Rodrigo Fischer segue resistindo à aridez que se mostra muitas vezes como cenário na sobrevivência da arte. O ator e diretor, já conhecido do público brasiliense, não cansa de se reinventar. À frente do Grupo Desvio, criado em 2001, a experimentação no teatro vem tomando todos os trabalhos do artista. A procura pelo aprimoramento prático o levou a aprofundar no cinema em busca de elementos que ajudem na composição cênica.
;Como diretor, nunca encarei bem peças ditas como teatrais. Questionava: como posso resolver isso?;, conta o ator. A inquietude o lançou na pesquisa para o doutorado na Universidade de Brasília UnB). ;A minha pesquisa é sobre como a linguagem cinematográfica pode ajudar o teatro. Meu estudo é baseado na obra do cineasta John Cassavetes, considerado o pai do cinema independente. Entrevistei pessoas que trabalharam com ele para desenvolver algo prático;, diz.
Em 2013, realizou parte da pesquisa de campo na The City University of New York (Cuny), em Nova York. Ali, surgiu a ideia de entrar em processo de seleção de uma residência cultural. É um espaço de cultura privado que oferece a infraestrutura para o artista criar. O suporte pode variar de residência para outra, mas a finalidade é sempre a mesma: possibilitar o desenvolvimento de projetos artísticos, sem exigir qualquer pagamento em troca, apenas o aprimoramento. Misanthrofreak, o mais novo trabalho de Fischer, nasceu a partir dessa experiência.
Assista ao trecho da peça Misanthrofreak:
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Três perguntas para Rodrigo Fischer, diretor da peça Misanthrofreak
Quais as principais diferenças, que pode notar nos meses em Nova Iorque, entre o trabalho realizado pelos nossos atores e os americanos?
Os atores brasileiros tem uma versatilidade maior. Os americanos ainda são muito prisioneiros de uma estética realista hollywoodiana que vem dos anos 50. A escola realista prevalece. Ou as peças são mais clássicas, mais narrativas ou vão para o outro extremo. O Brasil tem um teatro muito forte e versátil. O ator brasileiro consegue trazer mais camadas para o espetáculo e diferentes escolas para uma mesma apresentação. Fiquei muito impressionado com o incentivo pelo incentivo. Temos que aprender muito com eles nesse sentido de valorizar mais a arte. Não digo que lá é perfeito, mas é uma mentalidade que nossos produtores culturais deveriam ter.
A vontade de atuar é mais forte que as adversidades? Já deu vontade de desistir?
Fiz uma peça chamada Qualquer coisa eu como um ovo em uma outra companhia que eu fiz parte. Nela falávamos exatamente de uma companhia teatral em crise e de todas dificuldades de fazer teatro. No final da peça, todos os artistas viravam literalmente calangos. Era uma metáfora de como muitas vezes a realidade que vivemos atrofia, seca, oprimi a criatividade, a arte, impossibilitando a agir. Eu penso muito nisso, em como resisto para não virar calango, principalmente, pela dificuldade, quase impossibilidade, de se fazer teatro em Brasília, onde nós precisamos fazer milhões de outras coisas que dão retorno financeiro para conseguir fazer teatro. A peça Misanthrofreak é um respiro de resistência, uma resistência pra não virar calango.
Em Brasília, tem espaço apenas para peças como Stand up comedy?
As pessoas vivem uma dinâmica de vida muito diferente, trabalham demais. O tempo é acelerado. A questão é mais profunda, não só para o teatro. As pessoas querem ir a uma peça para se divertir. É um clichê? É, mas infelizmente é o senso comum. Ninguém quer parar e ficar um pouco quieto. Não conseguem. É sempre mexendo com alguma coisa, no celular. Na arte é a mesma coisa, não consegue ir além do óbvio. A minha questão com o domínio do besteirol é que está virando uma coisa que as pessoas não conseguem sair daquilo, só conseguem assistir aquilo. Torna as pessoas preguiçosas, por que sempre buscam um conforto mental. Sempre tento trazer algo diferente para aproximar o público, algo mais dinâmico, mas mesmo assim não querem.
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