Diversão e Arte

Coletânea de discos recupera bons momentos de Emílio Santiago

O cantor agradava o público e impressionava os colegas. O pacote 'Três tons de Emílio Santiago' será lançado com os grandes sucessos e interpretações do artista

Estado de Minas
postado em 10/03/2014 09:41

Emílio Santiago, 66 anos, morreu em 2013, no Rio de Janeiro

O cantor Emílio Santiago (1946-2013) foi um caso curioso na história da música popular brasileira. Considerada uma das vozes mais bonitas do país, dono de afinação perfeita e senso de divisão criativo e original, o cantor era dos poucos continuadores da tradição das grandes vozes masculinas que marcaram época no Brasil na era do rádio. Com a ascensão das cantoras ; que passaram a dominar a cena ; e a partir do momento em que os próprios compositores começaram a defender suas criações, os cantores foram ficando em segundo plano. Emílio Santiago era a mais notável exceção nessa história.

Além da belíssima voz e qualidade da interpretação, o artista sempre mostrou gosto e ousadia na escolha do repertório. Nunca teve medo de lançar novos compositores, passeava por vários estilos. Do samba ao bolero, da MPB à canção romântica, gravou discos com orquestras e pequenos grupos era sempre charmoso ao vivo. No entanto, numa trajetória tão variada e rica, acabou ficando conhecido por grande parte do público apenas pela série ;Aquarela brasileira;, que entre 1988 e 1995 gerou sete volumes de standards.

O primeiro ;Aquarela brasileira;, que não levava número, nasceu para ser único quando Emílio Santiago já tinha 15 anos de carreira. O disco foi um sucesso arrasador e, até completar os sete álbuns, vendeu mais de 4 milhões de cópias. Mas Emílio Santiago não se rendeu ao sucesso fácil. Lançou tributos a Dick Farney, Gonzaguinha e João Donato, ganhou um Grammy por projeto dedicado ao samba registrou um álbum só de bossa nova.

[SAIBAMAIS]Por essas e outras, o pacote ;Três tons de Emílio Santiago;, que está sendo lançado pela Universal, chega em boa hora. Nada melhor, para reavaliar a importância do cantor, que voltar aos discos da década de 1970, antes da avalanche das Aquarelas, e que passeiam com naturalidade por vários estilos e compositores. A seleção é do pesquisador Rodrigo Faour. O estojo reúne os discos ;Comigo é assim;, de 1977; ;O canto crescente de Emílio Santiago;, de 1979; e ;Guerreiro coração ; Ao vivo;, de 1980.

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;Comigo é assim; foi o terceiro disco de Emílio Santiago e, desde a canção escolhida para o título, samba-choro de 1945, mostra a reverência à tradição. Mas o cantor, que já antenava a onda do sambão, emenda o sucesso Nega e recria o enredo ;Domingo;, da União da Ilha, em andamento mais cadenciado. Entre os compositores que têm canções gravadas no disco comparecem o quase estreante Djavan, ao lado de Gonzaguinha, Dominguinhos e João Nogueira. Os músicos que acompanham Emílio Santiago são Antonio Adolfo, João Donato, Menescal, Sivuca e Zé Menezes, o que dá dimensão do prestígio do artista na gravadora.

Para alguns críticos, ;O canto crescente de Emílio Santiago; talvez seja o melhor trabalho do cantor. Na linha do samba, destaque para ;Bufete e cascudo; e ;Rola bola;, além do dueto com João Nogueira em ;Amigo é pra essas coisas;. O disco abre ainda espaço para clássicos como ;As rosas não falam;, de Cartola (uma das melhores interpretações do samba) e ;Caridade;, de Nelson Cavaquinho. O maior sucesso, no entanto, ficou com o malicioso ;Logo agora;, de Jorge Aragão e Jotabê.

O terceiro álbum da caixa, ;Guerreiro coração ; Ao vivo;, registra show realizado no Rio de Janeiro em setembro de 1980. Se o samba é a marca mais forte, com temas de João Nogueira, Cartola, Leci Brandão e Jorge Aragão, o disco-show abre espaço para artistas da MPB, como Gonzaguinha (faixa-título), Milton Nascimento, Ivan Lins. Menescal e Chico Buarque. Puro Emílio, um cantor que emocionava o público e colhia admiração dos colegas.

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