Nahima Maciel
postado em 27/01/2014 08:01
Lourenço Mutarelli não sabe ao certo o que faz sua escrita ser tão apreciada por diretores de cinema, mas o fato é que, ao lado de Marçal Aquino e Rubem Fonseca, o autor paulistano está entre os escritores contemporâneos mais requisitados pelo cinema nacional. Tudo começou com o O cheiro do ralo, adaptado por Heitor Dhalia. Depois, o escritor vendeu os direitos de O natimorto e daí em diante passou a escrever também sob encomenda para produtores e diretores interessados em suas histórias.
O feito mais recente é a adaptação de A arte de produzir efeito sem causa. O filme foi batizado de Quando eu era vivo e entra em cartaz no circuito comercial no fim do mês. Dirigido por Marco Dutra e adaptado em parceria com Gabriela Almeida, que assina o roteiro, o longa tem Antônio Fagundes, Sandy Leah e Marat Descartes como protagonistas de uma loucura progressiva e um enclausuramento doentio. Mutarelli também acaba de terminar um livro a pedido do produtor Fernando Sanches. O grifo de Abdera entrecruza três histórias e nasceu porque o produtor queria uma história nova de Mutarelli para adaptar para o cinema.
Por enquanto, ele curte Quando eu era vivo. Em cena, o autor repete a experiência como ator em um papel pra lá de secundário. A primeira vez foi em O cheiro do ralo: o escritor fazia o segurança da loja de quinquilharia. Ele se sentiu tão à vontade que decidiu continuar. Também gostou muito do roteiro de Dutra e Gabriela. Normalmente, Mutarelli aprecia os filmes que resultam de seus livros. ;Eu sabia que o filme ia ser melhor que o roteiro;, compara. ;Eu estranho um pouco as mudanças, mas é uma adaptação. Eu gostei, achei interessante que ele tenha mudado certas coisas porque é o filme dele, eu vendi os direitos. Estou curioso para ver, gosto muito do trailer.;
O feito mais recente é a adaptação de A arte de produzir efeito sem causa. O filme foi batizado de Quando eu era vivo e entra em cartaz no circuito comercial no fim do mês. Dirigido por Marco Dutra e adaptado em parceria com Gabriela Almeida, que assina o roteiro, o longa tem Antônio Fagundes, Sandy Leah e Marat Descartes como protagonistas de uma loucura progressiva e um enclausuramento doentio. Mutarelli também acaba de terminar um livro a pedido do produtor Fernando Sanches. O grifo de Abdera entrecruza três histórias e nasceu porque o produtor queria uma história nova de Mutarelli para adaptar para o cinema.
Por enquanto, ele curte Quando eu era vivo. Em cena, o autor repete a experiência como ator em um papel pra lá de secundário. A primeira vez foi em O cheiro do ralo: o escritor fazia o segurança da loja de quinquilharia. Ele se sentiu tão à vontade que decidiu continuar. Também gostou muito do roteiro de Dutra e Gabriela. Normalmente, Mutarelli aprecia os filmes que resultam de seus livros. ;Eu sabia que o filme ia ser melhor que o roteiro;, compara. ;Eu estranho um pouco as mudanças, mas é uma adaptação. Eu gostei, achei interessante que ele tenha mudado certas coisas porque é o filme dele, eu vendi os direitos. Estou curioso para ver, gosto muito do trailer.;
Leia a entrevista com o autor Lourenço Mutarelli:
Você é um autor cujos livros são muito procurados por diretores para serem aptados para o cinema. Você acha que tem uma escrita que atrai os diretores?
Eu não sei. Trabalhei também com o Rodrigo Teixeira, que tem a RT Features, ele comprava direitos dos meus livros antecipados. Também já vendi outros livros que não faziam parte dessa nossa parceria. Às vezes é um modismo, não sei. Mas realmente tem acontecido. Às vezes, me encomendam roteiro também, mas faço como livro porque nunca trabalho com roteiro. Eu tenho um dsitanciamento grande, não tenho apego. O Arte de produzir efeito sem causa é o meu livro que mais gosto, mas acho que são coisas difernetes, por mais fiel seja é sempre uma adaptação. Acho que o livro está protegido no livro e o filme é o filme.
Escrever é doído?
Não, não é. Só em raros momentos. É doído, às vezes, quando não encontro a palavra, quando não consigo transformar em palavra o que está na minha cabeça. Isso é uma coisa ruim. Mas não é doído, pelo contrário , é muito catártico, uma coisa que me torna melhor. Me ajuda muito o meu trabalho.
No caso de A arte de produzir efeito sem causa tem essa coisa do personagem entrar na cabeça dos outros e isso é uma constante nos teus livros. O que te fascina nessa estratégia?
É porque preciso ir fundo nesse personagem e tentar trazer o leitor para mais perto. Uma coisa que levei muito tempo (para escrever o livro) é que eu criava o que achava que eram momentos e ia cresencdo uma perturbação em quem estivessem lendo, ia desorientando um pouco. Era um jogo que eu fazia com palavras e isso era muito interessante para mim.
O que você gosta da literatura contemporânea brasileira?
Leio muito pouca literatura contemporânea não só brasileira, mas do mundo todo. Leio mais uma fase, gosto de alguns autores e tento ler a obra completa deles. Dos contemporâneos, leio meus amigos, que são vários. Gosto muito da voz do Marcelino Freire, adorei esse romance dele, adorei o romance do Glauco Mattoso, que é todo em soneto. Acompanho o Ferrez e acompanho algumas pessoas, como o Marçal.
E o que te fisgou nessas leituras?
De uns anos para cá, o Antonio Prfata me indicou o Kurt Vonnegut, que eu nunca tinha lido. Ele falou que tinha um parentesco com meu trabalho e fiquei fascinado. É um cara que me influenciou sem eu nunca ter lido. E tou segurando os dois que faltam ainda pra nunca acabar. É um amigo que encontrei.
Marco Dutra
Como foi seu primeiro contato com o livro e por que quis fazer o filme?
Estava escrevendo uma adaptação do Mutarelli de um quadrinho chamado Desgraçados, para outro diretor. Eu trabalhava muito como roteirista em 2008 e 2009 e, para entender melhor o Desgraçados, porque achei uma obra muito enigmática, li tudo do Lourenço que tinha sido publicado até então. A arte de produzir efeito sem causa era a última coisa dele, tinha acabado de sair. Se não me engano, o quarto romance. Ele escreveu muitos quadrinhos ao longo dos anos 1980 e 1990 e tinha abandonado. Estava só nos romances. E aí falei para o Rodrigo Teixeira, o produtor, que tinha ficado muito impressionado com A arte. Sabia que os direitos eram dele e que achava que tinha um caminho, apesar de parecer, a princípio, inadaptável, mas era muito tentador por causa do tema do pai e do filho, da tensão. E achava isso muito interessante para tentar levar para o cinema. O produtor falou que não era a hora de levar esse livro para o cinema, que ele estava com outros projetos prioritários. Passou o tempo, fiz outros trabalhos, o Desgraçados não foi pra frente. E fui me dedicar ao Trabalhar cansa, meu primeiro trabalho. Depois de o Rodrigo me chamou para conversar e perguntou se eu ainda estava interessado. Respondi que estava com muita vontade. Fui reler o livro para saber se ainda estava conectado a ele, porque já havia passado dois anos. E foi ótimo porque vi que não só estava conectado ao livro como descobri coisas novas naquele universo de pai e filho. E achei que seria desafiador encarar uma adaptação.
O texto do Mutraelli tem um ritmo muito framgentado. Como vocês lidaram com isso?
O livro tem um narrador muito específico porque é um narrador em terceira pessoa, mas que assume a voz narrativa subjetiva para todos os personagens do livro. O que dá essa coisa fragmentada do livro é que ele entra na cabeça de todo mundo, sai da cabeça de todo mundo, inclusive assume uma consciência externa dos personagens, comenta e opina sobre as situações dele. E de repente vira um comentador da ação. Acho que esse narrador superfragmentado espelha o processo de loucura do Júnior no livro. E entender isso foi essencial para conseguir levar o texto para a dramaturgia, para a narrativa de cinema, que é muito mais direta, com menos ferramentas de subjetivação que a literatura. A gente leu a fragmentação como um momento dentro da loucura do Júnior e isso a gente tentou usar como fio condutor do filme.
E o clima do livro, como vocês mantiveram no filme?
É um livro muito sombrio, que também desafia os gêneros. Não consigo classificar ele numa vertente. Por conta desa fragmentação toda, acho que é um livro muito cheio de acidentes, não é uniforme. Tem capítulo que tem um tom, tem capítulos que têm outro tom e isso é muito em função do processo de autodescoberta e de loucura do Júnior. O que acho que tem no livro e que foi importante compreender para levar para o filme é a relação de Júnior com o pai ir avançlando na direção de um final violento. O livro termina com a sugestão de que o filho vai matar o pai: é um extremo de violência, ele não chega a confirmar isso, você não lê, mas vê que é a promessa do final do livro. É uma progressão muito sombria, carrega um tom muito poderoso que foi o que a gente tentou levar para o filme em forma de suspense. Não consigo dizer ;o livro é de suspense; porque a literatura tem outras categorias e classificações, mas no cinema essa ferramenta do suspense foi essencial para encontrar nosso caminho de adaptação.
Tem livros mais ou menos adaptáveis para o cinema?
Acho que sim, mas não acho que exista nada impossível de adaptar. Pode ser um poema, um quadro, um romance, uma canção, se te impacta o suficiente para poder gerar uma reverberação emocional e você conseguir produzir a partir daquilo uma obra que mantenha a reverberaçõa, que não mate essa reverberação, aí acho que isso é uma adaptação.
Você é um autor cujos livros são muito procurados por diretores para serem aptados para o cinema. Você acha que tem uma escrita que atrai os diretores?
Eu não sei. Trabalhei também com o Rodrigo Teixeira, que tem a RT Features, ele comprava direitos dos meus livros antecipados. Também já vendi outros livros que não faziam parte dessa nossa parceria. Às vezes é um modismo, não sei. Mas realmente tem acontecido. Às vezes, me encomendam roteiro também, mas faço como livro porque nunca trabalho com roteiro. Eu tenho um dsitanciamento grande, não tenho apego. O Arte de produzir efeito sem causa é o meu livro que mais gosto, mas acho que são coisas difernetes, por mais fiel seja é sempre uma adaptação. Acho que o livro está protegido no livro e o filme é o filme.
Escrever é doído?
Não, não é. Só em raros momentos. É doído, às vezes, quando não encontro a palavra, quando não consigo transformar em palavra o que está na minha cabeça. Isso é uma coisa ruim. Mas não é doído, pelo contrário , é muito catártico, uma coisa que me torna melhor. Me ajuda muito o meu trabalho.
No caso de A arte de produzir efeito sem causa tem essa coisa do personagem entrar na cabeça dos outros e isso é uma constante nos teus livros. O que te fascina nessa estratégia?
É porque preciso ir fundo nesse personagem e tentar trazer o leitor para mais perto. Uma coisa que levei muito tempo (para escrever o livro) é que eu criava o que achava que eram momentos e ia cresencdo uma perturbação em quem estivessem lendo, ia desorientando um pouco. Era um jogo que eu fazia com palavras e isso era muito interessante para mim.
O que você gosta da literatura contemporânea brasileira?
Leio muito pouca literatura contemporânea não só brasileira, mas do mundo todo. Leio mais uma fase, gosto de alguns autores e tento ler a obra completa deles. Dos contemporâneos, leio meus amigos, que são vários. Gosto muito da voz do Marcelino Freire, adorei esse romance dele, adorei o romance do Glauco Mattoso, que é todo em soneto. Acompanho o Ferrez e acompanho algumas pessoas, como o Marçal.
E o que te fisgou nessas leituras?
De uns anos para cá, o Antonio Prfata me indicou o Kurt Vonnegut, que eu nunca tinha lido. Ele falou que tinha um parentesco com meu trabalho e fiquei fascinado. É um cara que me influenciou sem eu nunca ter lido. E tou segurando os dois que faltam ainda pra nunca acabar. É um amigo que encontrei.
Marco Dutra
Como foi seu primeiro contato com o livro e por que quis fazer o filme?
Estava escrevendo uma adaptação do Mutarelli de um quadrinho chamado Desgraçados, para outro diretor. Eu trabalhava muito como roteirista em 2008 e 2009 e, para entender melhor o Desgraçados, porque achei uma obra muito enigmática, li tudo do Lourenço que tinha sido publicado até então. A arte de produzir efeito sem causa era a última coisa dele, tinha acabado de sair. Se não me engano, o quarto romance. Ele escreveu muitos quadrinhos ao longo dos anos 1980 e 1990 e tinha abandonado. Estava só nos romances. E aí falei para o Rodrigo Teixeira, o produtor, que tinha ficado muito impressionado com A arte. Sabia que os direitos eram dele e que achava que tinha um caminho, apesar de parecer, a princípio, inadaptável, mas era muito tentador por causa do tema do pai e do filho, da tensão. E achava isso muito interessante para tentar levar para o cinema. O produtor falou que não era a hora de levar esse livro para o cinema, que ele estava com outros projetos prioritários. Passou o tempo, fiz outros trabalhos, o Desgraçados não foi pra frente. E fui me dedicar ao Trabalhar cansa, meu primeiro trabalho. Depois de o Rodrigo me chamou para conversar e perguntou se eu ainda estava interessado. Respondi que estava com muita vontade. Fui reler o livro para saber se ainda estava conectado a ele, porque já havia passado dois anos. E foi ótimo porque vi que não só estava conectado ao livro como descobri coisas novas naquele universo de pai e filho. E achei que seria desafiador encarar uma adaptação.
O texto do Mutraelli tem um ritmo muito framgentado. Como vocês lidaram com isso?
O livro tem um narrador muito específico porque é um narrador em terceira pessoa, mas que assume a voz narrativa subjetiva para todos os personagens do livro. O que dá essa coisa fragmentada do livro é que ele entra na cabeça de todo mundo, sai da cabeça de todo mundo, inclusive assume uma consciência externa dos personagens, comenta e opina sobre as situações dele. E de repente vira um comentador da ação. Acho que esse narrador superfragmentado espelha o processo de loucura do Júnior no livro. E entender isso foi essencial para conseguir levar o texto para a dramaturgia, para a narrativa de cinema, que é muito mais direta, com menos ferramentas de subjetivação que a literatura. A gente leu a fragmentação como um momento dentro da loucura do Júnior e isso a gente tentou usar como fio condutor do filme.
E o clima do livro, como vocês mantiveram no filme?
É um livro muito sombrio, que também desafia os gêneros. Não consigo classificar ele numa vertente. Por conta desa fragmentação toda, acho que é um livro muito cheio de acidentes, não é uniforme. Tem capítulo que tem um tom, tem capítulos que têm outro tom e isso é muito em função do processo de autodescoberta e de loucura do Júnior. O que acho que tem no livro e que foi importante compreender para levar para o filme é a relação de Júnior com o pai ir avançlando na direção de um final violento. O livro termina com a sugestão de que o filho vai matar o pai: é um extremo de violência, ele não chega a confirmar isso, você não lê, mas vê que é a promessa do final do livro. É uma progressão muito sombria, carrega um tom muito poderoso que foi o que a gente tentou levar para o filme em forma de suspense. Não consigo dizer ;o livro é de suspense; porque a literatura tem outras categorias e classificações, mas no cinema essa ferramenta do suspense foi essencial para encontrar nosso caminho de adaptação.
Tem livros mais ou menos adaptáveis para o cinema?
Acho que sim, mas não acho que exista nada impossível de adaptar. Pode ser um poema, um quadro, um romance, uma canção, se te impacta o suficiente para poder gerar uma reverberação emocional e você conseguir produzir a partir daquilo uma obra que mantenha a reverberaçõa, que não mate essa reverberação, aí acho que isso é uma adaptação.
Assista ao trailer do filme:
[VIDEO1]
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