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Cantora Zizi Possi lança o álbum 'Tudo se transformou'; confira

Novo trabalho da cantora também traz canção inédita de Necka Ayala

Ailton Magioli , Estado de Minas
postado em 05/05/2014 10:15
Novo trabalho da cantora também traz canção inédita de Necka Ayala
Foi no fim da década de 1980 que Zizi Possi deu a guinada que a transformaria em uma das maiores intérpretes da MPB, alternando discos de repertório eclético (;Estrebucha baby;, o insuperável ;Sobre todas as coisas;, ;Valsa brasileira;, ;Mais simples;, ;Puro prazer;) e temáticos (os italianos ;Per amore; e ;Passione;, ;Bossa; e ;Para inglês ver e ouvir;). No primeiro estilo, ela acaba de lançar ;Tudo se transformou;, resultado do show homônimo que Belo Horizonte já assistiu, em que ela reúne clássicos da MPB em releituras irrepreensíveis.

A começar da música-título, de Paulinho da Viola, que o Brasil provavelmente conhecia na versão de Caetano Veloso. Dona de timbre de voz agudo, límpido, e personalidade forte, Zizi imprime à canção o sabor da novidade, o que também faz, aliás, com a célebre ;Disparada;, de Geraldo Vandré e Théo de Barros. O processo de trabalho, como esclarece, ocorre naturalmente. ;Depende de como estou e do que tenho para dar ao público, além do próprio ambiente;, diz a cantora.

Assustada com o ritmo das mudanças nas últimas décadas, ela lembra que tudo se transformou, literalmente, levando-a, inclusive, a sentir uma inadequação ao novo. ;Assusta-me, às vezes;, confessa, lembrando de valores como não roubar, não enganar ninguém e coisas parecidas, que o pai lhe ensinou, hoje são atitudes, digamos, normais. ;Hoje, com 58 anos, não tenho nada contra o mundo, mas também nada a favor;, desabafa Zizi Possi, preocupada com a impunidade ;avassaladora;.

Daí o fato de estar se sentindo deslocada. ;Aí é que a música bate;, deduz, consciente de que a escolha de repertório passa por tudo isto. Em turnê de lançamento do novo CD, ela garante que tem procurado ouvir novidades para, quem sabe, fazer um novo ;Estrebucha baby;, de 1989. ;Mas está difícil;, admite, salientando a importância da presença do violonista mineiro Rogerio Delayon em sua atual banda.

;Ele é bastante antenado e tem me trazido o trabalho de muitos jovens compositores de Minas Gerais. Ouvi o Vander Lee, também. Tem muita coisa linda;, avalia a intérprete, para quem é chegado o momento do fim da trégua. ;Estou com necessidade de fazer algo como aquilo que vinha realizando no fim dos anos 1980;, reforça o desejo de um novo ;Estrebucha baby;, em que gravou Jean e Paulo Garfunkel, Dalto e Herbert Vianna, além de versões de Ronaldo Bastos e Nelson Motta.

NOITE DE LUA Única canção inédita de ;Tudo se transformou;, ;No vento;, de Necka Ayala, foi escolhida depois de a cantora receber um disco da artista gaúcha, que lhe chamou a atenção não só pela poesia, ;bem-estruturada e bonita;, mas também por se tratar de algo harmonicamente resolvido. ;É extremamente simples e objetiva;, elogia ;No vento;. Já a presença de clássicos como ;Disparada;, recorda Zizi, remonta a um passeio de moto que ela teria feito com o então segundo marido à Serra da Bocaina.

;A noite era enluarada e comecei a cantar, enquanto ;Disparada; foi-se mostrando para mim;, lembra Zizi, que, depois de um registro da canção à base de voz e piano, no disco ;Puro prazer;, volta a gravá-la, agora em companhia de banda. Itamar Assumpção e Paulo Leminski assinam ;Santa Maria;, que abre o disco, enquanto Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown são os autores de ;Sem você;, que o encerra. À frente da banda que acompanha Zizi o maestro Jether Grotti.

Crítica - Para conhecer Zizi

Kiko Ferreira

;Tudo se transformou;, o samba de Paulinho da Viola, dá nome ao mais recente disco de Zizi Possi. Quem acompanha a música popular brasileira sabe que Zizi é uma cantora sofisticada, que soube, durante três décadas e vários álbuns, administrar um ecletismo saudável que ia de discos de trilhas de novelas a releituras de malditos como Jorge Mautner e Sérgio Sampaio.

Mas, num tempo em que a chamada MPB anda cada vez mais distante, das rádios, dos acervos digitais armazenados em dispositivos variados e até da imprensa, quem, efetivamente sabe quem é Zizi Possi? Os jovens ouvidos que ainda têm curiosidade sobre o que vai além de funks e ritmos adotados por universitários em baladas, podem começar por ;Tudo se transformou; a conhecer as várias facetas de uma cantora e intérprete eclética. Mesmo que o termo esteja surrado e fora de moda.

Gravado ao vivo no Tom Jaz, em São Paulo, em 18 de agosto de 2012, o álbum traz a cantora relendo algumas de suas características e sucessos sem muita (re)invenção. Acompanhada por Jether Grotti Jr. (piano, tamborim, clarinete, vozes, regência), Keco Brandão (teclados, vozes), Webster Santos (violão, bandolim, guitarra, voz) e Luiz Guello (percussão, bateria), ela baseia o repertório em temas já testados e consagrados por seu público.

Alguns discos emblemáticos são lembrados na seleção. Do elogiado LP ;Pedaço de mim;, de 1979, vem ;Morena dos olhos d;água;, de Chico Buarque. O Gonzaguinha de ;Explode coração; saiu do álbum ;Mais simples;, de 1996. E sua pungente releitura de ;Disparada;, de Vandré e Théo de Barros, foi destaque do disco ;Puro prazer;, de 1999. O romantismo de ;Contrato de separação; (Dominguinhos e Anastácia) e ;Meu mundo e nada mais; (Guilherme Arantes) ajudam a compor o mosaico, vitaminado com a bela faixa-título.

Além dos clássicos, o álbum traz medley com ;Porta estandarte;, de Vandré e Fernando Lona, uma balada da própria Zizi com o letrista Dudu Falcão (;Cacos de amor;) e a tribalista ;Sem você;, de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. E ainda tem a inédita ;No vento;, de Necka Ayala, teste para o poder dramático da cantora, que passa com nota 10. Com louvor.

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