postado em 19/04/2014 09:32
Dori Caymmi surpreendeu-se ao saber que um jornal carioca deixaria de publicar uma resenha sobre seu novo disco, 70 anos, por não haver nenhum profissional qualificado para escrever sobre o tipo de música que ele faz. O fato é utilizado pelo cantor, compositor e violonista carioca, morador dos Estados Unidos desde 1990, para reforçar o discurso de que, talvez, realmente, não se encaixe mais no mercado nacional nem nos padrões sonoros produzidos atualmente. ;Os outros querem sucesso e dinheiro. Eu quero o Brasil;, diz ele ao Correio, em entrevista por telefone.O músico conta que um dos elementos que o aproximam de seu país é a poesia de Paulo César Pinheiro. Não à toa, resolveu musicar uma série de versos do amigo. O resultado são as 13 canções inéditas que integram o álbum 70 anos, que celebra, com um pouco de atraso, o aniversário comemorado em agosto de 2013. No trabalho, Dori lança mão daquilo que classifica apenas como ;música brasileira;, e que, segundo ele, está em extinção. ;São as raízes que me influenciaram. Faço por que não tem outro jeito, e acho que sou o único preocupado com isto nesse momento;, lamenta.
Dori e Pinheiro são parceiros desde 1969, quando compuseram Evangelho. De lá pra cá, algumas dezenas de canções surgiram. ;Não chega a cem;, contabiliza. O violonista, autor de Saveiros e O cantador (ambas com Nelson Motta), estava desanimado de criar novas melodias, até se encantar com a nova safra de poesias do amigo. ;Não vejo muita necessidade de fazer música. Gosto de fazer para mim, quando fico com vontade;, conta.
Além do violão, Dori empresta a voz grave para as canções de 70 anos. Ele diz que, por pertencer a uma família de grandes cantores, sempre teve pudores em exercer esta função. Contudo, para emocionar o ouvinte, ele lança mão de uma ;sinceridade bem brasileira; ao interpretar as faixas. ;Não é pra cantar junto. Não é pra balançar a bunda;, avisa.
Para Dori, a música, como se conhecia, está acabando. ;Se você pegar a minha geração, com Caetano Veloso e Gilberto Gil, vai ver que, entre eles e Lepo lepo, há uma diferença brutal. Estamos vivendo uma época de mutação;, constata, desanimado. Mas ele ainda não desistiu do combate. Pelo menos, por enquanto.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.