No fim de Gravidade, o nome do britânico Chris Lawrence é um dos primeiros que aparecem quando começam a subir os letreiros finais. Creditado como "supervisor de computação gráfica" (CG Supervisor), ele foi o principal responsável pelo uso de recursos visuais digitais no filme. Seu trabalho envolve tanto a construção virtual do ambiente espacial quanto a representação do planeta Terra, das estrelas, dos satélites, das estações espaciais, das cápsulas e dos próprios astronautas (apenas o rosto dos atores precisou ser fotograficamente filmado na maioria das cenas).
Indicado ao Oscar em 10 categorias, incluindo melhor filme, Gravidade é uma obra diferenciada justamente por causa de sua engenhosidade técnica. É praticamente uma animação com atores, pois a maioria das imagens mostradas na tela foi gerada por computador. Sua contribuição para o cinema está na inédita sensação de imersão sensorial espacial proporcionada pelos efeitos tridimensionais.
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Lawrence, que cedeu entrevista ao Diario por e-mail, está entre os quatro nomes mencionados na indicação de Gravidade ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Visuais, ao lado de Tim Webber, David Shirk e Neil Corbould. Ele, que estará na cerimônia de premiação em Los Angeles e pode subir ao palco, faz parte da equipe da empresa inglesa Framestore e também trabalhou em filmes como Wall-E, Harry Potter e o cálice de fogo, Ratatouille e A fantástica fábrica de chocolate.
entrevista >> Chris Lawrence
Quantos por cento das imagens de Gravidade são feitas de computação gráfica?
É difícil calcular uma porcentagem da quantidade de imagens geradas por computador, mas é muito! Eu acho que cerca de uma hora do filme tem predominância de computação gráfica, onde apenas os rostos dos atores são fotograficamente filmados, inseridos dentro dos visores dos capacetes.
Quando o planeta Terra aparece na tela, a relação entre a geografia dos continentes e o movimento de rotação é real? Ou vocês criaram as paisagens livremente?
Nós tivemos um cuidado grande com o planeta Terra. Tim Webber (supevisor de efeitos especiais), Alfonso Cuaron (diretor) and Emmanuel Lubezki (diretor de fotografia) nos passaram a trajetória do filme ao redor da Terra e planejaram as horas do dia em cada estágio da órbita. As paisagens geográficas e ângulos foram todos construídos a partir do que você veria se estivesse naquela altitude.
As estrelas e constelações que aparecem no filme são baseadas no mapa real do espaço? É, possível, por exemplo, identificar as constelações no filme?
As estrelas são baseadas nas informações reais sobre as estrelas como as vemos da Terra. Elas são autênticas!
Mais de 250 técnicos e artistas trabalharam nos efeitos especiais de Gravidade. Como você poderia nos explicar sua atribuição específica nessa equipe?
Nós temos um grande time na Framestore. Cerca de 440 pessoas trabalharam no filme. Em um momento de ápice, havia cerca de 250 pessoas trabalhando ao mesmo tempo! Meu crédito é de "Supervisor de Computação Gráfica". Eu me responsabilizo por um grupo formado por pessoas de disciplinas diferentes: As pessoas que fazem a modelagem e a texturização do interior e do exterior da Estação Espacial Internacional; As equipes técnicas que tinha que descobrir como resolver todo tipo de problemas com a movimentação da câmera a partir de movimentos robóticos baseados nos desenhos de Alfonso Cuarón; A equipe de iluminação que trabalhou a partir das orientações de Emmanuel Lubezki sobre o comportamento da luz nas cenas de computação gráfica; O time que tinha que reencaixar o material filmado para construir os longos planos contínuos sem cortes; O grupo que precisava elaborar as complexas simulações de destruição, envolvendo os pára-quedas, os cabos, as cordas e as roupas espaciais dos astronautas. É claro que o time era bastante esforçado e fui auxiliado pelos melhores especialistas que são são super-stars em todas essas disciplinas. Meu trabalho era garantir que todos estavam seguindo adiante.
Em Gravidade, os efeitos mecânicos e as movimentações da câmera eram tão importantes quando a computação gráfica?
Gravidade foi uma grande fusão entre efeitos físicos e visuais. A câmera era conduzida por um robô que era controlado diretamente por um software de animação. Em acréscimo a isso, nós tínhamos uma caixa de telas de LED projetando em tempo real o ambiente digital que proporcionava luz e sugestões de movimentação para os atores. Era muito complicado sincronizar tudo isso em tempo real, quando fazíamos isso funcionar era como orquestrar um grande concerto.
Você acredita que a natureza pode ser visualmente 100% reproduzida digitalmente? O que o computador não pode reproduzir?
A computação gráfica costuma ser uma simulação da natureza, mas a natureza é muito complicada e é intrinsecamente impossível simulá-la em toda a sua infinita complexidade! Em Gravidade, nos esforçamos para simular o máximo possível para garantir que tudo parecesse real. Nós simulamos o balanceamento das luzes ao redor e a maneira como as coisas moviam-se. A questão é que, por mais que sejamos espertos, nossas simulações nunca vão ser tão complexas quanto a própria natureza. É isso que torna a vida especial!
Você tem projetos pessoais autorais ou você sempre vai trabalhar para projetos de outras pessoas?
Não tenho tempo para projetos pessoais autorais, mas eu realmente adoro trabalhar com pessoas extremamente criativas. Eu gostaria muito de ter tempo para colaborar com artistas amigos algum dia.
Veja vídeo (em inglês) sobre os bastidores das filmagens:
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OSCAR 2014
Conheça os concorrentes de Gravidade na categoria de Melhores Efeitos Visuais:
O hobbit: A desolação de Smaug
Os efeitos digitais do filme permitiram a criação de seres como aranhas gigantes e o dragão Smaug, construções e paisagens fictícias da Terra Média, como cidades, florestas e montanhas. A computação gráfica pode ser sentida ainda em detalhes como o céu, o fogo, os feitiços e o ouro (tanto sólido quanto derretido).
O cavaleiro solitário
Apesar de ter fracassado nas bilheterias, a superprodução tem sequência impressionante perto do final, quando o herói mascarado e o índio Tonto participam de uma perseguição em cima de trens (a explosão de uma ponte ferroviária também é muito bem feita). Mesmo ambientado no século 19, o filme é um show de tecnologia cheio de explosões.
Homem de Ferro 3
Na série do super-herói metálico, os efeitos especiais impressionam principalmente na composição das armaduras, que possuem um aspecto sólido e não se parecem com uma animação computadorizada tridimensional holográfica. As cenas aéreas e a demolição da casa do milionário Tony Stark são as mais complexas.
Star Trek: Além da Escuridão
O mais recente episódio de Jornada nas Estrelas é um filme de ação frenético. Além das imagens espaciais, a espetacular queda de uma nave na água antes de atingir prédios de São Francisco já justifica a indicação ao Oscar. Há a simulação de ambientes como um planeta vermelho e o interior de um vulcão.