Diversão e Arte

Murong Xuecun: "Literatura não pode prestar serviço à política"

Em palestra na Bienal, Xuecun contou como os escritores contemporâneos chineses estão cerceados por proibições de temas

Nahima Maciel
postado em 16/04/2014 20:01

A Liberdade de expressão na China e o estrago causado pela censura na produção literária de um país fizeram da fala do escritor Murong Xuecun um manifesto sincero pelo direito de falar e escrever o que pensa. Em palestra durante a II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, Xuecun, autor de Deixe-me em paz, contou como os escritores contemporâneos chineses estão cerceados por proibições de temas e até palavras que acabam por gerar uma autocensura capaz de prejudicar não só a literatura mas o próprio idioma chinês.

"Se você quer escrever na china hoje tem que evitar palavras sensíveis, como praça da paz celestial, fallun dong, tanque, camponês. Se, por azar, você usar essas palavras, seu livro não vai ser publicado,você vai ser perseguido e vai ser preso. Não existe nenhuma lei que proíba a liberdade de expressão, mas existe um forte aparato de censura que funciona dia e noite", disse. "Dentro dessa paranóia da censura, os escritores e editores estão se comportando como psicopatas."



[SAIBAMAIS]Xuecun contou que durante anos evitou usar as tais palavras sensíveis. "Mas isso prejudica minha obra e prejudica nosso idioma", lamenta o escritor, que aproveitou para dar um aviso aos censores do mundo: "vocês podem parecer muito poderosos, mas vocês vão fracassar, não vão conseguir impedir a aspiração do povo à liberdade. Literatura não pode prestar serviço à política, o escritor não pode ser papagaio, alto-falante dos outros, ele deve falar as próprias palavras e quando necessário, essas palavras têm que ser claras. "

O escritor também falou do ódio ao Japão cultivado pelo governo chinês. Cegando Xuecun, há cinco telenovelas sendo veiculadas hoje na China nas quais a guerra entre as duas nações é o tema principal. "80% das telenovelas hoje na China falam da guerra contra o Japão e elas permitem muitos atos sangrentos, como arrancar cabeças dos japoneses. Precisamos ficar vigilantes em relação à China. Se todo dia você liga a televisao e vê um japonês massacrando um chinês, então por que não podemos odiar os japoneses? Vai haver uma guerra, e se o Japão não provocar essa guerra, a China vai provocar", disse o escritor.

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