Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Eduardo Sacheri fala ao Correio sobre relação entre futebol e ditaduras

O escritor argentino fará palestra nesta quarta-feira (16/4) na 2ª Bienal do Livro



Entrevista / Eduardo Sacheri

Como a ditadura e o futebol se relacionam?


Acredito que as ditaduras ; não só na América Latina ; souberam explorar, com objetivos publicitários, os grandes eventos esportivos. Penso, por exemplo, na Alemanha nazista e na Itália fascista. Claro que no nosso continente, o futebol, ao estar tão associado a nossa identidade, foi um veículo preponderante para esse uso. A Copa do Mundo de 1978, em meu país, é um exemplo muito profundo desse aparato do governo.

[SAIBAMAIS]A ditadura militar é certamente um fator histórico que influenciou de maneira forte a criação artística e literária tanto no Brasil quanto na Argentina. Qual a relevância disso, mesmo décadas depois?


Aqui respondo sob a ótica da minha formação em história: a memória social, a construção coletiva das lembranças é essencial para definir a maneira como as culturas constroem seu presente e seu futuro. Nesse sentido, creio que a reflexão sobre o nosso passado, sobre o modo como o toleramos, processamos e enfrentamos ; ou não ; a essas ditaduras é uma chave para saber quem somos.

Você ganhou projeção mundial com o sucesso de La pregunta de sus ojos. Na história, é a paixão pelo futebol que desenlaça a trama. O futebol também está presente em outras histórias suas e é um dos temas que você vai abordar na bienal. É uma das suas paixões?


Sem dúvida, é um dos temas que cruzam a minha vida. Como jogador amador e torcedor fervoroso do Independiente (time argentino), o futebol marca minhas lembranças e vivências desde menino. E eu suponho que será assim até a minha morte.

O roteiro de Metegol, que teve sua participação, foi bastante elogiado pela crítica no ano passado. Como foi a experiência de traduzir para as telas toda a paixão por este esporte?


Acho que o maior desafio foi respeitar o espírito de Roberto Fontanarrosa, esse grande escritor argentino cujo conto Memorias de un wing derecho foi a base que usamos para o roteiro do filme. O outro desafio foi não cair no caminho fácil de usar a paixão pelo futebol como uma chave para todas as portas emocionais pura e simplesmente. Tentamos abrir outras portas, outros caminhos para enbasar a profundidade emocional dos personagens.

O que você pensa do Brasil e da Copa este ano no seu país vizinho? É um evento inspirador?


Apesar do sucesso de seu romance, a maioria da sua obra é composta por contos. Você prefere histórias mais curtas? Você sente que o público tem alguma preferência ?

A primeira coisa que penso é que sera muito difícil que vocês não ganhem a Copa! Quanto à possível inspiração literária, creio que deve-se deixar passar um tempo, para que as ações e as emoções se sedimentem. Só então vai ser possível decidir se a Copa do Mundo foi proveitosa nesse sentido de inspiração literária.

Por fim, tem algum autor brasileiro que você admira ?

Temo ser pouco original ao citar Clarice Lispector. Mas é ela mesmo. Quanto aos jogadores, são vários! O primeiro que me vem a mente é o gigante Ronaldinho. É um esteta da bola, um verdadeiro artista.