Nahima Maciel
postado em 19/03/2014 08:03
[VIDEO1]O Museu de Arte de Brasília (MAB) abriu as portas em março de 1985 e, desde então, enfrenta uma batalha constante para manter-se vivo e digno de ser categorizado como uma instituição destinada a abrigar obras de arte. É uma batalha de Dom Quixote, amparada por uma série de cavalheiros cuja musa é um precioso acervo de mais de 2 mil obras capazes de contar a história da arte brasileira e brasiliense nas últimas oito décadas.
Fechado desde 2007 por recomendação do Ministério Público, que considerou as instalações do museu no Setor de Hotéis e Turismo Norte um risco para o acervo, a instituição já foi uma referência para artistas da cidade e um ponto de convergência cultural, no qual o encontro de gerações ajudava a formar público e profissionais.
Já foram três as tentativas de reforma do museu, nenhuma delas realmente efetivada. Agora, a Secretaria de Cultura do Distrito Federal acena com um terceiro projeto, que, se sair do papel, pretende fazer as reformas estruturais necessárias para abrigar com dignidade a coleção.
O projeto executivo está pronto, mas ainda não foi licitado por falta de verbas ou por uma questão de prioridade. Enquanto isso, o acervo permanece guardado em uma reserva técnica do Museu Nacional. ;É um absurdo o museu estar fechado. Ele é importantíssimo para a cidade. É uma luta permanente de pessoas que vivenciaram a história (do MAB) para recuperá-lo;, diz Lêda Watson, primeira diretora e fundadora do museu.
Glênio Lima dirigiu o MAB entre 2007 e 2010. Ajudou a embalar as obras quando a Justiça determinou o fechamento. ;É uma perda para a cidade, é inquestionável. Ele era o nosso ponto, o único lugar para exposição que tínhamos nos anos 1980 e 1990. O espaço é icônico pela simbologia. E não se fecha um museu, se abre um museu;, aponta.
Hoje, o prédio está abandonado, com janelas quebradas e mato no lugar do gramado que deveria abrigar um jardim de esculturas. Sobreviveu à especulação imobiliária que transformou os arredores em um setor de hotéis de luxo, mas permanece interditado.
Escolhas políticas
[SAIBAMAIS]De acordo com o artista plástico Ralph Gehre, que assumiu a direção do MAB entre 1997 e 1998, as escolhas políticas ajudaram a enterrar o museu. O primeiro projeto de reforma para o prédio ; uma antiga casa de samba que servia de anexo ao hotel Brasília Palace ; surgiu em 1997. Muito além de corrigir as instalações elétricas e hidráulicas, retocar a pintura e cortar a grama, a proposta sugeria mudanças estruturais.
A reserva técnica sempre foi o problema maior do prédio. Sem ventilação, sem mobiliário adequado, instalada no subsolo e sujeita a enchentes, a sala era catastrófica para as obras. A reforma, no entanto, nunca saiu da gaveta. Entre investir em eventos pontuais, como shows e festas, que tornavam as ações da secretaria mais visíveis e aplicar o dinheiro em um prédio afastado do centro da cidade, a primeira opção pareceu mais vantajosa para administração pública. ;Foi uma escolha política. Ficamos sem o museu;, lembra Gehre, que chegou a catalogar todas as obras do MAB.
Nos anos 1990, a instituição serviu de fonte para a formação de artistas da cidade. Com obras que vão do modernismo de Tarsila do Amaral ao contemporâneo de artistas atuais, como Beatriz Milhazes, Tunga, Cildo Meireles, Ernesto Neto e Miguel Rio Branco, o museu reunia a história recente da arte brasileira. ;Era onde tudo acontecia;, lembra o artista Elder Rocha. ;Para mim, foi muito importante porque sempre foi um lugar que estava mostrando a produção da cidade e tinha cursos, oficinas;, conta.
Um vácuo
Foi uma experiência que Taigo Meireles não teve. Ele começou a graduação em artes visuais na Universidade de Brasília (UnB), em 2002, e concluiu em 2007, mas esteve no MAB uma única vez, durante uma visita organizada por um professor. ;O fechamento gerou um vácuo. Senti muita falta, na minha formação, de um espaço com um acervo público que eu pudesse visitar, senti falta do acesso à pintura brasileira;, diz o artista, que escolheu a pintura e hoje está entre os jovens artistas mais bem sucedidos da cidade.
Bené Fonteles, curador do MAB entre 2007 e 2009, acredita que o museu foi tão maltratado que não chegou a ser uma referência para a cidade, apesar dos esforços de seus diretores. ;Ele ficou sempre escondido e meio inoperante, até pelo lugar que é a sua sede. Apesar do acervo importante na passagem do moderno para o contemporâneo, o MAB nunca teve um foco educativo que trabalhasse de fato a formação de um público. E isso é muito grave!”, lamenta.
A falta de política pública para lidar com o espaço e a coleção levou o artista a deixar a curadoria e a denunciar a precariedade das instalações do prédio. Enquanto o acervo esteve guardado no Museu Nacional, Fonteles realizou 14 exposições com obras da coleção numa tentativa de deixar os trabalhos acessíveis ao público. Mas a falta de perspectivas fez com que deixasse o cargo.