Agência France-Presse
postado em 11/02/2014 14:16
Paris - Dez anos após a morte de Henri Cartier-Bresson, o Centro Pompidou, um dos mais importantes museus de arte moderna de Paris, inaugura uma grande retrospectiva sobre o fotógrafo francês, cuja obra abrange boa parte do século 20. Mais de 500 fotografias, desenhos, pinturas, filmes e documentos ajudam a fazer uma releitura sobre o trabalho do fotógrafo.Henri Cartier-Bresson (1908-2004) foi "constantemente visto como o homem de um único tipo de foto, aquela do ;instante decisivo;", explica Clément Chéroux, representante da exposição. "Nós queríamos demonstrar que existem vários Henri Cartier-Bresson", diz Chéroux. A mostra do Centro Pompidou é a primeira retrospectiva consagrada ao artista, na Europa, desde sua morte.
Ainda jovem, Cartier-Bresson se aventurou na fotografia e se encontrou no surrealismo. "Em seguida aparece um fotógrafo que se alia politicamente aos comunistas e se interessa pelo cinema como meio de propaganda. O fotojornalista surge apenas em 1947, com a criação da agência Magnum", conta Chéroux, curador de fotografia no Museu Nacional de Arte Moderna.
Filho de um empresário da indústria têxtil, o jovem Cartier-Bresson adora pintar e desenhar. Ele passa a integrar o atelier do pintor André Lhote, onde adquire o gosto pela composição e pela geometria, e encontra René Crevel, que o apresenta aos surrealistas.
Em 1930, ele vai para a África, onde vive um ano. Deixando de lado o apelo exótico despertado pelo continente, Cartier-Bresson fotografa o ritmo de vida africano.
Olhar sobre a vida
De volta à França, ele compra uma câmera Leica, "o instrumento perfeito para o desenho acelerado e o exercício do olhar sobre a vida", como explicou em 1986. "Eu revirava os lugares e saía por aí com esse aparelho. Mas, além disso, eu levava comigo uma bagagem literária e visual".
Após compor, intuitivamente, fotos seguindo a proporção áurea e fazer imagens surrealistas que buscam captar a "beleza convulsiva" de André Breton, Cartier-Bresson se volta para um fotografia documental. Companheiro de luta dos comunistas, ele clicou a pobreza e as primeiras folgas remuneradas.
No cinema, ele dirige diversos documentários, um deles sobre a Guerra da Espanha. Preso pelos alemães no início da Segunda Guerra Mundial, ele foge e entra para a Resistência. Cartier-Bresson fotografa a libertação de Paris, em 1944, mas também dos campos de deslocados na Alemanha, onde faz a célebre imagem de uma delatora encontrada pela mulher que ela havia denunciado.
Com David Seymour e Robert Capa, Cartier-Bresson funda a cooperativa Magnum. "Queríamos ser testemunhas da nossa época".
Na Índia, ele fotografou Gandhi um pouco antes de seu assassinato. Na China, ele viu a chegada dos comunistas ao poder. Na França, cobre a independência das colônias e maio de 1968.
"Chegar com passos de lobo, ser discreto (...) se forçamos as pessoas, não temos nada", ensinava Cartier-Bresson.
Um pequeno filme dos anos 1960 permite compreender melhor sua maneira de trabalhar. Vestido de forma elegante, ele se mistura à multidão parisiense diante dos painéis de cartazes, Leica em mãos. Como um gato, ele olha em torno de sua prole antes de se misturar a ela, rápido como um flash.
Com ele, nada de reenquadramentos nem de retoques. Ele não gosta da cor, que não tem "a força e a abstração" do preto e branco.
Em 1970, ele abandona a reportagem fotográfica para voltar a sua primeira paixão, o desenho. Encantado com o budismo, ele faz, então, fotos contemplativas.