"Muitas pessoas falam do filme (12 anos de escravidão), não em termos de violência, mas ressaltando os traços da resistência do amor e da sobrevivência", diz o cineasta Steve McQueen ; que, destacado no Oscar, tem a chance de levar a primeira estatueta para um diretor negro, na história do prêmio. Britânico, filho de pais caribenhos, McQueen administra com sabedoria a herança dos dramas de antepassados: equilibra ponderação (e desfecho emocionante), sem deixar de expor as ultrajantes condições impostas a escravos.
"Ele realmente se interessa por seres humanos", já demarcou o ator alemão Michael Fassbender, um elemento fetiche nas fitas de McQueen que têm como lastro o desempenho de Hunger, exibido em Cannes em 2008 (e vencedor do Caméra d;Or) e premiado com o Bafta de maior promessa, como estreante. O compromisso com a realidade de terceiros, que impregna a obra de McQueen, se estende às artes plásticas.
Inquieto no registro de extremos, Steve McQueen teve incursão em vídeos alternativos, área na qual criou o "musical" Drumroll (em 1998), numa caótica 5; Avenida registrada por três câmeras dentro de um barril. Nessas traquinagens entre instalações e vídeos ; anteriores à projeção em cinema ;, ele conquistou, há 15 anos, o prêmio máximo dos artistas contemporâneos londrinos, o Turner Prize.
Tantos recursos visuais instigaram os teóricos do cinema a encampar princípios que apontavam o uso do corpo (e de suas transformações) como recorrente; ao que ele retifica: "Bem, todo mundo usa corpos em movimento nos filmes".
Depois de homenagear Buster Keaton (em Deadpan); literalmente, se desnudar em cena, no curta mudo Bear (sobre o encontro entre dois homens), o filho de imigrantes caribenhos deixa entrever, com 12 anos de escravidão, fator magno para sua obra: a injustiça. Depois de driblar oportunidades escassas em escolas públicas, com o ônus da dislexia, aquele que pode vir a ser o primeiro diretor negro a vencer o Oscar, ressalta os efeitos do racismo que trouxeram "um peso no peito e nas costas": ficou "ferido", mas nunca "raivoso". Escolha visível em 12 anos de escravidão.