Diversão e Arte

Obras de museu foram reunidas graças ao esforço dos diretores e curadores

O acervo aumentou para 2 mil obras graças a doações recebidas pelo Museu Nacional, que deve passar a ser administrado pelo Ministério da Cultura ainda este ano

Nahima Maciel
postado em 19/03/2014 10:19

Durante mais de uma década, o acervo do MAB ficou guardado em local imprório: reserva técnica ficava no subsolo

Quando foi transferido para o Museu Nacional entre 2007 e 2008, o acervo do Museu de Arte de Brasília (MAB) contava com pouco mais de 1.100 peças e estava avaliado pela própria Secretaria de Cultura em US$ 8 milhões, segundo um relatório do órgão. Sete anos antes, a 2; Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público abriu uma investigação para apurar o estado das obras do acervo, guardado em condições inadequadas desde o fim da década de 1990. Na época, um documento da própria secretaria apontava o estado de deterioração de pelo menos 14 obras, entre elas uma tela de Tomie Othake que estava rasgada.

No fim dos anos 1990, o acervo foi transferido para duas salas do Teatro Nacional, ambas com instalações inadequadas para abrigar uma coleção de pinturas, esculturas, gravuras e outros suportes de fácil deterioração. Em 2000, o prédio no Setor de Hotéis e Turismo Norte foi cedido para uma instituição privada, que prometeu reformar o espaço para abrigar a exposição de decoração. O MAB foi devolvido à população no ano seguinte, mas as reformas eram apenas uma maquiagem e os problemas estruturais permaneceram até o fechamento, em 2007.

Leia mais notícias em Diversão & Arte

[SAIBAMAIS]No Museu Nacional, as obras foram restauradas, higienizadas e acondicionadas em mobiliário adequado em sala climatizada. O acervo aumentou para 2 mil obras graças a doações recebidas pelo Museu Nacional, que deve passar a ser administrado pelo Ministério da Cultura ainda este ano. A federalização, no entanto, não engloba a coleção. Wagner Barja, diretor da instituição, garante que tanto as obras incorporadas ao longo dos últimos sete anos quanto o acervo original continuarão a pertencer ao MAB.

Contrapartidas

A história do acervo começa antes mesmo da criação do museu. Durante as décadas de 1960 e 1970, a Secretaria de Cultura exigia a doação de uma obra em contrapartida à cessão de espaços para exposições. Em 1985, a artista Lêda Watson e o professor universitário João Evangelista organizaram e catalogaram as obras para constituir o acervo do MAB.

A coleção cresceu ao longo das décadas graças a salões de arte realizados na cidade e às três edições do Prêmio Brasília de Artes Visuais, organizado por Evandro Salles, secretário executivo de Cultura no fim da década de 1990. O acervo foi atualizado com a produção contemporânea brasileira e incorporou obras dos artistas mais celebrados do cenário nacional.

Na época, entraram para o MAB peças de Ernesto Neto, Miguel Rio Branco, Daniel Acosta, Brígida Baltar, Mario Cravo Neto, Nelson Félix, Rosângela Rennó, Nuno Ramos e Claudia Andujar, além da produção de artistas da cidade, como Elder Rocha, Elieser Szturm e Marcelo Feijó.

Beatriz Milhazes, que teve um quadro vendido por US$ 2,1 milhões na Sotheby;s em 2012, lembra que o prêmio brasiliense ajudou na projeção de seu nome no cenário nacional. A pintura Estive feliz de saber que você está bem pertence ao MAB desde os anos 1990, uma década especial para Milhazes. ;Este momento, especificamente naquele ano, eu apresentei o primeiro conjunto de obras que considero de grande importância dentro do grupo do meu trabalho. Esse quadro é um importante representante deste ano;, diz a artista.

Constituir o acervo do MAB foi trabalho de formiguinha e se estendeu do tempo em que Lêda Watson procurava as obras pelos gabinetes da Secretaria de Cultura até tempos mais recentes. ;Lembro-me de que achei uma coleção de gravuras de Tarsila do Amaral jogada num depósito de cadeiras. Resgatei e mandei para o MAB;, diz Evandro Salles. ;Mas nunca houve uma política clara de aquisição, o governo nunca destinou verbas para isso. Fizemos duas tentativas de formação dessa política com os prêmios. Mas o museu nasceu torto. Uma árvore que nunca conseguiu endireitar porque nunca foi destinada a ele uma atenção necessária.;

Entrevista com José Delvinei Santos

Depois de reformado, o MAB vai ter condições de receber grandes exposições internacionais como as do Renascimento ou dos Impressionistas?

Ele terá tudo, climatização e condições de receber. Agora, me assusta um pouco o aspecto segurança do MAB, porque não vamos fazer uma cerca em volta. O seguro dessas obras e as exigências, o MAB não atende. As exigências técnicas, o MAB vai atender. Mas teremos outros aspectos relacionados a seguro de obras dessa natureza que não seria interessante porque é um risco muito grande. Se os caras roubam o Louvre, imagina o MAB.

A reforma está avaliada em pouco mais de R$ 3 milhões. É uma obra barata?

Muito barata. Esta obra não é um problema de recursos. O que atrasou nossa vida é que tínhamos três projetos. Este é o quarto. Tínhamos um de cada gestão do Roriz e uma do Arruda. E todos ou foram contratados com recursos públicos ou foram desenvolvidos em parceria com a sociedade mesmo, em consultas públicas. Ficamos dois anos pensando "e agora, o que vamos fazer?". O primeiro, segundo ou terceiro? O primeiro e o segundo eram inviáveis porque estavam fora das normas. O terceiro tinha acessibilidade, mas não foi levada em conta a normatização do Icom. Foi uma luta. Tivemos reuniões de brigas para consensuar esse quarto projeto. Quando conseguimos consensuar, montamos um grupo de trabalho para trabalhar em cima desse consenso. O projeto chegou para nós em dezembro e desde então está disponível para licitação. Não fazemos a licitação daqui. Esse é o gargalo do país. O país não tem projetos. Conseguimos resolver esse projeto e mandamos para licitação.

De onde virá o dinheiro? A secretaria devolveu dinheiro no ano passado;

Não tem emenda. Nenhuma obra nossa foi feita com emenda. É recurso do tesouro. Nós realmente devolvemos muito dinheiro no ano passado porque não tínhamos projeto. Usamos o dinheiro da obra para contratar seis projetos, inclusive o Teatro Nacional. Hoje estamos de posse desses projetos, mas não temos ainda o orçamentário para realizar. Nós é a Secretaria de Cultura. Estamos dependendo da dotação orçamentária para poder fazer a licitação. Para nós era muito importante concluir essa obra. Não vejo a hora de licitar. Pelo calendário eleitoral a Ordem de Serviço precisa ser assinada até 5 de junho. Nossa missão está cumprida e temos urgência em executar.

Leia a entrevista com Beatriz Milhazes

Você lembra das circunstâncias que levaram sua obra tua para o museu? Em que estágio da carreira você estava e o que te fez participar do concurso?

A obra Estive feliz de saber que voce está bem, 1990, pertence à coleção do MAB/DF. Esta obra foi premiada na mostra organizada pelo museu que se intitulava Prêmio Brasília de Artes Plásticas. Este era um prêmio aquisitivo. Esta premiação foi um importante evento que me proporcionou um destaque significativo no contexto nacional. O inicio da década de 90 foi também o inicio da minha carreira internacional.

Conhece a coleção do MAB? Qual a importância para uma cidade de ter uma coleção de arte contemporânea disponível e acessível ao público? Que diferença isso faz?

Acredito que seja crucial que ela não só seja conhecida, como também, bem desenvolvida. Brasilia é a capital do Brasil, o museu uma pérola da nossa arquitetura. É fundamental que ele volte à atividade e possa proporcionar aos habitantes e inúmeros visitantes da cidade a possibilidade de conhecerem a arte contemporânea brasileira, dentro de seu território. A arte contemporânea brasileira, hoje, já é reconhecida internacionalmente e um museu bem dirigido e ativo, com uma significativa coleção, é fundamental no crescimento da educação e cultura de um País.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação