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Entrevista: Vanessa da Mata fala sobre violência, preconceito e carreira

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Rebeca Oliveira
postado em 05/04/2014 09:39
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Os cabelos encaracolados, os vestidos floridos e o sorriso largo viraram marcas registradas de Vanessa da Mata. Tamanha exuberância talvez seja a fórmula encontrada para disfarçar a timidez, distribuída em seu 1,80m. O jeito acanhado de menina do interior não foi um impedimento para que a cantora ; nascida em Alto Garças (MT) ; se mudasse para São Paulo aos 17 anos. Lá, virou modelo, ganhou espaço como compositora, se descobriu cantora, e, no ano passado, revelou também o lado escritora.

Do primeiro álbum, Essa boneca tem manual, para o mais recente, Segue o som, se passou uma década. Tudo aconteceu despretensiosamente, ela garante. ;Jamais imaginaria conhecer Maria Bethânia ou Chico César. Já sabia que queria cantar desde os 3 anos, era um ímpeto, uma vocação, uma necessidade de fazer com que a música fosse um ganha-pão. Mas não foi nada racional e planejado;, afirma.

Segue o som é uma prova. Nasceu sem grandes pretensões, entre a excursão de um disco em homenagem a Tom Jobim (que a levou a seis capitais brasileiras, incluindo Brasília) e o lançamento do romance A filha das flores. O novo disco tem suingue. Apresenta a suavidade da MPB, riffs de guitarra e a melodia do reggae (presente na carreira da cantora desde a década de 1990, quando foi backing vocal da banda Black Uhuru). Para ela, a obra não se encaixa em gêneros predefinidos. ;É um disco praiano, a cara do litoral, muito positivo;, define.

Ao Correio, além do novo álbum, Vanessa da Mata comenta a discriminação racial sofrida há algumas semanas e o recente debate sobre abuso sexual contra mulheres: ;A burrice, a ignorância e a falta de análise são muito perigosas. Quem diz que uma mulher merece ser atacada é doente;.

A música que abre Segue o som, Toda humanidade nasce de uma mulher, é uma exaltação à mulher moderna. Uma pesquisa recente constatou que 65% dos brasileiros declararam que uma mulher que mostra o corpo merece ser atacada. Como reage ao ler notícias como essa?
Os bandidos sempre têm um cúmplice, sempre há alguém que é tão bandido quanto ele. O maníaco não tem referência com a roupa. Se ele quer atacar, a primeira pessoa que aparecer vai ser sua vítima. Quando há um embasamento machista por trás de qualquer argumento, a pessoa não vai pensar em nada, se é criança, menino, ou se está bemvestida. A burrice, a ignorância e a falta de análise são muito perigosas. Quem diz que uma mulher merece ser atacada é doente. Um abuso independentemente de roupa, e mesmo se fosse uma roupa provocante, não deixa de ser um completo absurdo.

Em suas letras, você aborda também o preconceito. Conta, por exemplo, da relação de seus avós, um negro e uma branca. Em algum momento da sua vida, já se sentiu vítima de discriminação racial?
Há duas semanas, vivi um episódio de preconceito. Uma menina me chamou de mulata de maneira muito agressiva. Eu poderia, e ainda posso, agir judicialmente. Mas, ao vê-la me chamar de mulata, mesmo com um tom pejorativo, me senti elogiada. Ela caiu do cavalo, ficou desconcertada. Queria me atacar, mas essa palavra tem conotação positiva para mim. Não senti que ela estava me xingando até notar, pela tom de voz dela, que era uma tentativa de insulto. No entanto, mulata para mim é um elogio e tanto!

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