Diversão e Arte

Diretora Carla Camurati comenta sobre atividades e dificuldades da carreira

Produtora do filme Getúlio, a também atriz comanda a administração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Ricardo Daehn
postado em 29/04/2014 08:28
Carla Camurati foi premiada, em 1987, no Festival de Cinema de Brasília
Num emaranhado de demandas e premências, a presidente do Theatro Municipal Rio de Janeiro e diretora de cinema, além de atriz, Carla Camurati, quase não encontra tempo para o hábito do qual tanto gosta: viajar. No ano que encerra a gestão à frente do teatro, ela já se projeta novamente como produtora da sétima arte, com Getúlio. No Palácio do Catete (envolto em plástico bolha, para evitar avarias), por três meses, as filmagens do longa de João Jardim contaram com uma equipe de museólogos.

A ser lançado em 1; de maio, Getúlio, crivado de um ;estado de tensão;, despertou o encanto da eterna musa da retomada do cinema brasileiro, com Carlota Joaquina, princesa do Brazil(1995). ;Gosto do que me emociona, do que me toca. Não sou a favor de uma linguagem, seja ela contemporânea seja clássica;, enfatiza Carla, aos 52 anos.



Esmiuçar a trama do presidente ;mais importante da história do país e uma pessoa totalmente controvertida; animou a porção produtora de Carla Camurati, dada a intenção milimétrica de restaurar dados importante do país. ;Veja o tempo que se leva para a construção de um filme com essa musculatura! O tempo de pesquisa, de revisão de tratamento de roteiro. No meio do processo, restaurei o Theatro Municipal, o João Jardim fez o longa Amor e a série Novas famílias (GNT). É uma construção delicada e especial;, avalia, em entrevista ao Correio.

Perfil historiadora

Meu interesse por história vem desde pequena. Na escola, era o que mais me interessava. Pela minha curiosidade com o mundo, gosto de entender a formação dos fatos. Um dos grandes problemas do Brasil é a relação de fragilidade que ele tem consigo mesmo. Seja na vida política do país, seja no âmbito da cultura. Se você for ver, metade da população não sabe quem foram os grandes escritores brasileiros, quem foram os mais talentosos compositores. Isso é uma falha que a gente tem e que prejudica o país. Daí, minha preocupação de sempre juntar entretenimento com conhecimento nas coisas que faço. São elementos que devem andar juntos. Você não precisa se divertir com coisas necessariamente bobas e fugazes. Há diversão nas coisas interessantes. A relação com a cultura está na esfera da emoção: bom é o que te emociona, aquilo que toca a alma.

Entrevista com Carla Camurati

Como foi o reencontro dos eternos Pardal (Tony Ramos) e Bebel (que você interpretou, nos anos 80), da novela da Globo, no bastidores do novo longa-metragem? Em que Tony acrescenta, enquanto intérprete do Getúlio Vargas nas telas?

Na tevê, nós fizemos Livre para voar, juntos e nos divertíamos muito. Para um personagem como o Getúlio, é preciso ter força, empatia e carisma. Tudo isso, ainda compondo, nunca sendo caricato. Tony Ramos é um ator surpreendente. Gostaria de fazer até uma exposição sobre a maneira com que ele estuda cada roteiro, cada personagem. No roteiro, Tony sublinha cada palavra separa os fonemas da maneira que dirá. O grau de concentração e a dedicação dele impressionam. Trabalhar com ele é delicioso: não é mau humorado, estressado ou desagradável no set ; ele está sempre numa relação de alegria de trabalhar. E isso não tem preço.

Você, de certa forma, é uma educadora, ao ser formadora de opiniões infantis, estando à frente da realização do Festival Internacional Infantil, não?

O festival é feito já há 12 anos. Então vemos gerações que eram crianças, viraram adolescentes, e que, agora, adultos, trazem até bebezinhos para as sessões. Tomei um susto, quando ouvi uma moça, na fila, me contar que trouxe o filhinho, "porque gostava de vir, quando eu era pequena" (risos). Hoje, fazemos algo muito diverso: temos sessões especiais que são muito importantes como a Pequeno Cientista ; é maravilhosa: tratamos da relação ciência, eu e cinema. A sessão é apresentada por um cientista e depois, no saguão do cinema, é feita uma exposição. O festival é um trabalho do qual me orgulho muito de ter dedicado tanto tempo.

Getúlio foi um ditador, em período anterior ao dos militares. Você viveu o fiapinho de ditadura no país. Chegou a ser censurada?

Eu nunca sofri nenhum tipo de censura em nada. Não faz parte da minha história de vida este momento do Brasil. Eu ainda não estava numa atividade intensa como a de hoje: nenhuma peça minha foi censurada. Nunca passei por isso. Na realidade, venho de um momento um pouquinho posterior àquele.

Certa vez você disse não apostar todas as fichas na beleza, dada como "cavalo perdedor". Segue linda, portanto, cabe a especulação da possível plástica;

Sigo com a ideia do cavalo perdedor, mas isso não quer dizer que não me cuide. Porém, claro, né: se você tem 20 anos, tem 20 anos! Você tem a idade que tem. Sábio é chegar na idade que tem, na melhor. Na realidade, nunca tive preconceito quanto à plástica ; mas, nunca pensei que precisava fazer para me equilibrar.

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