos deixou vazia uma das cadeiras no olimpo dos 10 maestros mais significativos do século 20. Abbado morreu na madrugada de ontem, aos 80 anos, em sua casa em Bolonha, na região central da Itália.
Uma das últimas aparições do maestro foi no verão do ano passado, à frente da Orquestra do Festival de Lucerna, fundada por ele em 2003. No segundo semestre do ano passado, durante turnê com a orquestra, ele precisou cancelar apresentações em Tóquio por já estar com a saúde debilitada. Suas últimas apresentações levaram aos palcos do mundo a Sinfonia Inacabada, de Franz Schubert, e a Sinfonia nº 9, de Bruckner, em performances aclamadas pela crítica como inesquecíveis. Abbado elevou a música erudita a um patamar único com uma batuta capaz de mergulhar com profundidade e emoção especialmente no universo musical romântico e clássico dos séculos 18 e 19.
A habilidade em extrair do conjunto harmonias que transformavam seus concertos em verdadeiras experiências sensoriais também esteve registrada em uma discografia notável. Só com a Deutsche Garmmophon, o nome do maestro aparece em mais de 330 discos com os quais percorreu praticamente toda a história da música erudita. Alguns são inevitáveis para uma discoteca do gênero, caso dos registros das sinfonias de Brahms, Beethoven e Mahler. Para o crítico e escritor Norman Lebrecht, autor de O mito do maestro, Abbado era um homem extremamente doce, mas firme. %u201CA essa altura, quero lembrar do homem Abbado: determinado, inspirador, tímido e com um sorriso que podia derreter qualquer geleira. Ele era um maestro de primeira linha%u201D, escreveu Lebrecht, em homenagem publicada na revista Arts Journal.