Diversão e Arte

Bienal do Livro: escritores debatem influência das novas tecnologias

'Se a pessoa tem talento ela rapidamente é reconhecida, mas a tecnologia não faz com que os escritores de hoje sejam melhores do que os de 50 anos atrás', afirmou o escritor e jornalista Michel Laub

postado em 13/04/2014 16:44

'Se a pessoa tem talento ela rapidamente é reconhecida, mas a tecnologia não faz com que os escritores de hoje sejam melhores do que os de 50 anos atrás', afirmou o escritor e jornalista Michel Laub

Em um domingo de sol intenso em Brasília, quatro escritores brasileiros conversaram sobre suas carreiras e o cenário literário atual do país. Esse foi o clima da Mesa ;A nova geração de ficcionistas brasileiros; da 2; Bienal do Livro e da Literatura, que contou com Michel Laub, Luisa Geisler, Verônica Stigger e José Rezende. Para eles, as novas tecnologias proporcionaram mais oportunidades para novos escritores virem à tona. Isso não significa, entretanto, que está mais fácil consolidar uma carreira como escritor.

[SAIBAMAIS];Ao mesmo tempo que a internet oferece mais visibilidade, muita gente acaba publicando e, portanto, existe muita coisa disponível. Assim, é mais difícil um leitor ser atraído por um texto que possa, a princípio, parecer estranho;, explicou Laub. ;Se a pessoa tem talento ela rapidamente é reconhecida, mas a tecnologia não faz com que os escritores de hoje sejam melhores do que os de 50 anos atrás. A história muda e o leitor muda, mas sempre haverá uma seleção do que é bom ou ruim por parte do público;, completou o escritor e jornalista.



Verônica, por sua vez, entende que há, atualmente, um maior interesse do mercado editorial por novos escritores. Já Luisa acredita que uma maior abertura das editoras para novos nomes não muda a recepção do público. ;Por mais que se publique, a recepção não é diferente. Mas isso já é bom, porque motiva o novo escritor, mesmo que seja um livro com baixa receptividade. A publicação não garante nada, mas já é um bom começo;, disse a jovem escritora, ganhadora de dois prêmios Sesc de Literatura, em 2010 e 2011.

A influência de novos formatos, como e-books (livros digitais, comprados e lidos na tela de tablets ou formatos semelhantes) preocupa José Rezende, mediador do debate. Embora goste das novas possibilidades de acesso à literatura, ele teme que trilhas sonoras ou pequenos filmes sejam usados no meio dos textos. Luisa e Verônica, no entanto, não acreditam que essa possibilidade de interatividade possa ser algo prejudicial. ;Acho que o nosso limite é sempre forçar questionamentos sobre algo ser ou não literatura. Às vezes pode ser diferente, mas nem por isso, deixaria de ser uma experiência literária;, disse Verônica.

Para Laub, cada tipo de escritor e história tem seu público cativo, e ele não teme o desaparecimento de um formato em favor de outro. Ele explica que todas as histórias tem seu nicho de leitores, sejam best sellers de fantasia ou um texto que questione a própria literatura. ;Todos são escritores com seu público. Tudo isso convive de uma forma muito saudável e o que vai determinar se ele é bom ou não é o que está dentro dele, e não a plataforma que ele vai usar;.

Seu penúltimo livro, Diário da Queda (Companhia das Letras, 2011), teve os direitos vendidos para onze países. O que você acha disso?

É muito interessante, porque é um autor completamente diferente, que está alheio as questões sociais do Brasil, que não é influenciado pela crítica que se escreve sobre mim, que ignora o mercado editorial brasileiro e tem mais chance de fazer uma leitura que não seja viciada. O leitor estrangeiro vai julgar pelo que esta escrito, tudo que ele tem é o livro na mão. Ao mesmo tempo, não é o mesmo livro que eu escrevi por conta da tradução.

Você começou a escrever antes do boom da internet. É mais fácil ser escritor hoje?


As dificuldades para escrever continuam sendo as mesmas, porque tem a ver mais com o talento do escritor, em como ele vai lidar com as questões sociais em que ele vive.

Existe uma crítica corrente de que a ficção brasileira não condiz com a realidade social do país, representando apenas uma classe e um gênero?

Existe essa crítica da classe média, mas eu acho que a crítica as vezes se esquece que o escritor tem a liberdade de escrever sobre o que quiser. Não acho que ninguém sente para escrever e pense, ah vou falar sobre isso porque ninguém até agora falou. O escritor escreve sobre o que ele quiser, sobre o que incomoda.

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