Nahima Maciel
postado em 16/02/2014 09:00
Leo Jaime, 53 anos, não se enxerga nem como músico nem como escritor. A palavra certa é comunicador. E quanto mais o tema pende para relacionamentos, mais ele gosta de se comunicar. Foi Leo Jaime quem deu a ideia de transformar um programa sobre uma competição para emagrecer em um reality show de relacionamentos. Detox do amor teve duas temporadas no GNT e Jaime e Betty Lago no comando. Em Amor e sexo, ele se diverte de forma elegante dando pitaco em debates polêmicos. Também participa do Saia justa e adora assuntos relacionados à famigerada DR (discutir a relação). Um pouco por isso está debruçado sobre o primeiro livro, Cabeça de macho, do qual escreveu apenas 50 páginas. Na estreia literária, Jaime quer falar das incompreensões que rondam os relacionamentos.
O que tem em Cabeça de homem?
É cedo para falar do livro porque estou no começo. Mas o assunto é isso: cabeça de homem. Uma reflexão sobre as questões que o mundo enfrenta nos dias atuais, sobre questões de intimidade, sobre como lidar com sexualidade, com afetividade, com o casamento diante de um mundo que mudou muito. As mulheres mudaram muito, continuam mudando, e o homem foi pego de surpresa. Homem não gosta muito de DR (discutir a relação), homem gosta de dar risada. É uma reflexão sobre essas questões da atualidade da vida contemporânea, obviamente de um ponto de vista masculino.
O que os homens acham que as mulheres querem? Por que os homens estão confusos?
Os homens acham que as mulheres querem um príncipe encantado, mas o que elas querem mesmo é comer e não engordar. Acho que a mulher quer tudo o tempo inteiro, é um saco sem fundo, é uma criatura que deseja, que está sempre achando que pode um pouco mais e é isso o que motiva a seguir vivendo. As mulheres hoje estudam mais, leem mais, vão mais ao teatro. Acho que elas têm uma vida íntima muito mais rica que os homens, que ainda se preocupam mais com trabalho, ganhar dinheiro e esportes. Acho que o homem ainda não entendeu que a questão não é ajudar em casa, a questão é ter prazer de viver as coisas em casa. A gente trabalha para ter uma casa, um lar, uma família e para curtir, não para pagar por isso. Às vezes, o trabalho doméstico ou o tempo com as crianças são vistos como uma responsabilidade chata: ;Tem que fazer;, ;tem que ajudar;. Não, você não tem que ajudar uma coisa que é sua vida. Tem que compartilhar as tarefas e os prazeres das tarefas. Participar da sua vida, atuar na sua vida como protagonista é um prazer. São reflexões como essa que quero no livro, talvez ajudando a mulher a entender um pouco a cabeça do homem e ajudando também o homem a compreender melhor a mulher. Acho que o objetivo é esse, mas é claro que não vai dar certo.
Por que não vai dar certo?
Ninguém entende mulher. (risos)
Segundo alguns psicanalistas, o ideal do macho alfa é um sonho de consumo dos homens e não das mulheres. O que você acha?
Acho que as mulheres realmente são mais realistas nas expectativas que elas têm. Mais realistas nas expectativas em relação aos homens do que nas expectativas em relação a elas próprias. Elas se queixam muito delas mesmas, estão sempre cobrando muito, querendo emagrecer dois quilos, ser mais alta, ser mais nova e uma porção de coisas nas quais não necessariamente os homens estão interessados. Os homens estão interessados em mulheres que são parceiras, companheiras, que ajudam, puxam para cima, elogiam, colaboram e são bem-humoradas. Isso de ter cabelo liso e não ter celulite não faz a menor diferença.
Você sabe a diferença entre estria e celulite?
Sei. Celulite é ;eu sou gostosa em braile; e estrias são setas indicando o caminho da felicidade. (risos)
Como foi fazer Detox do Amor?
Delicioso, ajudei a criar a concepção do programa inicialmente. Era para ser um campeonato de spa de emagrecimento, mas achei que seria melhor se fosse um spa dos relacionamentos, uma desintoxicação dos relacionamentos. Esse nome Detox do amor foi um nome que sugeri porque acho que toda relação precisa, em algum momento, dar uma chacoalhada antes que comecem as brigas. E aí a gente fez duas temporadas e há previsão de uma terceira. É um negócio muito rico, porque são pessoas de verdade que não têm interesse em virar personagem de televisão, não estão ali para vender uma personalidade marcante e sim para dar o tom do dia a dia e abordar as questões mais íntimas. E a gente está lidando com gente de verdade, questões de verdade que envolvem família, parentes, filhos e a felicidade daquelas pessoas que entram ali podendo sair fortalecidas ou podendo até encontrar um limite final. É um momento íntimo e agudo da vida das pessoas e a gente tem que interagir com parcimônia e fazer aquilo virar algo atraente para a televisão, para quem está em casa se envolver com os personagens. É um trabalho muito interessante.
Por que você acha que as pessoas têm tanto fascínio por esses reality shows?
Acho que elas têm fascínio por redes sociais. Eu diria que o esporte número um do brasileiro não é o futebol, é falar da maravilhosa vida dos outros.
E falar de sexo ainda dá Ibope? Por quê?
Depende da forma como se fala, né? Do jeito que a gente fala no Amor e sexo tem batido recordes. É um caso muito peculiar, nós mesmos nos surpreendemos com a popularidade. Nessa temporada, a gente teve 17 pontos de Ibope à 1h10 da madrugada. É uma coisa muito surpreendente. Evidentemente o assunto é interessante para todo mundo que tem uma vida sexual e a gente tem hoje uma perspectiva de uma sociedade que vive mais e se mantém ativa socialmente e afetivamente por muito mais tempo. Acho também que a sociedade muda de configuração, inclusive essas questões íntimas, o tempo todo. E a gente estar relatando isso, percebendo, pontuando os detalhes é fundamental.
Amor e sexo é exibido na TV aberta, mas às vezes surpreende pela ousadia..
Nós todos nos surpreendemos porque a gente propõe um debate, propõe coisas e é evidente o interesse no programa. Fomos estabelecendo um jeito de falar do assunto que pudesse trazer todos os problemas e questões com alguma delicadeza, com alguma elegância, mas sobretudo com alegria e diversão, porque não é um fórum de debates. E a Fernanda Lima tem esse grande mérito de ter colocado sempre um tom muito divertido, alegre, franco, aberto e elegante. As coisas não passam por grosseria ou baixaria em nenhum momento. O tom dela é muito elegante, bem-humorado e educado.
O que você gosta mais: de atuar em ficção ou de estar dialogando com o público na TV?
É difícil falar disso porque sou jornalista e trabalho no jornalismo quase há tanto tempo quanto nas artes. Comecei a escrever em 2008 e continuo. Agora estou fazendo um livro, dando um outro sentido, não sendo só crônica ou coluna. A ideia do livro ainda é uma continuação do trabalho do jornalismo. E eu faço muitas coisas na vida em vários modos mas, basicamente, faço duas coisas: escrever e interpretar. Posso escrever tanto ficção como não ficção. Não vejo mais satisfação em uma coisa ou em outra. E posso interpretar textos ou músicas com igual prazer, não importa para mim se as coisas que estou interpretando são como ator. Gosto dessas duas coisas: escrever e interpretar.
Você é muito ativo no Twitter. Por quê?
Sou um frasista e, para quem sabe fazer frases, o Twitter é uma maravilha, porque é o lugar das frases, das sínteses, não dos textos longos. Estabeleci uma relação muito saudável com a internet quando estava totalmente fora da mídia e achava que o descaso da indústria se dava porque o público não tinha interesse pelo meu trabalho. Aí fiz um site que começou a ter muita visitação. Fui um dos primeiros a fazer blog no Brasil. E o blog revelou uma popularidade enorme que eu tinha, me surpreendi. Em seguida, apareceu o Orkut e fui a primeira pessoa no mundo a ter mais de 1.000 amigos no Orkut. Em poucos meses, eu tinha mais de nove mil pessoas me seguindo.
E em outras redes sociais?
Aí abri um Facebook e a conta lotou em menos de um mês. Abri um segundo perfil, que lotou também em menos de um mês. Resolvi fazer uma fanpage e comecei a atuar no Twitter. Nunca fiz esforço para pedir para me seguirem, essas coisas que fazem para conseguir um número estratosférico de seguidores. E prefiro dizer que eles acompanham, e não seguem, porque quem tem seguidor é seita. Me acompanham as pessoas que gostam de discutir as coisas que proponho. Não fico falando da minha carreira, não é promoção pessoal, é uma percepção mais realística, um bate-papo. Costumava brincar, no começo do Twitter, que eu nasci para ser a Oprah Winfrey do Brasil, porque propunha muitos debates a respeito das questões das intimidades. Então acho que é um pouco meu trabalho de comunicador. É também o que tenho feito na televisão falando sobre relacionamentos, amor e sexo, casais. Eu gosto de dar meus pitacos nesses debates. Presto muita atenção nos personagens do mundo cotidiano, principalmente nas mulheres, porque acho um exercício fundamental para o homem ser feliz compreender ou tentar compreender as mulheres. Ou se divertir com isso, pelo menos.