Nahima Maciel
postado em 03/03/2014 08:41

As escritoras Kyra Maya Philips e Alexa Clay não temem polêmicas. Alimentam-se delas e acreditam no conflito como combustível para boas ideias. Por isso embarcaram no projeto The misfits economy, uma investigação sobre o que o crime tem a ensinar à sociedade. A tradução exata de ;misfits; seria ;desajustados;, mas a palavra pode ser lida como marginal, ou aquele que não é aceito por determinado grupo. A cultura da marginalidade pode ter mais a ver com o Vale do Silício do que se imagina. O streaming de vídeo não foi inventado pelo TED ou pelo Netflix, e sim pela indústria pornográfica. Muitos anos antes de o McDonalds popularizar a noção de franquia, a máfia já operava dessa forma. A surpreendente quantidade de ideias inovadoras surgidas na informalidade e no mundo do crime levou a dupla norte-americana a investigar como as pessoas podem se beneficiar de uma arquitetura frequentente desprezada e demonizada.
Kyra e Alexa pretendem criar um manual baseado em várias características de diferentes modalidades de crimes, com dicas que podem ser aplicadas em grandes organizações. Elas lembram, por exemplo, que a afobação, a imprudência, o tumulto e a falta de clareza que imprimem tensão nas organizações criminosas são também características típicas de pequenas empresas em fase de desenvolvimento. Quando elas crescem e se estabelecem, no entanto, se tornam convencionais, engessadas e hierarquizadas. Por isso, muitas vezes ficam estagnadas. A desordem como estratégia utilizada no mundo do crime para confundir o inimigo pode, segundo as autoras, ajudar a sair do marasmo. O mesmo vale para a atividade de observar atentamente os inimigos e negociar constantemente.
The misfits economy envolve uma pesquisa que já passou por quatro continentes e países como Somália, Quênia, China, Índia e Brasil. Alexa e Kyra entrevistaram traficantes, hackers, praticantes de pirataria e estelionatários para compreender como eles tocam os negócios. Dessas conversas, as autoras tiraram as inovações das quais falam no livro. As entrevistas foram acompanhadas pela documentarista Laura Gamse, que dirigiu o documentário Os criadores, uma reflexão sobre a África do Sul vista por seus artistas. O filme deve ser lançado com o livro, no início de 2015.
Por enquanto, Alexa e Kyra cuidam de estruturar a pesquisa, cujo passo a passo é descrito no site www.themisfiteconomy. Ali, elas oferecem consultoria e demonstram como deixar o medo de lado e tentar aprender com o inimigo pode ser útil. ;No cotidiano, costumamos ter um medo profundo de tudo que é relacionado aos criminosos;, explica Kyra. ;Eles ameaçam nossa sensação de segurança, violam nossas leis e transgridem nossa moral. Nosso medo evita que reconheçamos e encontremos caminhos apropriados para o talento da população criminal.;
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