Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Indicado a 10 Oscars, filme Trapaça é exercício de estilo vintage

O longa resgata o visual e a música da década de 1970



Apesar de haver boas chances, dar o prêmio de melhor direção a David O. Russell desta vez soaria meio estranho, já que ele praticamente copia a maneira de filmar e narrar de Martin Scorsese, seu concorrente direto em 2014 com O Lobo de Wall Street. Do clássico estilo scorsesiano, estão lá as imagens congeladas, as narrações em off, os flashbacks alternados, as câmeras que flutuam pelos espaços seguindo os personagens e uma sequência de prisões de poderosos (sempre perto do final do filme), entre outros detalhes.

Trapaça retrata um acordo entre um detetive do FBI (Cooper) e o trambiqueiro Irving Rosenfeld (Bale) com o objetivo de levar políticos corruptos para a prisão na década de 1970 (a época proporciona ao filme um visual estiloso e uma trilha sonora retrô). Para reduzir a pena por seus crimes, o trapaceiro aceita colaborar com a polícia e ajudar a armar transações de suborno que levariam para a cadeia o prefeito de Nova Jersey e um grupo de parlamentares.

Jennifer e Amy interpretam respectivamente a esposa e a amante (e comparsa) de Rosenfeld, que sempre corre o risco de pôr tudo a perder por causa das pressões das duas. Robert De Niro (outro elemento scorseseano) rouba a cena em uma ponta, no papel de um chefão dos cassinos de Miami.

Uma questão interessante nas entrelinhas do filme está na postura dos políticos, que entram em esquemas de corrupção sob a alegação de estarem trabalhando em nome do bem da população (algo bastante familiar para os brasileiros). Eles não necessariamente cometem seus crimes para enriquecer pessoalmente, mas para trazer novos investimentos e empregos para a comunidade de eleitores que representam. Essa situação é simbolizada principalmente na figura ingênua do prefeito, interpretado por Jeremy Renner (o Hawkeye de Os Vingadores), que ficou fora do esqueminha das indicações ao Oscar.

Essas questões éticas, na verdade, são um detalhe (até porque é um filme sobre trambiques), pois o mais importante é acompanhar as pegadinhas do roteiro e o desfile de decotes, perucas, ternos, óculos e cabelos artificialmente cacheados em cenários cobertos de papéis de parede vintage.
Assista ao trailer de Trapaça:
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