Diversão e Arte

Bienal do livro: escritores debatem a paixão do brasileiro pelo futebol

Os escritores Xico Sá e Sérgio Rodrigues acreditam que a nova geração de ficcionistas brasileiros está tratando do futebol de maneira bastante generosa

Nahima Maciel
postado em 12/04/2014 07:00

Sérgio Rodrigues: mais atenção ao futebol
Não, a literatura não está em dívida com o futebol. Mas o futebol também não é um protagonista muito acessível. É jogo pronto, com vencedor e perdedor certos, final previsível pouco adequado a um romance. O escritor mineiro Sérgio Rodrigues, autor de Drible, defende que o futebol em si não daria um grande romance. ;O esporte é uma narrativa completa, conta uma história que se encerra em si mesma;, explica. Rodrigues participa hoje, ao lado de Xico Sá, do debate Futebol e literatura, no Auditório Jorge Amado, na 2; Bienal Brasil do Livro e da Leitura.

[SAIBAMAIS]O autor mineiro vai partir de seu romance Drible, publicado no ano passado, para tecer considerações sobre a cobrança de que a literatura brasileira não dá a devida atenção ao esporte de preferência nacional. No livro, o protagonista é um cronista de futebol dos anos 1960, um pai embrenhado em relações familiares complexas e conflituosas. ;Há muito tempo, ouço e leio críticas de que a literatura brasileira não retrata o futebol brasileiro como ele merece. Não acho obrigatória essa relação entre um tema da cultura nacional e a literatura. Nunca conheci um grande romance italiano sobre a Fórmula 1 nem um grande romance japonês sobre o sumô;, compara.

O escritor também acredita que a nova geração de ficcionistas brasileiros está tratando do futebol de maneira bastante generosa. ;Eles estão dando ao tema uma atenção que ele não tinha na ficção;, diz, ao lembrar que contos e crônicas sobre o esporte sempre foram mais abundantes que a ficção.

Leia entrevista completa com Paulo Rezutti e saiba mais sobre a programação completa:

Como o senhor entende o tema da palestra, Narrativas contemporãneas da história do Brasil?

O meu foco de pesquisa é o Primeiro Reinado (1822-1831), com destaque, até o ano passado na Marquesa de Santos, sobre ela e o relacionamento com D. Pedro I eu lancei em 2011 o "Titília e o Demonão: cartas inéditas de D. Pedro I à Marquesa de Santos" e em 2013 lancei a biografia da Marquesa de Santos, o "Domitila, a verdadeira história da Marquesa de Santos". Agora preparo a biografia de D. Pedro I e pretendo, dentro do tema da palestra "Novas visões da escrita da história brasileira" demonstrar como a história desses dois personagens foi influenciada até recentemente pelos momentos políticos pelos quais o Brasil viveu desde a renúncia de D. Pedro em 1831. Domitila deveria - segundo crônica escrita no passado pelo ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo -, ser considerada a primeira "mensaleira" do Brasil, reeditando assim um discurso ultrapassado de quase dois séculos. Certamente ele não é um dos meus leitores! A política sempre norteou a escrita e a memória sobre esses dois personagens. Eu procurei, primeiro com o "Domitila" e futuramente com "D. Pedro, a história não contada", focar as relações humanas e a trajetória completa desses dois personagens. Não ficar apenas no escândalo e no pitoresco e sim buscar uma imagem ampla deles, mesmo que eles, como quaisquer humanos, não apresentem uma trajetória e um comportamento linear, ou ajam como esperamos que eles agissem. Trabalhar com documentação primária, como é o meu caso, pode deixar lacunas, mas dá uma proximidade mais humana com o biografado. Procuro sempre evitar costurar essas lacunas para não virar um romance, pois, onde termina a documentação começa a ficção.

O que seria, para você uma nova visão da escrita da história brasileira?

A história do Brasil, inicialmente, era contada de maneira basicamente oficial. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi criado na época do Império como um guardião de nossa memória e de nossa produção histórica ; desde que ela fosse oficial e seguisse o propósito de incensar nossos maiores líderes. De lá para cá, mais de duzentos anos se passaram, a escrita e o estudo de nossa história se desenvolveram através de diversos segmentos que culminaram em um processo de divulgação da história brasileira nunca visto antes. A preocupação que tanto eu quanto a escritora Mary Del Priore temos em focar a história íntima desses personagens de nossa história e humanizá-los, trazendo ao grande público figuras com as quais eles se identifiquem ajuda a divulgar a trajetória dessas pessoas. Por exemplo, numa das cartas inéditas que localizei em Nova Iorque o Dom Pedro I diz para a Marquesa de Santos que o "carro novo", a carruagem que ele havia encomendado, havia chegado e que ele iria passar na casa dela mais tarde para eles darem uma volta! Qual namorado não faz o mesmo com sua amada hoje em dia? O sentimentos, as emoções humanas, em sua raiz mais profunda, são eternas e a nova escrita de nossa história, ao humanizar os antigos mitos e heróis endeusados por gerações de escritores "oficiais" mostra que ninguém é diferente. Todos nós, os "poderosos" ou o povo, podem ter mais ou menos dinheiro, mais ou menos recursos, poderes ou "ilustração", no fundo, são seres humanos com todas as fraquezas, defeitos e qualidades inerentes a nossa espécie. Tudo junto e misturado, basta de maniqueismo!

Neste sábado:

; Narrativas contemporâneas da história do Brasil , com Paulo Rezutti e Tiago Luís Gil ; 16h30, no Auditório Nelson Rodrigues
; Futebol e literatura ; Com Sérgio Rodrigues, Xico Sá e Paulo Rossi. Às 17h, no Auditório Jorge Amado
; Sarau em Homenagem a Juan Gleman ; Com Eduardo Galeano, Pola Oloixarac, Nicolas Behr. Às 21h, no Auditório Nelson Rodrigues
; Shows da resistência ; Com Carlos Lyra. Às 22h, na Praça do Museu Nacional da República
; Senhas para palestras serão distribuídas no local

2; Bienal Brasil do Livro e da Leitura

Até 21 de abril, na Esplanada dos Ministérios. Visitação das 10h às 22h. Entrada franca.

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