Diário de Pernambuco, Phelipe Rodrigues
postado em 03/04/2014 11:03
São Paulo - Zuleika de Souza Netto, nascida em 1921, em Curvelo, Minas Gerais, entrou para a moda nacional com nome gringo: Zuzu Angel. O sobrenome veio do marido, Norman Angel Jones, canadense naturalizado norte-americano, com quem se casou em 1943. Os dois se separam em 1961, quando ela já morava no Rio de Janeiro e precisava sustentar três filhos. Esse roteiro, poderia ser mais uma história bem brasileira. Mas mudou o destino do país. Antes de Zuzu Angel virar marca internacional, que desfilava as criações no Copacabana Palace e na Bergdorf Goodman, em Nova York, elementos típicos do Brasil valiam nada. ;Era cafona usar a renda de bilro quando eu fiz isso em minhas coleções;, contava Zuzu à revista Cigarra, em 1972. A página, os documentos da família, revistas favoritas e as criações ficam até 11 de maio expostos na Ocupação Zuzu, no Itaú Cultural, em São Paulo, destaque da programação do 37; São Paulo Fashion Week.
São três andares cheios de alegrias e também de um luto de cortar ao meio os que assistem ao lamento de Zuzu Angel em busca do corpo do seu filho, Stuart, que desapareceu no dia 14 de maio de 1971. Militante do Grupo Revolucionário 8 de outubro (MR-8), Stuart entrou para a clandestinidade no Brasil já governado pelo regime militar (1964-1985). A roupa negra adornada com um cinto feito com 100 cruzes e um pingente de anjo em porcelana está no primeiro subsolo do Itaú. Foi com ela que a designer apareceu no desfile-protesto que fez na casa do cônsul brasileiro em Nova York. Ali, Zuzu trocava a temática ensolarada, com flores e pássaros, por aves engaioladas e balas de canhão atingindo o anjo, que era sua logomarca.
Nas páginas de moda, ao invés de comprimento e tonalidades, comentava-se os horrores da ditadura brasileira. A atriz Joan Crawford, cliente antiga de Zuzu, soube, através da mídia, da luta dela para ter de volta o corpo do filho. ;Sinto muito, muito mesmo a sua perda. Saiba que você está sempre nas minhas preces e pensamentos;, pode-se ler no bilhete escrito por Joan, e emoldurado na sala Juntando retalhos.
O texto de apresentação desse espaço, feito pela filha Hildegard Angel, é o momento mais pesado da mostra. ;Não sei como juntei forças para reunir e guardar esse material. Espero, de verdade, que esses 50 anos do Golpe Militar sirva para que os jovens assumam seu papel político;, contava, emocionada, na abertura.
No andar superior, Hildegard sorrindo como modelo, aos 18 anos, foto de Antonio Guerreiro. ;We love Zuzu;, conta um slogan. Ela criava tudo ligado ao seu nome. Roupas mais sofisticadas, camisetas e sacolas. Até as fitas que envolviam os embrulhos foram desenhadas pela própria designer que se proclamava costureira. ;Quem vem aqui pode escrever uma declaração, confeccionar impressões sobre Zuzu, e colar no mural, para fazer uma colcha de retalhos;, diz Valéria Toloi, uma das curadoras da mostra.
O que rolou...
Musa
Alexandre Herchcovitch foi um dos mais festejados no primeiro dia da 37; SPFW. Inspirado em Marilyn Monroe, seu Verão 2015 trouxe releituras do estilo dos anos 1950 e 1960. Saias lápis, luvas e cintura marcada na maioria das peças. Em alguns dos looks, o destaque ficou com os laços exagerados.
Surfe
João Pimenta seguiu a linha de temporadas anteriores e se focou na roupa masculina comercial. O ponto de partida foi o tradicional costume cinza, peça que todo homem tem no armário, e fechou com um look azul brilhante com a modelo Thairini Garcia. A inspiração no universo do surfe foi traduzida nos tons de azul.
Quinta-feira (3)
Os destaques do terceiro dia da São Paulo Fashion Week são os aguardados desfiles da pernambucana Movimento - que aparece com sua Flora exuberante, explorando a natureza com folhagens e vitórias régias - e o Verão 2015 de Lino Villaventura.
* O jornalista viajou a convite do São Paulo Fashion Week.